Friday, July 31, 2015

Gozando Junto XXII :: Uruguai II - Montevideo



Continuação do post anterior (aqui), com as mesmas ressalvas.








Gozando Junto XXI ::: Uruguai I - Colonia del Sacramento



Não fiz tantos registros como, por exemplo, em Istambul (ver aqui), quando tive tantas fotos que tive que desdobrar em três postagens. Mas não por falta de motivos. Dois minutos na Calle de Los Suspiros já poderiam dar ao gozador dezenas de fotos. Sigh. Enfim, não há tantas, pero ainda assim dividi entre a capital e a belezinha que é Colonia del Sacramento, de onde inclusive vem a foto de abertura que julgo ser das melhores ever. E não faltou da dita Calle.






Thursday, July 30, 2015

Instruções para dar corda ao relógio, por Cortázar



Algumas considerações acerca do texto "Preámbulo a las instrucciones para dar cuerda al reloj" e da sua leitura pelo próprio Cortázar:

1) engraçado (rarrá e esquisito) como o texto continua atualíssimo, desde que se troque a palavra relógio pela celular:

2) ótimo ouvi-lo, não apenas pelo rara oportunidade de travar contato com seu sotaque porteño, mas por sua ênfase sem afetação.

3) que o texto pudesse se desdobrar desde que se trocasse sua palavra mais importante fora já descoberto por uma agência publicitária espanhola nos anos 80, que o utilizou, com a voz do autor!, para vender um novo modelo de carro, o Seat León.

Seguem abaixo o texto, a leitura do cronópio e o comercial do carro.


Preambulo a las instrucciones para dar cuerda al reloj 

Piensa en esto: cuando te regalan un reloj te regalan un pequeño infierno florido, una cadena de rosas, un calabozo de aire. No te dan solamente el reloj, que los cumplas muy felices, y esperamos que te dure porque es de buena marca, suizo con ancora de rubíes; no te regalan solamente ese menudo picapedrero que te ataras a la muñeca y pasearas contigo. Te regalan (no lo saben, lo terrible es que no lo saben), te regalan un nuevo pedazo fragil y precario de tí mismo, algo que es tuyo, pero no es tu cuerpo, que hay que atar a tu cuerpo con su correa como un bracito desesperado colgandose de tu muñeca. Te regalan la necesidad de darle cuerda todos lo días, la obligación de darle cuerda para que siga siendo un reloj; te regalan la obsesión de atender a la hora exacta en las vitrinas de las joyerías, en el anuncio por la radio, en el servicio telefónico. Te regalan el miedo de perderlo, de que te lo roben, de que se te caiga al suelo y se te rompa. Te regalan su marca, y la seguridad de que es una marca mejor que las otras, te regalan la tendencia a comparar tu reloj con los demas relojes. No te regalan un reloj, tu eres el regalado, a tí te ofrecen para el cumpleaños del reloj.




Wednesday, July 29, 2015

Crónicas Uruguayas IIII ::: Velhos Bares de Montevideo II



Apenas mais fotos. O texto está no post anterior, aqui.

Creio que a pronúncia do Bar Beatles seja /beatlis/. O Pingüinos situa-se no Mercado Central, que se modernizou todo com os pesos das parrilhadas. O Pingüinos continua como sempre foi e nele não há parrilha. Nem turistas. A foto está ruim, mas tirei-a pensando em mostrá-la à minha mãe, que sempre chamou o Dante de pinguim... Não deu tempo. *Sigh. O Brasilero, conforme expliquei no texto, foge um pouco ao propósito, mas vale ilustrar.

Beatles

Beatles

Beatles

Beatles

Beatles

Beatles

Beatles


Tasende

Pingüinos

Brasilero

Crónicas Uruguayas III ::: Velhos Bares de Montevideo



Eu já havia lido algo assim, que na capital uruguaia muitos bares estavam preservados não propriamente por uma consciência de patrimônio de seus donos, mas tão-somente porque estes nunca tiveram grana para empreender reformas.

Faz sentido. O próprio Nava, quando tornou-se diretor do SPHAN, percebeu que o proprietário de uma casinha antiga presto substituía as janelas de madeira pelo alumínio tão logo tivesse finanças para isso. E não é? E o próprio escriba deste blog insignificante pouco encontrou de realmente significativo na capital paulista (estamos falando de botequins!, mesmo assim ver aqui, por exemplo) pelo simples fato de a capital paulista ser mais rica que o Rio. Por aqui, a maior parte dos meus achados não se situa na Zona Sul e mesmo nos subúrbios é uma corrida contra o tempo.

Voltemos a Montevideo.

Lá encontrei balcões de mármore, mesas e cadeiras de fórmica, madeira e mármore, geladeiras de madeira, pisos de azulejo hidráulico, pés direitos a rivalizar com o Aconcágua, tudo assim, no centro da cidade, a mancheias. E nem falo do Cafe Brasilero, de 1877, o mais antigo em funcionamento, que este, muito bonito e bem conservado, é um point turístico...sobretudo para... brasileiros (plé). Falo de botequins nada turísticos, pé-sujos onde os macróbios lentamente vertem seus blendados que em suas veias se misturam às águas do Letes.

Disse blendados? Sim, notável que a bebida dileta dos frequentadores não seja cerveja ou vinho, pero whisky! Nenhum single malt, claro, mas notável de qualquer modo... Uma dose de um blendado sai por volta de uns 40 pesos, ao passo que uma pilsen local pequeña sai por 80. Explicado?

By the way, essa história de a galera beber whisky nos botequins bem que me lembrou Goa....

Iberia

Iberia

Iberia

Iberia

Iberia

Cocktail

Cocktail

Cocktail

Cocktail

Cocktail

Teu sorriso este animalzinho frágil


y la sonrisa, ese animalito furtivo
julio cortázar

teu sorriso este animalzinho frágil
e franco com que vestes os teus gestos
um certo jeito de encostar o rosto
na epiderme arenosa desta tarde
um certo jeito de esquecer a mão
em minha coxa como que perdida
um certo jeito de ocupar a casa
com teu cheiro que é indomado e escuro
e quando o céu se faz tingido de
escarlate chegar-se num sussurro
você de novo de ouvido em pé
procurando as cigarras prematuras
teus certos jeitos sempre acompanhados
de lhano animalzinho :: teu sorriso

Tuesday, July 28, 2015

Crónicas Uruguayas II :: O Fantasma de Alcides




Tenha Ghiggia morrido em um 16 de julho foi grande coincidência, pois este foi exatamente o dia do Maracanazo de 1950. Isso tenha acontecido um dia antes de eu chegar ao Uruguai foi também um acaso interessante, lembrando que dediquei alguns dias do semestre passado para ler sobre a histórica final de 1950 (Anatomia de uma Derrota, de Paulo Perdigão) e sobre a vida do Barbosa (Queimando as Traves de 50, de Bruno Freitas). Os nomes de Barbosa e Ghiggia para sempre associados. Envolvi-me com a história ao ponto de ter ido a Ramos duas vezes para procurar a casa onde morou o goleiro do Vasco. Encontrei-a, conforme se lê neste post aqui.

A morte de Ghiggia foi recebida como a de um herói nacional. Natural em um pequeno país louco por futebol que tenha ruas e avenidas chamadas Obdulio Varela, o capitão do time.

Porém a coincidência maior foi que, poucos dias depois, Uruguai e Brasil se enfrentaram em uma partida de futebol válida pelo Pan em Toronto. Sim, a Celeste venceu. Por 2 a 1. De virada. E o segundo gol foi MUITO parecido com o segundo gol do Maracanazo marcado por um Alcides Gigghia, então um jovem de 23 anos.

Impossível não acreditar em gigghias... Porque que los hay los hay.



Linda camisa do Danubio, de Montevidéu, onde ele encerrou a carreira

PS realmente escrito después: A diferença é que, neste gol do Pan, não havia ninguém entrando pelo meio, de modo que a dúvida que torturou Barbosa (vai cruzar ou chutar?) não pode ter existido...

Monday, July 27, 2015

Crónicas Uruguayas I :: Hotel Cervantes (aka Esplendor aka Cortázar)



Em Montevidéu nos hospedamos no Hotel Cervantes, e não apenas pela excelente localização, na Calle Soriano, a rua do Baar Fun Fun, ao pé da entrada do centro antigo e da 18 de Julio. Disse Julio? Pois. Neste hotel, que hoje se chama Esplendor e é parte de uma pequena rede sul-americana, hospedou-se Julio Cortázar, em 1954, quando então trabalhava como tradutor e revisor em uma conferência da Unesco. O próprio Julio relata numa de suas extensas conversas com Omar Prego Gadea::

Para mim [o hotel] tipificava um pouco muitas coisas de Montevidéu. (...) Não sei quem me recomendou o hotel Cervantes, onde, de fato, havia um quartinho pequeno, mas não me importava, porque eu passava o dia todo na Unesco e só queria o quarto para dormir e ler. Um quarto que (curioso: agora, que o digo, soava como uma profecia) parecia uma cela, a cela de uma prisão. Porque, com a cama, uma mesa e um grande armário que tapava uma porta bloqueada, o espaço que sobrava para me mexer era mínimo. (...) Para mim tinha grandes vantagens. Era um hotel profundamente silencioso, porque naquele momento não havia ninguém ou havia muito pouca gente.

Cortázar imortalizou o espaço aproveitando-o como cenário do conto "A porta interditada", de Final do Jogo, aliás escrito enquanto o escritor esteve hospedado nele. O hotel felizmente lembra disso, tendo impresso as palavras da narrativa na parede da antiga entrada e também denominando o seu espaço de leitura, na recepção, de Espaço Julio Cortázar.






PS: Borges, sempre que ia à capital uruguaia, também se hospedava ali. Não é pouco, uh?