Sunday, May 31, 2015

Já comeu a sua bochecha hoje?




Com o anúncio do campeão "Amoela qui nem jiló", do grajauense Santo Remédio, acabou-se o que era doce, digo, o festival Comida di Buteco 2015, comida passaporte para enfartos fulminantes. Curioso que o campeão haja sido justamente um dos petiscos mais criticados por intelectualoides de plantão, que caíram de pau na 'gentrificação' da moela e do jiló, este comida de passarinho, aquela petisco baixo-clero (in)digno dos botequins da Rua do Matoso. A verdade é que, até onde sei, não se juntara ainda moela, jiló e chutney de manga e o que fizeram, portanto, foi invenção e, como disse o padre Bartolomeu Lourenço a bordo de sua passarola, "Oh que maravilha é viver e inventar". Quem não gostou peça batata-frita.

Mas vim falar de um outro petisco concorrente, também grajauense, de nome igualmente original e que comi por duas vezes durante o festival :: as Bochechas Amigas, bochechas de porco com migas, do Enchendo Linguiça. Creio que este despertou ainda mais nojinho que a moela. Afinal, onde já se viu comer a bochecha do porco? Bem, para além do mérito de o petisco motivar as pessoas a provarem algo que lhes parecia repugnante, existe toda uma história para isso de comer bochecha e pé e orelha de porco, que Anthony Bourdain, Em Busca do Prato Perfeito (já citado aqui), explica muito bem ::

"Se não descobrissem [franceses e italianos] o que fazer com a cabeça do vitelo, os pés do porco, os caracóis, o pão velho e todos aqueles cortes baratos e aparas de carne, eles passariam fome, quebrariam, não teriam como usufruir do bom e do melhor em ocasiões especiais"

Mais adiante ::

"aprenderam a gostar de pés e focinho. Tinham conseguido achar algo de bom em cada pedacinho -- desde que bem preparado"

Claro que isso se aplica com exatidão ao que fazem os purtugas com o porco. Acrescento :: servir bochecha de suíno é altamente ecológico. Repugnante seria, por exemplo, matar o bicho para comer-lhe apenas as coxas.


velha estátua em Mirandela

Saturday, May 30, 2015

As Crianças do Vale do Capão



O Capão tem tantas crianças quanto tanino em suas águas. Os que vão subir a Fumaça precisam antes passar pela Isadora, que fala muito pouco e tudo observa. Isadora vive em meios aos travesseiros de macela de sua avó Helena, a que elazinha chama 'de marcela' (os travesseiros não a avó), mas faz manha mesmo é para que a vó lhe dê chocolate, quando fica mais quieta ainda.

A quase centenária capelinha é ponto de encontro das bicicletas, noite e dia, mesmo que o Brasil esteja levando surra da Alemanha.

No caminho da Purificação demos com Dito e Miguilim, em carne e osso. Dito falava pelos cotovelos, que trazia cobertos porque o sertão baiano sabe ser friinho nos meses que não levam a letra 'r'. Adivinhávamos o que diria Miguilim, o não-dito.

André foi nosso guia em Conceição dos Gatos, onde gosta muito de morar.











PS: Eu não subi a Fumaça. Preferi tentar conversar com a Isadora e comer pastel de jaca, conforme já relatei aqui ::



a Dona Helena faz pastel de jaca
com a mesma massa com que faz o pão
amassa os dentes da cansada faca
resgata a culinária do Capão
a Dona Helena mora na passagem
que leva os caminhantes pra Fumaça
adverte esperta à porta essa viagem
é muito longa desconheço raça
de gente que despreze um bom descanso
vem entra aqui demora um pedaço
que já te trago um pastel de jaca
vai ser do frito ou vai ser do assado?
Dois de cada :: e uma cerveja também
fique a Fumaça pra amanhã. Amém.



O guia André também já ganhara soneto :::


Pequeno André é guia do Capão
que conhece como não conhecemos
filigranas da nossa própria mão
do alto dos seus bem vividos dez anos
conhece a mata o rio o cheiro o chão
nos guia por veredas cor de luz
nos guia pelas águas cor de ferro
Pequeno André pequenos pés descalços
trilha os desmundos do Capão seus erros
suas astúcias tanto mais revelam
que o caminho ditado pelos mapas
enfim chegamos e eu me deito aqui
nesta pedra me deito à beira à borda
se eu dormir, deixa; se eu morrer, me acorda
 

Friday, May 29, 2015

InstaVila II



Em que pesem a verticalização e certa degradação, ainda um bairro de alguma poesia. O InstaVila I pode ser conferido aqui.











Azulejo de Botequim ::: A Combinação Preto-Branco

Café e Bar Escorquelense : Engenho da Rainha


Esta é uma combinação bastante rara, podendo ser equiparada à branco-roxo (aqui). Claro que me refiro a azulejos dos anos 50-60 e não a essas lajotas detestáveis que hoje infestam tudo. No Bar 105 Pontes a tonalidade confunde-se com um verde-cobalto, verde-vinho. Nem sei se esses azulejos ainda se encontram no bar, o Nilton Bravo de lá despareceu, por aí se imagina. Garanto que os do Café e Bar Escorquelense remanescem, pois estive por lá há pouco. Maravilha de pé-sujo maravilhosamente bem conservado, até com separação com cobogós entre bar e comedor (como há também no Amendoeira, em Maria da Graça, e no Tulipa dos Ventos, em São Cristóvão). Aliás, foi a descoberta do Escorquelense que motivou este post aqui.

Bar 105 Pontes : Maracanã


Bar 105 Pontes



Mariza's Bar :: Estácio

Café e Bar Colônia Ultramar ::: Copacabana

Escorquelense

Escorquelense

Escorquelense

Monday, May 25, 2015

Ser paparicado na Rua Papari ou Nem Toda Rua Há-de Se Chamar... pt. 5



O registro de ruas com nomes que fujam ao Dr. Sr. Sacanagildo da Silva Couto continua. A linda Travessa da Soledade fica na Praça da Bandeira, mas ninguém dá por isso. Capuena, Orquídea, Papari e Queimado situam-se em Bento Ribeiro, ao passo que Massiambu e Curimatã estão logo ali em Cascadura. 

A dúvida que tenho com um nome lindo como Curimatã é :: assim se chama porque por ali tinha muito peixe ou é um indianismo de "segundo grau" (como o Grajaú), isto é, para homenagear a já existente cidade do Piauí?

Na dúvida, fique sendo um dos meus sonhos de consumo para futuro longínquo :: morar na Rua Papari e ser paparicado à vontade.








Friday, May 22, 2015

Minhas Máscaras



Enfim penduro as minhas máscaras do Cariri e não sem susto descubro ser este muquifo o seu quinto lar. As minhas máscaras do Cariri, adquiridas em mítica viagem em janeiro de 1992. Morto, sozinho no Hades sem Caronte, Orfeu ou Virgílio, empreendi viagem a Fortaleza e, de lá, ao Cariri, de ônibus, de onde trouxe meus pequenos moais de semblantes indecifráveis.

De lá trouxe também pequena imagem de madeira, a quem batizei de Tatarana. Não sei por qual vereda se perdeu. As máscaras hieráticas e esfíngicas, verdadeiras monalisas, as retenho até hoje ou serão elas que a mim retêm.

Não sei ao certo seu sexo, se kouroi (κοῦρος) ou korai (κόρες), é provável que um e outro, uma e outro, um e outra.

Em suas passagens por Grajaú, Pendotiba, Ingá, Ingá e novamente Grajaú, viram já alguma coisa, é verdade, e por vezes terão arregalado inda mais seus olhos extáticos e decerto por outras terão querido fechá-los.

E hoje cá estão ao alcance dos meus olhos. Passados 23 anos, ainda um susto.


Thursday, May 21, 2015

Botequins de Cascadura



Não foi de caso pensado que explorei os botequins de Quintino (aqui e aqui), Madureira (aqui), Oswaldo Cruz, Bento Ribeiro e Marechal Hermes e pulei justamente Cascadura, aonde ia adolescente a "bailes" de rock no clube local, o Cascadura Tênis Clube. Não sei por que pulava Cascadura, bairro onde o botecólogo Rixa sonhava encontrar o Nilton Bravo dos seus sonhos.

Não encontrei o Nilton Bravo. Que com certeza por lá houve. Encontrei o Minuano, de letras antigas e decadentíssimo, onde taciturno trasmontano cisma em silêncio a derrota incomparável. Encontrei a simpática e viva Adega e Pastelaria Ribeirense, aonde voltarei para o bacalhau, e o Bar Caldo de Cana (sim, este o nome, em referência aos pinguços), em que o dono ocupa o espaço que foi do pai e avô. Encontrei o Bar do Marquinhos, onde não basta ser de todos os times (ver aqui), tem que ser das duas escolas, encontrei a Lanchonete Petit Flewr aka Bar Maré Mansa, com vetustas letras de acrílico e anos-setentíssimos azulejos no banheiro (lícito pensar que outrora ocuparam todo o botequim).

E olha que foi passeio curto.


Bar Minuano

Adega e Pastelaria Ribeirense

Adega e Pastelaria Ribeirense

Bar Caldo de Cana

Bar Caldo de Cana

Bar do Marquinhos

Lanchonete Petit Flewr aka Bar Maré Mansa

Lanchonete Petit Flewr aka Bar Maré Mansa