Saturday, September 30, 2017

Azulejos :: Cerâmica Brasileira / Irmãos Silva

Benfica


Meu colega de blog e de amor ao Rio Ivo Korytowski, editor do ótimo Literatura e Rio de Janeiro, publicou recentemente no facebook postagem sobre azulejos de Vista Alegre. Dos seis ou sete painéis, dois eram assinados, sendo que um deles era dos Irmãos Silva, que trabalhavam para / em uma Cerâmica Brasileira, localizada na Rua Buenos Aires, 85.

Mexendo nos meus álbuns por aqui, descobri ter três registros dos Silva.

O de Benfica vem assinado apenas Silva, mas por ora está valendo. O do Estácio foi dureza fotografar, tantos olhares desconfiados atrás de mim. Os de Paquetá são especiais: quatro pequenos painéis quadrados, quatro azulejos cada, emoldurando a porta. Em que pese contumaz preferência por paisagens alpinas e orientalistas, temos aqui o Dedo de Deus.

Estácio

Paquetá








Crônicas Siamesas X : Massagem por (ex-) presidiárias



Ir à Tailândia e não fazer massagem pelo menos uma única vez é como ir a Santiago de Compostela e não entrar na catedral ou ir a Roma e não ver o Chico ou, pior, ir a Milho Verde e não se abandonar por horas em frente da Nossa Senhora dos Prazeres fazendo absolutamente nada.

Inescapável, a massagem está por toda a parte.

Mais ainda em Chiag Mai, onde é feita por presidiárias. A procura é grande e não aceitam reservas: é chegar e esperar, quiçá por horas. Como a casa é, de certo modo, uma 'extensão' do presídio, é comum esbarrar com policiais armados, mas isso não parece inibir a galera.

Como não conseguimos massagem ali, andamos nossos cem metros para um outro centro, onde a massagem é feita por ex-presidiárias. Hora marcada, dá para visitar templos e tribos e depois entregar o corpo àquelas mãos experientes. Assim como a ayurvédica, a coisa aqui não é pra relaxar, não. Ou não para relaxar. Houve momentos em que, suando frio, fiquei me perguntando o que teria levado a minha massagista à prisão (teria estrangulado o marido?). De um a dez, nota dez.




Friday, September 29, 2017

Comendo Formigas (parte III) : Restaurante do Ocílio



O pai, os avós e os bisavós de Ocílio José Azevedo Ferraz fizeram a vida em lombo de burro, tornando-o pesquisador e entusiasta da cultura dos tropeiros. O restaurante foi aberto em 1988. Ocílio encantou-se ano passado, perto dos 80, mas o restaurante resiste.

Verdade que nós (e grande parte da torcida Caçapava F.C.) chegamos até lá atraídos pelas tanajuras, hoje servidas numa ótima farofa, mas como nem só de formiga vive o homem, depois de duas travessas vale a pena examinar o cardápio, enxuto e caprichado, com verdadeiros patrimônios da culinária tropeira, como o Frango à Moda dos Moreiras, a ave frita no açúcar queimado com ervas, o franco caipira da Bocaina, a carne com pinhão, a paleta de cordeiro, o leitão à pururuca e a vaca atolada. Se é pra fritar, usam banha. Fomos de Moreiras, acompanhado ainda de formigas e a correta cerveja artesanal também chamada Içá.

Depois a gente quer uma rede e um gato macio pra passar a mão. Uns galos doidos anunciam o fim da tarde.

Uma menina linda sobe no tacho, sob bandeira imperial. Uns galos doidos anunciam o fim da tarde. Logo a papa-ceia desponta e a gente só pensa em voltar para assim ir ticando todos os itens do cardápio.






















PS: Todas as fotos em pb, excetuando-se as duas últimas, são do Eric Licen.

Wednesday, September 27, 2017

Comendo Formigas (parte II) ou Tamanduá por um Dia



Índio sempre comeu formiga, formiga crua, de que se retiravam pernas, asas, ferrões. Com a chegada dos invasores, incrementaram a bichinha com fritura, sal e alho. Com a farinha de mandioca nascia a farofa de formiga.

Paulista também sempre comeu, daí a alcunha 'papa-formiga'. Couto de Magalhães recorda que se comia a tanajura nas melhores famílias, vendida em tabuleiros pelas ruas. Em decassílabos perfeitos, um jovem poeta fixou o hábito: "Comendo içá, comendo cambuquira / Vive a afamada gente paulista".

Depois veio a vergonha, entre os índios (que também devoram piolhos) e a pauliceia em geral. Pena.

Em Silveiras, cidade da Mantiqueira, ainda se come formiga a rodo. No Restaurante do Ocílio, um daqueles bens (i)materiais que merecia tombamento eterno, a içá resume-se hoje a uma farofa, tão simples quanto portentosa. Vale a viagem, de qualquer ponto do Brasil e do mundo.

Não bastasse, desenvolveram ainda uma breja artesanal -- de nome Içá, por óbvio -- para acompanhar. Não sei se a receita leva, junto ao lúpulo, malte e levedura, bundinhas das bichinhas. Não é impossível.

Vivi meu dia de tamanduá. Vivemos, eu, Eric, Carla.

Esta postagem continua estoutra aqui. Em breve, outra só falando do restaurante.


A boca cheia de formiga

Sunday, September 24, 2017

Espero morrer antes de ficar velho (aos 72 anos)



Muitos poderiam maldar: Pete e Roger não cantaram "Hope I die before I get old" (aqui)? Como que então chegam assim aos 70 e, pior, repetindo o verso? John, que partiu aos 57, teria sido mais honesto; Keith, Ícaro doido, mais ainda, ao partir aos 32.

Bobagem. "Cuando se es jóven se es jóven para toda la vida", já ensinou o velho (opa!) de Málaga.

A propósito: no primeiro disco solo de um membro do The Who, Smash your head against the wall (1971), John Entwistle mostrava já saber disso na canção "Eternal Youth" (inda que da sua contumaz maneira sarcástica).

Uma pequena joia.

A não perder o trabalho de percussão no final (bongos!) que alguns creditam ao Keith Moon.

Saturday, September 23, 2017

The Who e a Boca Cheia de Formigas



Na quinta-feira dia 21 de setembro de 2017, primavera chegando, realizei sonho acalentado por 37 anos: assisti ao The Who ao vivo. Era mesmo de todo inadmissível inacreditável que nunca houvessem tocado no Brasil, para efeitos de comparação justa, pense-se em quantas vezes Paul, em quantas vezes Rolling Stones já não tocaram por aqui.

Qual velho timbira (coberto de glória), posso dizer prudente: "Meninos, eu vi!".

Pensando que meu coração talvez não fosse aguentar, fui ao cardiologista três dias antes. Deu tudo ok. Pensei que fosse ajoelhar e chorar, mas chorei de pé mesmo.

No entanto, não é que no dia seguinte, já não estava eu com a boca cheia de formigas?

Não era sonho acalentado por tanto tempo. Mas que eu andava atrás das bichinhas, isso andava.

(Em breve a parte II)


Farofa de içá. Ainda melhor com cerveja Içá

Wednesday, September 20, 2017

Cosmic Dancer












Como não amar
a música que o T. Rex fez para o Dante em 1971?

I was dancing when I was eight
Is it strange to dance so late

Is it wrong to understand
The fear that dwells inside a man
What's it like to be a loon
I liken it to a ballon

I danced myself out of the womb
Is it strange to dance so soon
I danced myself out of the womb





Tuesday, September 19, 2017

WHO ARE YOU



"Who are you" é a única música do The Who que ouvi tocar em rádio em sua época e não se tratava de programa dedicado ao rock, a música tocava na grade normal. Saiu no disco homônimo de 78 e era a segunda vez que a banda usava o seu nome para compor, com maestria, um título. A primeira vez fora há sete anos: Who's next, também sem o ponto de interrogação (assim como a música do Sabbath).

Mas disco e música serão sempre lembrados por serem os últimos com o Keith, que na capa senta, vestido de jockey (podia ser bobo da corte, podia ser hitler, podia ser mergulhador, dependia de como acordasse), em uma cadeira onde se lê: NOT TO BE TAKEN AWAY.

Bastante irônico que uma canção que trate de um encontro de Pete com os Sex Pistols seja uma das mais progressivas da banda, pela duração, pelos teclados, pela mudanças de tempo.

Roger coloca a palavra "fuck" na letra como caco e a emenda fica melhor que o soneto. Ele já fazia isso em "My Generation", em que a letra pedia "Why don't you all fade away?" e ele perguntava, instead, "Why don't you all fuck off?". Nos Estados Unidos, Kim Kataguiri e o MBL trocaram o fuck por hell. Fuck.

Fuck.

O vídeo (inda que levemente editado em relação à versão do álbum) é lindo, um testamento eterno do The Who e, claro, em especial do Keith, falastrão, TDAH, irrequieto, criativo.

Nenhuma banda de rock brigou tanto, com direito a nocautes nada metafóricos. Nenhuma banda de rock viu-se forçada a ser democrática porque simplesmente não concordavam em nada. E, no entanto, nenhuma banda de rock ficou tanto tempo junta em sua formação original. E aqui no vídeo sorriem uns para os outros. Não é só que estavam sendo filmados. Dá pra sentir o carinho.

Eu morava aqui, fácil