Passei o ano passado inteiro procurando a minha Bagagem, preciosa primeira edição autografada por ela, a mineira desdobrável, que procura sol porque é bicho de corpo e que não entende o que as cigarras gritam, mas sabe que é pura esperança.
Eu procurava e não achava, porque temos esse troço de números redondos para comemorar as efemérides, então eu queria dizer 'Nos 40 anos de Adélia' etc. Só fui achar ontem, soterrado sob a pilha de rock progressivo sueco, mas respirando bem e fácil.
Gosto tanto deste quando do seguinte, O Coração Disparado, para mim os do coração. Não digo disparados que também gosto de outros, mas é neste, por exemplo, que encontro "Módulo de Verão" (que rasurei aqui), "Amor Violeta" e "Impressionista" (idem aqui).
Em seu prefácio, Margarida Salomão nos fala de uma "poesia brutal, maravilhosa e surpreendente". Exato. Em 1976, a poesia brasileira estava meio raquítica, embora encontrasse alguma sobrevida nos mimeógrafos. Foi preciso uma atitude meio Rimbaud: dar um pontapé na musa hiperadornada. Com o tempo, legião de gente quis escrever como Adélia, o que me lembra o chato do Mia Couto tentando escrever como Rosa. Até Adélia quis, depois. Aqui, não. Aqui é tudo susto e assombro, bruto e maravilhoso.
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