Friday, July 30, 2010

É nós aqui, é javali.


De 35, meu pai é antebellum, ainda que as poucas ru(s)gas e o interlace façam-no parecer bem mais jovem.

Recentemente me segredou que mingau de aveia causa-lhe azias terríves, o que não acontece se cai no mocotó, na rabada, na feijoada. Assim, estando ele de visita ao Rio, convidei-o para um javali no Nova Capela, o que de pronto anuiu.

O javali desceu soberbo, dávamos urras ao Obelix e, inda que eu não chegue à heresia do pai (que disse tê-lo preferido ao cabrito), confesso que, em minha próxima ida a esse templo da gula, meu coração irá balançar: ventrículo esquerdo pedindo pelo cabrito clássico e o direito suspirando pelo pujante javali.

Estivéssemos em 1989, quando Lula era Lula e o PT era PT, agora cantaria, como cantei: "É nós aqui, é java ali, é Lula lá". Mas tantos anos se passaram desde então, né?, uma maioridade, tantas águas rolaram. Da tríade do jingle fico hoje apenas com o nós e o javali, de preferência no Nova Capela a falar de livros e bebendo chope.

Thursday, July 29, 2010

As amendoeiras caducam



Quando escrevi por aqui, no dia 2 de junho, que as amendoeiras caducavam, sei que muitos pensaram que era poetagem minha, maluquice essa história de árvore caducar.

Mas não. Lancei mão de linguagem denotativa, científica até, botânica... Do latim caducu, isto é, que está a cair, uma árvore caducar significa simplesmente que está a perder as folhas.

Quem mora no Rio pode contemplar o espetáculo que está a caducagem das amendoeiras. As das praias de Icaraí e das Flechas estão até tímidas, muitas muito verdes até.

Mas já há as caducas! As folhas, sempre enormes, independente da idade da amendoeira, vão do verde ao ocre, ao tijolo, ao mel, à mostarda, marrom, chegam ao ouro, ao tomate seco, ao vermelho cardinal e, por fim, chegam supremas ao escarlate, reis e rainhas, e deixam-se tombar no calçadão. Passear com Dante nesta época é quase ter que se desviar destas rainhas escarlates que tombam, mas não nos desviamos, antes tentamos colhê-las.

Quem guarda com sede, a gata bebe

Muito se engana quem pensa que a ensolarada Califórnia produz apenas grandes vinhos (aliás, alguém aí me arruma uma garrafa de Screaming Eagle? Umazinha que seja preciso tomar antes de cruzar o Estige). Lá há também diversas microcervejarias e, dentre elas, a Anderson Valley Brewing Company, cujos produtos acabam de aportar no Brasil. Arrematei logo três exemplares, todas elas ales, de modo a fazer uma degustação horizontal. Mas como isso não foi possível, resolvi tomar uma de cada vez, deixando a India Pale Ale (hoje muy provavelmente my favourite beer style) para o fim.

Tanto a Amber Ale quanto a Pale Ale são extremamente aromáticas e refrescantes (mas sem essa de "leve", adjetivo tão empregue pelas macros brasileiras para confundir o consumidor), um banquete para amantes de birras lupuladas.

A India Pale Ale, bem... esta deixei na geladeira enquanto ia ao Picote tomar chope. Resultado: Bia descobriu e bebeu! =/

Fez ela muito bem, ilustrando com exatidão o antiprovérbio: "Quem guarda com fome, o gato come."

Saturday, July 24, 2010

Fico ao teu lado

Não costumo citar poemas alheios aqui. Melhor, até os cito, mas não costumo reproduzi-los na íntegra, como muitos blogs o fazem. (Tipo: meus poemas bastam, sacaram? Uhauahauahauah)

Mas este da Cecília vai na íntegra. A Cecília não é assim, de palavras simples e exatas?

Interlúdio

As palavras estão muito ditas
e o mundo muito pensado.
Fico ao teu lado.

Não me digas que há futuro
nem passado.
Deixa o presente — claro muro
sem coisas escritas.

Deixa o presente. Não fales.
Não me expliques o presente,
pois é tudo demasiado.

Em águas de eternamente,
o cometa dos meus males
afunda, desarvorado.

Fico ao teu lado.

Thursday, July 22, 2010

Usina (do tempo)

O passeio pela Usina proporciona belas e evocativas imagens ao olhar atento. As duas mais evocativas para mim não estão aqui: o Collegio Marista S. José, imenso, monumental, a ombrear-se com as serras tijucanas, e onde vivi seis dos meus mais intensos anos, e a Ordem Terceira da Penitência, local de nascimento e morte para os Von Sydows.
Em meio a um cenário de relativo abandono e decadência, encontram-se jóias como estas.

Este casarão maravilhoso de 1920 (reparem a cascata ao fundo):

Detalhe de um pequeno conjunto:

Esta bela casa em estilo eclético, a chorar a derrota incomparável:

E, primus inter pares, este armazém do século retrasado (1896), daqueles poucos em que se pode sentar e tomar uma cerveja:

Saliente-se que, como sabem, o Borel recebeu há pouco uma UPP. Não fosse, creio que essas fotos não estariam aqui assim tão impunemente...

Wednesday, July 21, 2010

Julho, julhos - a year has gone




Há ano exato descobri como passear com ele na praia era a melhor coisa deste mundão. Não que não tivesse passeado antes, mas foi a rotina dos passeios seguidos que me calou fundo na alma e criou-me calos que me são tesouros. Tive sorte ainda de as férias terem sido esticadas um pouco (a gripe).



No duro que um ano é decorrido? Não foi este o semestre mais rápido de todos os tempos? Fiz esta pergunta a 37 pessoas. 35 concordaram, uma discordou, outra ficou de me responder mais além.

Monday, July 19, 2010

Bar das Rolas - Usina

Na quadra final de meu mestrado, quando as atenções devem todas estar direcionadas para a dissertação, descobri Pedro Nava, um dos maiores encontros literários que tive. Uma revelação, um incêndio e assim, no sofá da sala da Paulo Alves, devorei Balão Cativo, Beira-Mar, Baú de Ossos (sim, não li os três primeiros na ordem), Chão de Ferro, Galo-das-Trevas, Círio Perfeito. E, inda que o Nava falasse alguma coisa relacionada aos meus estudos de mestrado, para o inferno com a dissertação, que eu descobrira coisas muito mais importantes.

Words fail me para descrever as sucessivas epifanias, os sucessivos gozos, estupefações e paixões que o mineiro de Juiz de Fora me proporcionou.

Umas dessas estupefações maiores está nas páginas finais do seu último livro, O Círio Perfeito, sexto volume de suas memórias, páginas finais de suas 2565 páginas de memórias nas letras miúdas das primeiras edições da José Olympio e Nova Fronteira.

Nessas páginas que Egon (alter ego que Nava assumira) tem conversas terríveis com um misterioso Comendador. Lá estão alusões ao suicídio, ao homossexualismo, a segredos inconfessáveis. Lembro que à época fiquei tão impressionado e perturbado, sobretudo com uma frase em caixa alta na página 574 (EU SOU O COMENDADOR), que cheguei a sonhar com Nava em minha casa, no sofá da sala, a pronunciar a terrível frase (em caixa alta???): EU SOU O COMENDADOR.

Bem, terminados livro e tese, vou à Usina, falo de 1998, procurar o Bar das Rolas onde os dois travaram as conversas, na frente do rio onde depois banharam-se (e batizaram). Após alguma conversa e pesquisa, descubro-o.

Passados 12 anos, volto à Usina e procuro pelo mesmo Bar das Rolas. Continua lá (a construção é de 1880), um túmulo. Silencioso e desafiador, suicidário porém eterno.




EU SOU O COMENDADOR.

Friday, July 16, 2010

Quanto custa o sonho?



Esta é uma peça que escrevi ano passado. Enfim ela recebe sua estreia mundial!

Grande Elenco:

Marina Costa - menina
Mika Makino - padeiro

O texto:

QUANTO CUSTA O SONHO?

Peça em 1 ato. E, se possível, em 1 minuto.

Menina:

Moço, quanto custa o sonho?

Padeiro (entre surpreso e indignado; sua indignação vai crescendo, sem, contudo, tornar-se violenta):

Quanto custa o sonho? Ora, os sonhos não têm preço!

Mas... sim, um homem precisa fazer sua provisão de sonhos.

O sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa, e, com sensíveis
Movimentos da esperança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte -
Os beijos merecidos da Verdade.

O que há de mais bonito nos sonhos é o encontro improvável de seres e de coisas que não poderiam encontrar-se na vida corrente; num sonho, um barco pode entrar por uma janela num quarto de dormir, uma mulher que já não está viva há vinte anos pode aparecer deitada numa cama e, contudo, ei-la a subir para o barco que se transforma ato contínuo em caixão e o caixão põe-se a flutuar por entre as margens floridas de um rio.

O espelho e os sonhos são coisas semelhantes, é como a imagem do homem diante de si próprio.
Ora, os sonhos são imagens. Melhor ainda, de uma maneira mais precisa, os sonhos são ao mesmo tempo os pais e senhores das imagens. Sou um homem que as imagens atacam. Faço imagens que saem da noite.

Quando, meu Sonho e meu Senhor?

Que seria de nós se não sonhássemos?

São os sonhos que seguram o mundo na sua órbita. Mas são também os sonhos que lhe fazem um coroa de luas, por isso o céu é o resplendor que há dentro da cabeça dos homens, se não é a cabeça dos homens o próprio e único céu.

Menina (que assistiu a tudo sorrindo divertida, apenas muito levemente espantada) (Abrindo um lindo sorriso, pede):

Me dá dois.

Padeiro (deixando de lado todo seu ar sonhador, todo seu delírio, assumindo uma postura realista e profissional e destituída de qualquer exagero):

É pra já. (E dá de costas)

CURTAIN

Thursday, July 15, 2010

O meu ipê-roxo



Um de nossos melhores cronistas não tinha um pé de milho? Pois tenho eu meu ipê. Ele mora no Jardim Botânico, bem ali em frente ao Tabladinho. Como bom ipê, o moço se comporta o ano todo, é discreto, tem bons modos, come quieto, é todo mineirices. Mas chega agosto abre-se qual pavão, sem mistério, todo entrega e plenitude. Vale a pena, sempre, esperar pelo espetáculo, ainda que seja breve e apenas uma vez por ano.

Como as temperaturas andam loucas, os ipês desta cidade se pavoneiam mais cedo, abram os olhos, aproveitem. O da frente do Instituto de Educação, na Mariz e Barros, já floriu, o do Instituto de Educação de Surdos, em Laranjeiras, também.

As duas primeiras fotos são do meu ipê, que me proporocionou epifania miguiliana em 1992. O da terceira foto é da J.J. Seabra, defronte daquela garage sale.

Há dois anos escrevi este poema, que quis extrair certo efeito das durezas de agosto. É agora anacrônico?

Fazer contigo
o que faz agosto com os ipês.

Agosto, este mês de cardos,
mês de ossos,
de duro rosto,
rende-se, enfim, à carícia que lhe sai das entranhas.

Sunday, July 11, 2010

O Galinho do Dante - Versão Giulia... alive!



No dia 2 de maio postei a versão que Giulia e Julio fizeram do "Galinho do Dante".

Esta versão faz sucesso, perguntam por aí quem são os artistas. Poi zé, pois agora tanto melhor que o duo querido veio nos visitar em manhã de sábado e, claro, tem gente que não pode ver cantor que pede logo uma canja, pedi uma canja, de pronto dada.

Reparem como tantos acontecem enquanto cantam e tocam: Dante rola, tira a meia do pé, namora Giulia, a sogra chora.

Friday, July 09, 2010

Perversos Polimórficos

Tuca e eu andamos numa fase de muita perversidade polimórfica.

Ele sempre gostou da cama grande, rolar pra lá e pra cá qual novelinho sem dono. Mas agora gostar é pouco, ele ama ser deixado na cama grande, rolar, levantar, sentar, ouvir um miado e gargalhar.

Mas mais que isso, mais mais que isso. Agora quer deitar e forçar a cabecinha contra a minha e depois ser agarrado e rodado pra lá e pra cá. A alegria é suprema, ele chega fecha os olhos, de gozo e estupefação. Ele pai e ele filho. O filho é pai do homem e o pai é filho, que confusão, melhor fechar os olhos e rolar.



Friday, July 02, 2010

Festival Comida di Buteco

Não aproveitei este Festival como merecíamos, festival e eu.

A ideia é pegar um dia e uma kombi e ir fazendo o circuito, quem sabe até 10 butecos num dia, inda que depois a memória dos primeiros e dos últimos (e também os do meio) visitados corram risco de nublarem.

Isso fica pro ano que vem, pois o deste ano acabou com a chegada de julho.

Mas para comemorar o niver fiz o Paulette (sempre a melhor alternativa ao Aconchego, que caiu no gosto da mídia e agora vive cheio) e o Da Gema, simpático boteco na Barão de Mesquita e desconhecido até então.

No Paulette tinha o Crocrevet du Let, onde comiam-se crustáceo e cestinhas. O molho era de maionese, maionese Helman's, pois estamos falando de boteco.

No Da Gema nos enrolaram e acabaram não trazendo o petisco, um fondue de boteco, do baixo clero.

Como eu já dormia sentado e como tinha Stellinhas, nem briguei.