Monday, November 30, 2009

O nome dela é Turid



Turid Lundqvist gravou, entre 1973 e 1975, três álbuns que são verdadeiras pérolas de um folk-psicodélico muito sensível e particular. Depois gravou pouco mais, mas já sem o brilho. Hoje, salvo engano, só se encontra para comprar o "I Retur", coletânea dos seus três discos iniciais. Ou seja, que lástima! Quero ter todos os discos e não posso! E não estamos falando do país do tchan, onde música de qualidade tem que penar muito para encontrar seu espaço, mas da Suécia! Aliás, depois das frustrações habituais que artistas não-comerciais enfrentam, esta singer-songwriter se cansou de tudo e foi... trabalhar no correio! Again, que lástima! (A não ser, claro, para seus colegas de trabalho) Enquanto estava na ativa, e põe ativa nisso já que ela era bastante politizada e tinha verdadeiro horror ao imperialismo norte-americano, ela foi figurinha fácil nos incontáveis festivais de música que então rolavam em seu frio país, sempre acompanhada de seu violão. Chegou a acompanhar a grande banda de prog Kebnekajse (também nada, NADA, conhecida por aqui, mesmo entre os poucos fãs do gênero) e eles retribuíram a gentileza tocando na faixa "Lat mig se dig", porventura sua canção mais rock 'n' roll, e ótima por sinal.
Um dos meus sonhos de eternidade, tomado emprestado a Carrière, é passear pelas estrelas ao lado do Ganesha, conversando gentilmente no grande oceano de histórias a que chamam cosmo.
 
Antes, quero passear pelos canais de Estocolmo ao lado da Turid, ouvindo-lhe cantar "Välkomme-Hus", "Ödegardar" e tantas outras...
"En eternell i varje stam
för att leda dig säkert fram
till ett välkomme-hus"
 
Claro que vou preferir se for em sueco, mas se ela quiser me encantar também com "Sometimes I think age is a treasure", não vou achar ruim não... Principalmente porque, com seu sotaque, ela pronuncia os fonemas /j/ das palavras "treasure" e "pleasure" como /sh/. Tão bonitinho! Parece até o papai aqui falando com o Dantuca...

Sunday, November 22, 2009

Um Safári à Lua / A Safari to the Moon

Este post será bilíngue porque Johan Westerlund, baixista, vocalista e letrista da banda sueca Moon Safari demonstrou interesse em ler o que tenho para dizer acerca de sua banda. Assim, depois da versão costumeira em português, vem a versão para o inglês.

Sei e não sei bem por quê, mas desde o dia 22, há exato 1 mês, sinto-me compelido a, estando no 996, estando em casa e, principalmente, passeando com o Dante, ouvir apenas um seleto grupo de músicas OVER AND OVER AGAIN (Ih, inglês, sorry!...).

São elas:

1) Do Yes - "Soon" (na verdade trecho da suíte "The Gates of Delirium", mas a tenho em formato single, que é a que ouço). Foi esta a que detonou o processo. Nos dias 22 e 23 e 24 de outubro fui tomado por uma vontade irresistível de ouvir esta canção 500 vezes.

2) Do Formula 3 - "Cara Giovanna".

3) Do Locanda della Fate - "Cercando un Nuovo Confine" - porque esta é uma das "músicas para crianças" mais lindas do Ocidente!

4) Damien Rice - "Grey Room"!

5) Gabriel Yared e Marta Sebéstyen - "Szerelem, Szerelem" .

6) Michael Nyman - não podia faltar! "Big My Secret" e "Love Doesn't End" .

7 Flower Kings - "Flora Majora"!

e, principalmente, COMPULSIVAMENTE:

8) Van der Graaf Generator - não podia faltar! "Refugees" (versão single) e "Childlike Faith in Childhood's End".

9) Yes - "I've Seen All Good People".

10)Midlake - "Paper Gown", "Excited but not Enough", "Simple", "Roller Skate (Farewell June)".

11) Moon Safari - a sequência "Moonwalk", "Bluebells" e "The Ghost of Flowers Past" .

12) Blackfield - "Once", "Miss U", "Hello" e, principalmente, "Where is My Love?" (duas versões diferentes, que escuto uma atrás da outra, ainda encontrando diferenças).

Entendam que continuo comprando CDs. E que, claro, escuto outras coisas também. Mas acho que nunca fiquei assim tão colado a algumas canções como estou. E esta fase extraordinária da minha vida ficará indelevelmente marcada por esta trilha-sonora.

O Moon Safari, por exemplo, faz-me sentir imortal, perdoem a breguice. Passear com o Dantuca na praia ouvindo as canções que mencionei é uma experiência simplesmente epifânica, daquelas em que o céu se rasga e dele cai uma chuva de pétalas de rosas. Dantuca está no carrinho, com os pezinhos pra cima (ver post anterior) e as músicas me transportam para uma região onde sinto uma harmonia, uma paz e um amor transbordantes. Sinto-me é bêbado, isso sim, daquela embriaguez que Baudelaire afirmara que deveríamos sempre sentir: a da poesia. Todas as preocupações cotidianas me parecem tão comezinhas, pois o que me ocupa a alma é a visão de Dante, a brisa e as harmonias vocais do Moon Safari! Até inventei uma história para "Bluebells"! Inventei que Dantuca tem um pijaminha com sininhos azuis (que não tem) e que seria ele, portanto, o "Bluebells" me chamando para casa, pedindo que eu saia de reuniões, de plenárias, de conselhos um pouco mais cedo para poder ficar com ele. Esta é a minha versão de "Bluebells", porventura mais bonita porque inventada.

O Moon Safari, conheci-o em julho do ano passado, em visita a Progress Records, em Estocolmo. À época, chapei. Hoje chapo ainda mais. De nítida influência do Yes e do Flower Kings, os rapazes fazem um som que pertence à face solar, clara, alto astral do rock progressivo. Não há aqui otimismo ingênuo, mas sim uma verve, uma garra, um delírio transfigurador nas harmonias vocais, nas guitarras orgásmicas, no Hammond devastador, no Mellotron (sim, também tem!!!), no baixo a prenunciar motivos e na bateria que não posso senão render-me incondicionalmente e deixar levar-me para este país somewhere I had never traveled, gladly beyond...


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This post has an English version because Johan Westerlund, bassist, vocalist and lyricist of the Swedish band Moon Safari showed some interest in reading what I've got to say about his band.

I'm not quite sure why, but since October 22, exactly one month ago, I've been feeling compelled to, either commuting, at home or, mainly, taking a stroll with Dante, listen to the same songs OVER AND OVER AGAIN.

The songs are:

1) Yes - "Soon" (actually a fragment of "The Gates of Delirium", but since I have it in the single version, that's the one I listen to these days). It was this one here that started everything. On October 22, 23 and 24 I was taken by an insurmountable desire to listen to this song 500 times.

2) Formula 3 - "Cara Giovanna".

3) Locanda della Fate - "Cercando un Nuovo Confine" - because this is one of the most beautiful "songs for children" of the Western World!

4) Damien Rice - "Grey Room"!

5) Gabriel Yared and Marta Sebéstyen - "Szerelem, Szerelem".

6) Michael Nyman - couldn't be out! "Big My Secret" and "Love Doesn't End".

7) Flower Kings - "Flora Majora"!

and, mainly, COMPULSIVELY:

8) Van der Graaf Generator - couldn't be out! "Refugees" (single version) and "Childlike Faith in Childhood's End".
9) Yes - "I've Seen All Good People".

10 Midlake - "Paper Gown", "Excited but not Enough", "Simple", "Roller Skate (Farewell June)".

11) Moon Safari - the sequence "Moonwalk", "Bluebells" and "The Ghost of Flowers Past".

12) Blackfield - "Once", "Miss U", "Hello" and, mainly, "Where is My Love?" (two different versions, which I listen to one after the other, still finding differences).

I still buy CDs, of course. Many. And, of course, I listen to other things too. But I think I've never been so stuck to some songs as I've been these days. And this outstanding phase of my life will be forever linked to this soundtrack I managed to create.

Moon Safari, for example, makes me feel immortal (I know I sound tacky, sorry!). Taking a stroll with Dante on the beach listening to the songs I mentioned is an experience simply epiphanic, one of those in which the sky is torn and from above petals of roses rain. Dantuca is in his pram, with his little feet up (see prior post) and the songs take me to a place where I feel an overflowing harmony, peace, love and joy. I feel drunk, that's the feeling, that drunkness Baudelaire said we should always experience: poetry. All the daily cares seem petty, for what takes my soul is Dante's vision, the breezes and the vocal harmonies of Moon Safari! I even made up a stroy for "Bluebells"! I invented that Dante has a little pajama with little blue bells on it (he doesn't), so he himself would be "Bluebells", calling me home, asking me to leave classes, meetings, seminars a little earlier just to be with him. This is my version of "Bluebells", maybe prettier because invented.

I got to know Moon Safari in July of 2008, visiting Progress Reocrds in Stockholm. At the time it blew my mind. It blows my mind even more nowadays. Clearly influenced by Yes and Flower Kings, the boys make music that belongs to the sunny side of progressive rock. Good vibes galore. There is no naive optimism here, but a verve, a dynamics, a transfiguring delirium in the vocal harmonies, in the orgasmic guitars, in the scorching Hammond, in the Mellotron (yes, there's Tron too!), in the bass that heralds motives, in the drums that I can't but surrender inconditionally and let me be taken to this somewhere I had never traveled, gladly beyond...

Saturday, November 21, 2009

Ruído


Quis postar aqui uma foto do famoso MAC (Museu de Arte Contemporânea), hoje cartão-postal mais conhecido da cidade e onde Tutuca e eu costumamos passar boa parte da manhã, em meio a brisas, andorinhas, barquinhos, muito mar, formandos a tirar fotos, praticantes silenciosos de Tai-Chi e outros que tais. Moramos no Ingá, o museu fica em Boa Viagem, a que se chega subindo colina de pedras portuguesas que muito sacolejam o carrinho. Neste dia, sexta feriado de Zumbi, não tínhamos a intenção de ao museu chegar. A foto, portanto, seria tirada de baixo, do último dos banquinhos da calçada. Achando que tinha já razoável enquadre, apesar da contraluz aqui amplamente desfavorável (o que explica o argh, flash), fiz a foto. Ou como diriam os cearenses, ao menos os taxistas, motivados pelo "0" final da palavra: o foto.


Foi só depois, em casa, ao examinar a/o foto, que percebi que na frente da belíssima arquitetura modernista (ou moderna?) do museu, apareceram dois pés! Mas como...! A isto se chama, em fotografia, ruído. São coisas que nem o fotógrafo mais amador e desprovido de técnica está livre de enfrentar.


Perdoem este fotógrafo incipiente e comprem um postal do museu. Custa 1,50 na Banca da Ana.

Friday, November 20, 2009

Dante (e) Bento






No dia 8 de novembro enfim batizamos Dantuca. Não houve festa, ainda que na hora H pessoas queridas aparecessem. Mas, de fato, quisemos tudo a sotto voce. A cerimônia foi na igrejona da Nossa Senhora das Dores, que eu prefiro chamar de Nossa Senhora do Ingá. Fosse Nossa Senhora dos Prazeres (como há), eu a chamaria pelo nome mesmo, correto, er... de batismo. O padre (todos adoram falar mal de padre) era simpático, didático ao extremo, chegava a... era simpático o padre. Fazia calor lá fora, mas não lá dentro.

Dante, heroizinho como sempre, achou tudo um pouco chato e houve por bem cochilar. Acordou com água fria em seus cabelos e manhou um pedaço.

A madrinha é a Renata, cuja filha, a querida Mariana, é afilhada da Ana Beatriz.

O padrinho é o Igor, meu afilhado.

Ou seja, tudo muito família, um compadrio só.

A madrinha de consagração (não é de consolação, por favor, senhores) seria a Dani, mas esta foi pra Bahia, então acabou sendo a Juliana. Sentem-se as duas madrinhas, no que estão corretas.

A fada-madrinha é a Ms. Groetaers.






E, seria coinciência se coincidências existissem, foi só Dante ficar Bento para receber a visita do... Bento!

Bento, bebê do Rodolfo e da Bianca, é sobrinho da Renata, a madrinha. Estiveram aqui Bento e trupe: ao todo juntamos dez almas no escritório! Estivesse a Isolda no meio de nós (ela estava é bem debaixo da cama), teríamos um time de futebol.

Tuesday, November 17, 2009

O que de Goa mais saudade sinto


O título do post saiu-me assim: decassílabo sáfico perfeito. Mas isto nem soneto ou poema será.

Saudades de Goa.

A saudade maior, hoje, não é dos mercados, nem de Utorda, nem de Shantadurga, nem do caminho Dona Paula-Pangim, nem do Franco, nem do Prainha, nem dos cheiros, nem do nan nem parata, nem do tandoori, nem das igrejas muito brancas, muito velhas, nem da profusão dos nomes em -im e -em, nem de falar "Deu borém kurum", nem dos tulsis, nem das livrarias, nem da Kingfisher, nem dos tuc-tucs, nem dos vendedores insistentes, nem dos cacos portugueses, nem dos poços, nem dos sáris, nem das crianças, nem das vacas, nem dos búfalos, nem das motocicletas (terei saudades das motocicletas?), nem das cruzes cicatrizadas nas peles, nem das peles.
A saudade maior hoje é dos corvos. Dos corvos que me acordavam pela manhã.
(Se bem que aqui nem deu 6 horas e já temos cigarras).

Sunday, November 15, 2009

Vasco, Dante, Midlake & Outras Epifanias

É cousa muito séria passear de carrinho com o Dante no final da tarde, quando sopra brisa amainando o calor. Ainda mais se a agenda me diz que é sábado.
Na semana passada foi assim. E ao Dante e à brisa e à beleza das cores do fim da tarde somava-se minha alegria pelo fato de o Vasco ter garantido seu retorno à Primeira Divisão.
Ontem também foi assim. E ao Dantuca etc somava-se o entusiasmo (en + theos) porque o Vasco fora campeão no dia anterior. E eu estivera lá, debaixo do bandeirão, a foto prova-o.
Onde entra o Midlake nisso tudo?
Porque ao Dante e à brisa e à beleza das cores do fim da tarde e ao entusiasmo com a conquista do Vasco somava-se que eu carregava o Midlake em meus ouvidos. Não o Midlake perfeito e amadurecido do The Trials of Van Occupanther (2006), que revela aonde chega uma banda que enfim descobre sua voz. Refiro-me ao Midlake de "Paper Gown", "Excited but not Enough", "Simple" e "Roller Skate (Farewell June)": vocais distorcidos e torturados à la Thom Yorke, guitarras sujas, bateria incipiente e feroz e ruideira eletrônica. Uma "influência" tão sem-vergonha de Radiohead, que não se pode falar em influência, mas sim em pastiche mesmo.
E que eu amo desmesuradamente e escuto over and over and over.

Saturday, November 07, 2009

SONETO DAS TRINTA ANDORINHAS





Dante pede às andorinhas que adornem
seu sono, de mel e de paina feito.
E o que era ânsia represada até
agora, esfarinha-se no rumor

dos barcos que navegam silenciosos
entre o azul líquido e semovente
e este azul maior que engolfa o tempo e
que nos terá um dia. Dante dorme.

As andorinhas nada dizem, voam
e em seus voos barrocos vão tecendo
tênue teia que lhe protege o sono.

As andorinhas nada dizem, velam
diligentes o seu sono, todo ele
paina, mel, auréola e trinta andorinhas.


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Acho que desaprendi a fazer sonetos, se é que um dia. A ilustração é da Cora, aluna querida que torce pelo América e tentou encher nossos tomates verdes de pimenta branca (isso vocês já sabem de outros posts).
A inspiração (oh, como se isso existisse) veio dos passeios que faço com Dantuca lá no MAC. Acertei os versos e a métrica (desacertei talvez seja melhor palavra) nas idas e vindas no 996, ao som do Blackfield.

Daylight Saving Time



HORÁRIO DE VERÃO

O gato,
ignorante dos ponteiros adiantados,
Vem pedir-me comida
com uma hora de atraso.

Arqueia-se o dorso, levanta-se
a cauda peluda, faíscam
enormes olhos
onde cabem
mil enormes olhos.

Acho graça.
Mas reconheço
que há
sadismo neste meu sorriso.

Amanhã que faço?
Enquadro o gato no mundo dos homens?
Ou respeito-lhe ternuras, súplicas, desejos e fomes anacrônicas?

Ternuras, súplicas, desejos e fomes anacrônicas.

A questão talvez seja idiota
e sequer mereça poema.

Isolda e eu nos olhamos
com enormes olhos
onde cabem.

Je le resterai jusqu'au bout! Je ne capitule pas!

Tuesday, November 03, 2009

Dave & Clarice


Tive no Dia de Finados uma experiência transfiguradora. Nada a ver com mortos, muito pelo contrário.
Já no dia anterior recebera em meu celular (que estava no modo 'silencioso') chamadas provenientes de um longo número.
Havia também um torpedo. Dizia "Hello my name is Dave." Gelei. Respondi: "Dave what?". Reparem que pergunto what e não who pois no meu coração tinha já certeza de quem se tratava.
A resposta é ligeira: "Dave the reader of Clarice Lispector, who wrote nothing about back scratching."
Não precisa de sobrenome. Ou sim, precisa, o sobrenome é este aposto e esta oração adjetiva cheia de piadas internas. A isto se chama léxico familiar. Seu outro nome é família.
Agora explico.
Morei com Dave Block e Ellen Mora em Chicago por um ano: de agosto de 1986 a julho de 1987. Somos amigos até hoje, com intermitências de contato que amizades de verdade compreendem.
Eles souberam que Dante estava a caminho. Depois souberam que Dantinho tinha West. Mas fui muito elíptico nos e-mails, adiantei os fatos óbvios e depois calei-me, dizendo apenas "I will let you know".
E com isso -- "I'll let you know" -- foram deixados.
Dave ficou muito incomodado. Meses passaram-se e ele tentava se acercar. O que fez? Decidiu ler um autor de ficção brasileiro para que pudesse se sentir próximo de mim! !!!! Escolheu (meio que por acaso? não creio), acabou escolhendo a Clarice Lispector.
Teve ele, naturalmente, revelações, encontros, epifanias. Ficou marcado pelo que disse ter sido / estar sendo uma das leituras mais intensas da sua vida. E sentiu que conseguira instaurar em si o frame of mind apropriado para então me procurar.
Não consigo expressar nestas linhas o extraordinário que isso tudo foi. Alguém fisicamente distante quis acercar-se de mim. E o fez por intermédio da Clarice.
Foi um dos maiores afagos que já recebi.
Ontem conversamos longamente por telefone. Ele disse estar a caminho.


A foto (foto de foto, não tenho scanner) mostra-nos conversando, nos primeiros dias de 1987, somewhere between Pensylvannia e Washington D.C. O fato de a foto estar pouco nítida confere-lhe contornos fantasmáticos e vejam que bonita aquela casa lá atrás.
Ele tinha 8 anos a menos do que tenho hoje.

E poucas vezes esta canção do Pink Floyd fez tanto sentido como hoje:

"You know that I care for what happens to you
And I know that you care for me too
So I don't feel alone
Or the weight of the stone
Now that I've found somehwere safe
To bury my bones
And any fool knows a dog needs a home
A shelter from pigs on the wing."

Sunday, November 01, 2009

Morri. Estou entrando no Céu.

É isso. Imaginei-me entrando no Céu ( o fato de o Purgatório não existir mais facilitou um bocado). Que música estaria tocando neste exato momento?

Só posso escolher uma, mesmo o Paraíso terá suas limitações.

Está tocando "Refugees", do Van der Graaf Generator. Versão single.

Ou está tocando a #10 do The End of the Affair, do Michael Nyman. Love doesn't end.
Não precisa ser a versão do CD. Pode ser a versão amadora de um teclado tocado quase à meia-noite. Amador = feito com amor? Love doesn't end.

Disse que só poderia escolher uma, escolhi duas. Assim engano o Paraíso.

Fritando Tomates Verdes







E serão estas as delícias e as loucuras de se dar aulas. Na SACC do CAp deste ano propus à minha turma do Segundo Ano fritar os ditos tomates, para ver, enfim, que gosto eles teriam. Lembrem-se de que a Idgie achou-os 'terrible'. Entendam que já assistíramos ao filme Fried Green Tomatos, do qual exploramos muitos aspectos. Faltava o culinário. Assim, na aula de encerramento do filme (estávamos em abril?), levei-lhes a receita e uma música do Cranberries, apresentada como "tema da Ninny": "Never Grow Old". Lancei as sementes. Meses depois, tive quatro alunos dispostos à empresa: fritar os tomates para servi-los depois da apresentação de alguns trechos do filme. Os trechos escolhidos ilustravam autoconhecimento, segregação racial e homoerotismo. Os meninos -- Fernanda, Cora, Carolinne e Igor (estes dois últimos já velhos conhecidos meus dos encontros de sexta-feira sobre Teatro do Absurdo -- mandaram muito bem. Falaram bem suas partes e participaram da tomatina com grande empolgação.
A Cora jogou praticamente a pimenta branca toda sobre os ovos.
A Fernanda disse que eu contava piadas de pai.
A Carolinne pegou o cabo da frigideira como quem agarra touro à unha e fritou tomates como se jamais tivesse feito outra coisa na vida.
O Igor não se segurava de satisfação: queria a toda hora sair para se mostrar de avental. É um bobo, assim como eu.
Aos quatro agradeço por me terem proporcionado um dos meus momentos capianos mais felizes.