Friday, June 29, 2018

Crônicas Floripas I :: Ribeirão da Ilha


Por óbvio que não se pensa em Florianópolis quando o assunto é patrimônio histórico. Pois deveriam incluir na pauta.

Me lembro quando visitei Ribeirão da Ilha e Santo Antônio de Lisboa pela primeira vez, num distante  janeiro de 1995. Eu só lia coisas como 'arquitetura açoriana', 'herança açoriana', aí cheguei lá e pensei 'Ora, é o nosso bom e velho colonial'. Sim e não, porque há especificidades, daí a herança dos bilros.

E nem vou entrar no mérito da culinária aqui, nem falo do Ostradamus, das ostras e azulejos e Chardonnays do Ostradamus, que isso fica para outras postagens. Esta foi só para tirar as teias de aranha.













Wednesday, June 20, 2018

Lugares Distantes :: Andrew Solomon


Descobrir que Andrew Solomon tem livro novo -- com seus relatos de viagens -- é de fato um presente. E descoberta feita não numa tela de computador ou conversa, mas atopar com o lançamento na livraria. É de fato um presente.

Me inspira e constrange como Solomon produz tanto, um pouco como ouvir a Quinta de Schubert e lembrar que ele não tinha nem vinte anos. (E aquele Allegro.)

No sumário descobre-se que ele irá tratar da União Soviética, Rússia, China, África do Sul, Taiwan, Turquia, Zâmbia, Camboja, Mongólia, Afeganistão, Brasil (o capítulo se chama "Rio, cidade da esperança", devo pular para ele como fiz com o Longe da Árvore?), Gana e Romênia. Dentre outros.

Eu não tinha dúvida de que continuaria a viajar de qualquer forma, mas passei a me sentir duplamente justificado para explorar lugares cada vez mais distantes.

E pouco depois, ainda na introdução, narra vivência na Cidade da Guatemala, aonde fora pesquisar as gangues locais:

Achei-me no bairro pobre de La Limonada. Um senhor de idade com um rebanho de cabras aproximou-nos de nós. "Você com sede?", perguntou o delinquente juvenil que estava me mostrando as redondezas. Eu disse que sim, e o pastor ordenhou uma das cabras diretamente num grande copo de papel e entregou a mim. Nunca gostei tanto de uma bebida.

Monday, June 18, 2018

Fazer contigo o que junho / agosto faz com os ipês


Sem medo de cair no clichê: o paulistano é ele tão estressado e ansioso que em sua terra até os ipês-rosa florescem com dois meses de antecedência.

O que invalida poema que escrevi, há coisa de seis anos, inspirado num dos vinte poemas de amor do Neruda:

Fazer contigo
o que faz agosto com os ipês.

Com medo de cair no etnocentrismo, em agosto há mais consolo, que o mês é mais duro

Mas os de São Paulo eram soberbos

Acordamos cedo na manhã de domingo (até as padarias abriam sonolentas) e ouvimos num silencioso Pinheiros chuva improvável de flores

Ah, um Bashô ali









Sunday, June 17, 2018

Tardiamente Manfred Mann Apaixonado



Sou altamente influenciável ou, posto de outro modo, sou um bom ouvinte, se você chegar e me falar que o pianista tal é fabuloso, vou querer sim pesquisar, já com ouvidos favoráveis.

Só agradeço. Conheci tanta coisa boa assim.

Então por que raios quando conheci o Renato, em 1982, ambos na então oitava série (atual nono ano) do Marista Sâo José, e ele se despediu de mim no ponto de ônibus da Conde de Bonfim entrando na Gabriela para comprar um disco do Manfred Mann (dizendo 'Maior som'), eu não investi na banda?

Talvez eu tenha explicação. E só fui agora, 36 anos depois.

Estou tão fissurado que fiz já diversas postagens: aqui, aqui, esta, esta, aqui e outras virão.

Saturday, June 16, 2018

Lira dos Cinqüent'anos


Pensei várias coisas para o cinquentenário, não fechei nada. Única coisa certa é que na manhã do 25, uma segunda-feira, quero deixar o Dante na escola e depois tomar média com pão e manteiga na padaria do Verdun com a Camila.

Pensei rasurar os poemas do Bandeira de Lira dos Cinqüent'anos, mas quando vi que ali estavam os sonetos ingleses, desisti.

Tenho uma ligação muito forte com este livro do Manuel. Eu memorizava e recitei tanto "Pousa a Mão na Minha Testa" desde 1986, eu cito até hoje "Morte Absoluta" e "A Estrela", eu declamava bêbado na Praça Tiradentes "Ouro Preto", também em 1986, e escrevi gazéis. E algumas outras coisas.

VERSOS DE NATAL

Espelho, amigo verdadeiro,
Tu refletes as minhas rugas,
Os meus cabelos brancos,
Os meus olhos míopes e cansados.
Espelho, amigo verdadeiro,
Mestre do realismo exato e minucioso,
Obrigado, obrigado!

Wednesday, June 13, 2018

República de Pinheiros, SP


Temos Camila e eu uma ligação afetuosa com Pinheiros, que tão bem nos acolhia quando ela ainda morava em São Paulo. Mas teríamos mesmo se não fosse ali que ficássemos. Em Pinheiros está a melhor empanada chilena, bem, mas bem melhor que as do Chile e Uruguai. Em Pinheiros sebos deliciosos, como o Avalovara. Em Pinheiros, o paraíso da cerveja artesanal, com o Empório (parte das minhas cinzas quero-as aqui) e a Nacional. Em Pinheiros aqueles prédios de apartamento pequenos, três andares só, onde quem não moraria? Em Pinheiros, o melhor botequim de Sampa, o Cu do Padre, empata com o do Hugo no Itaim, que tão bem soube fazer adaptações sem conspurcar a alma.

Em Pinheiros os ipês florescem mais cedo












Réquiem para Radim Hladik



Na pequena cena progressiva tcheca / tcheco-eslovaca dos anos 70, reprimida por um daqueles odiosos governos 'comunistas' de então (bem, um mérito ao menos aqueles burocratas do estadão têm: não permitiam que se cantasse em inglês! =) ), sobressai fácil o Modry Efekt, com seu virtuoso Radim Hladik.

Já definido como uma mescla do melhor Akkerman com o melhor Santana, Hladik é capaz de uma sonzeira diabólica e um lirismo doce e terno. Ele tocava numa banda obscura da Europa Oriental. Fosse Inglaterra.... gente, quem seria Jeff Beck na fila do pão?

Por estes dias descobri que faleceu em 2016, aos 70.


Monday, June 11, 2018

Paranapi, então, também acaba?



Leminski escreveu "Amor", que é assim:

Amor, então,
também, acaba?
Não, que eu saiba.
O que eu sei
é que se transforma
numa matéria-prima
que a vida se encarrega
de transformar em raiva.
Ou em rima.

Que eu rasuro:

Paranapi, então,
também acaba?
Não que eu saiba.

E seguem alguns registros da Vila de Paranapiacaba, distrito de Santo André, Serra do Mar, tantas neblinas.

Diadorim, minha neblina