Monday, April 27, 2015

As Panelas de Barro de Goiabeiras



Ir a Roma e não ver o papa, tudo bem, eu mesmo algumas vezes. Se bem que, agora com o ótimo Francisco, já muda de figura. Mas de volta ao assunto :: ir a Roma e não ver o papa passa, ir a Vitória e não trazer panela de barro é pecado venial.

Como sabemos, são os capixabas orgulhosos de suas moquecas que, ao contrário das rivais (não para mim) baianas, não levam dendê nem leite de coco. Essas moquecas só podem ser feitas em panelas de barro e essas panelas só podem ser as feitas pelas paneleiras de Goiabeiras com a argila que só pode ser a econtrada no Vale do Mulembá, no bairro de Joana D'Arc.  Está certo, terroir é isso, viaja-se para isso. Em Vitória, pode-se adquirir uma dessas panelas autênticas de duas maneiras. A mais simples consiste em ir na cooperativa das paneleiras, enquanto a outra te faz deambular pelo bairro mesmo de Goiabeiras conversando aqui e ali, atrás de sinais que nos levem a quintais onde se modelem as panelas à mão e se as queimem ao ar livre no chão.

Escusado dizer a maneira que escolhi.

O IPHAN reconheceu as panelas como patrimônio imaterial brasileiro, na verdade elas foram o primeiro reconhecimento dessa natureza da parte do Patrimônio.

Bem, cá entre nós, até entendo que o modo de fazer o queijo do Serro, bem como o modo de fazer a renda irlandesa em Sergipe, bem como o sotaque de Mooca sejam patrimônios imateriais. Mas as panelas de barro? Deixa ela escorregar no teu pé pra ver. =)

 




Sunday, April 26, 2015

InstaVitória



Voltamos hoje desta que é uma das capitais menos faladas deste que é um dos estados menos falados da federação :: Vitória-ES. Nosso objetivo-mor não era outro senão provar das moquecas capixabas, mas entre uma moqueca e outra sempre sobra um tempinho para uns registros.












Dois Paineis Azulejares de Caldos de Cana em Vitória



Encontrei ano passado um painel azulejar em um caldo de cana em Madureira, o que me faz crer, decerto algo precipitadamente, que era comum que estabelecimentos desta natureza tivessem paineis assim. Algo como "da plantação ao seu copo". Com efeito, ainda nesta filosofia encontra-se o ótimo painel da Pastelaria Chic's, no Saara, que serve soberbas laranjadas açucaradas (relatei aqui).

Os de Vitória vieram em boa hora. Eu estava mal-humorado depois de voltar de Vila Velha em pé no ônibus, de modo que disse à Camila quando avistei a escadaria Maria Ortiz: "Vamos subir, quem sabe lá em cima não encontramos um botequim com pintura ou com um grande painel de azulejos". Isso. No topo atopamos com o Kaiana's Bar, com seu painel de 156 peças de 1979. O dono informou-me ser Renata a pintora, já falecida. O bar nem serve mais caldo de cana. Ele tem grande apreço pelo painel e jurou que, pudesse, tirava da frente a feiosa geladeira que o obstrui.

Foi deste gentil dono que obtive a indicação do Garapa do Brasil, abaixo das escadas. Ainda um caldo de cana, apresenta um painel horizontal de 200 azulejos em notável estado de conservação. O canto direito traz a assinatura e a data: L. Colnago Soares, 1967.

Kaiana's Bar



Garapa do Brasil






Bar e Caldo de Cana Mostero :: Madureira

Wednesday, April 22, 2015

Comida di Buteco 2015 ::: Avaliação Parcial

Pontapé


Também eu quis meter o pau, descer o malho, esculachar com o Comida di Buteco deste ano e talvez de todos os anos, como andaram fazendo sabichões por aí.

Não foi com outra intenção que comprei o jornal para ler na barca naquela sexta-feira dia 10 de abril. Como previ, lá estava o suplemento especial. Lá estava o tema :: frutas! Lá estava o patrocinador Chandon!! Lá estava a Rede Globo!!! Pronto, era moleza esculachar essa gentrificação do botequim, esses raios gourmetizadores desses imbecis que nunca pisaram num botequim do Santo Cristo, que não sabem o que são cobogós, que nunca ouviram falar em Nilton Bravo!

Mas aí comecei a ler a descrição dos pratos e logo estava aguando como um cachorro. Não tenho culpa de ser fraco. Cheguei em casa, brandindo feliz o jornal, "Amorzinho, escolhe um e vamos ligeiro!". Logo pousávamos no miúdo e simpatiquíssimo Bar do Momo, abrindo os trabalhos e o festival com "O Bêbado e o Equilibrista" (very appropriate), um sanduíche de pernil desfiado em seu molho, maionese defumada, picles de carambola na baguete de leite com o acompanhamento de geleia de pimenta e batidinha de maracujá. Evoé, Momo.

Na noite seguinte recebemos amigos no Enchendo Linguiça, para as Bochechas Amigas, bochechas suínas marinadas com um toque alaranjado e servidas com migas. Quatro dias depois comemorávamos os 51 anos do Rixa no Bar Palhinha, devorando muy educadamente croquetes de batata baroa recheadas de quejio brie ao molho de frutas frescas e geleia de pimenta. Antes de três luas já estávamos Rixa e eu no Pontapé Beach, na Ilha do Governador para comer a Luz del Fuego, uma porção de ovos abertos recheados com bacalhau e camarão, servidos com molho de frutas, e no Bar do Camarão, para checar qual era a dos kibes suínos recheados de queijo e bacon, com a devida geleia de laranja.

Hoje Camila e eu fomos ao vencedor do ano passado, o Bar da Frente, assistir ao Caprichoso Garantido, um bolinho de massa cremosa de milho recheado com camarão e queijo e com a bela companhia de um belo molho de taperebá. E ainda tivemos estômagos para andarmos sob a chuva até o Mani & Oca, só para ver essa história de amor de Lampião e Maria Bonita, dois escondidinhos: um de graviola, carne seca e queijo coalho e o outro de porquinho, mandioca e leite de coco polvilhado com amendoim.

Avaliação Imparcial :::

Mais gostosos :: O Bêbado e a Equilibrista (principalmente esta) e o Caprichoso Garantido
Outra gostosa :: a Luz del Fuego (fueda)
Mais pornográfico e melhor nome e melhor para ser comido antes da jaca :: Bochechas Amigas

Frente

Camarão

Bochechas

Cangaceiros

Evoé

ler acima

As Casas de Madeira do Caju



Este não é ainda o post definitivo sobre as curiosas casas de madeira do Caju, tema que me persegue há uns cinco anos. Hoje, voltando ao bairro, aventurei-me um pouco pela Quinta do Caju, comunidade que parece possuir alguns exemplares. Locais com quem conversei disseram que não há mais nada, mas as fotos já os desmentem. É se enfiar por lá, mas não sozinho, e procurar. Cumpre ir também ao Varal e à Vila Militar São Lázaro, onde estariam dois exemplares protegidos por tombamento.

A explicação para as casinhas de pinho de riga do Caju não é a mesma que levou o porquinho Heitor a fazer a sua do mesmo material. Não se trata de preguiça, mas de astúcia. Como as casas foram construídas em área militar, havendo portanto a possibilidade de os moradores serem convidados a se retirar a qualquer momento, optou-se pela madeira em detrimento da alvenaria. É uma história curiosa, que cumpre aprofundar.




Azulejos Hidráulicos no Cemitério do Carmo, Caju



A manhã talvez fosse chuvosa, e um enterro é sempre um enterro. Mas quando se tem a chance de flanar um pedaço em meio aos jazigos, descobre-se bela oferta de pisos de azulejos hidráulicos, em cores vivas a contrastar com o branco e preto e cinza de mármores e anjos tristes. Há mesmo um e outro de pastilhas. E há um curiosíssimo quase a lembrar a suástica.