Wednesday, November 28, 2018

Fritando Tomates Verdes II




Para fazer tomates verdes fritos o mais difícil será encontrá-los, encontrá-los verdes, que nesse estado eles soem ser escondidos nos depósitos ou sequer são levados para os mercados. Fui em dois hortifutis e dei com os burros n'água, mas o sabichão do meu cunhado conseguiu-os em grande quantidade (Ainda perguntou 'É do carmem que você quer? Esse tem muita água').

Promessa é dívida e embora eu e a turma tenhamos visto o filme no início do ano, a cobrança de fritarmos os benditos era quase que toda aula.

Foi ótimo. Depois de fazerem harumakis para a entrada, todo eles pegaram a faca e logo tínhamos uma Gizé sobre o mármore da mesa. E venham a páprica, a pimenta branca, a farinha de milho, os ovos, a farinha de rosca. Logo os fritei (desta vez deep fried, ao contrário da outra vez que fizera, num distante 2009) para alegria geral dos estômagos adolescentes e outros nem tanto. Esquecemos do alho frito por cima.

Ficaram deliciosos? Bem, it's an acquired taste, das profundezas do Deep South. Basta lembrar do diálogo (que eu e Natália encenamos) entre Ruth e Idgie quando esta oferece à sua amada a iguaria pela primeira vez:

-- Try this.
-- (Silence)
-- So what do you think?
-- They're Ok. (nada convincente)
-- The truth.
-- Ehm... They're terrible.

Então... ficaram mesmo terríveis? Nada. Ficaram deliciosos.













 




Monday, November 26, 2018

Os Anjos da Andrea



Ontem subimos Santa Teresa com Dante por amor de ver a montagem dos mosaicos de asas de anjos coordenada pela Andrea Imbiriba. Numa cidade cada vez mais feia e que tem que conviver com grafites que nos lembram que Jesus voltará em 2070 e eles não são maçons, esta intervenção artística é sopro de vida, resistência, esperança.

Dante não estava em suas melhores manhãs: aquele coquetel dangerosíssimo (aqui) de sono, irritabilidade e ansiedade estava nos picos, e mate, água de coco batata frita pouco aplacaram. De qualquer modo, foi lindo pegar o começo da montagem e fazer alguns registros.

Conheci a Andrea numa tarde muito quente depois de uma feijoada. Ela não estava propriamente ali, mas os bondinhos estavam (aqui). Depois ela retratou a mim e ao Dante com nossas vestimentas xhosas. Foi um de seus primeiros retratos, mas parece que ela não fazia outra coisa na vida (aqui).











Tuesday, November 20, 2018

No ônibus com o Dante


Acredito que em programas de TV, de humor ou não, isto seria chamado de "programa de pobre": num feriado pluvioso como o de hoje, pego o Dante e me meto no 606. Vamos até o ponto final, próximo à rodoviária, onde levo conversa mole com o motorista para não desembarcar (não é ônibus circular, mas ainda existem circulares?) e com ele retorno pra casa. Não raro, dependendo do seu humor, perdemos o ponto e continuamos rumo ao Engenho de Dentro ou quase.

Verdade que fazemos esse passeio sem chuva também, e então muitas vezes saltaremos (desnecessária pois a conversa mole) e iremos até a Praça XV de VLT, que ele nem curte tanto porque não pula.

Mas com chuva o passeio se torna imperioso, que ele pede e exige. O ônibus o acalma, mas não o aquieta. Se é pela manhã., às vezes bate uma soneira que, num drink com irritabilidade e ansiedade, é mistura poderosa, XXX. Soneira que se aplacada numa soneca cada vez mais difícil, o menino cresce e a cabecinha já não cabe bem assim no colo, tudo volta a fluir.

Como escrevi, o VLT ele não curte tanto. Ele gosta é da trepidação, por isso no ônibus me puxa sempre até o assento do fundo ou aqueles altos, justo em cima da roda. Conhecemos já os trechos de grande trepidação: a Praça da Bandeira, a Rua Uruguai.

Neste sentido, mais velho o ônibus, melhor.

vamos de mãos dadas

Enrolando Harumakis com Amigos


Uma tradição do restaurante Szerelem Szerelem: sendo a entrada harumakis (e quase sempre é): bota os convidados pra fazer! A lição fica por conta da Camila, melhor e paciente professora. A mim cabe fritá-los deep fried.

Neste ano, se não me engano, já enrolaram: Helion, Isabela, Aline, Jessica, Thiago, Luiz Guilherme, Mariana, João Leite, Eric, Damian.









Nosso harumaki de feijoada aqui. Nossa primeira vez, ici.


No meio da pedra tinha um caminho


Apesar das agruras de 2018, será ele ainda o ano dos 90 anos do emblemático "No meio do caminho tinha uma pedra", do Carlos.

Fiz soneto para a efeméride, citando / rasurando outros drummonds 


 no meio da pedra tinha um caminho
escuro e duro como a pedra mas
caminho como os corpos que na noite
escura encontram secreto carinho
nunca me esquecerei, amor, que às
2:30 da manhã (olhei
o duro relógio) a tua sempre mão
na minha gauche mão pousou
terá sido o contrário? será? ou
contra o sem sentido apelo do não
fui eu que investi julgando-me rei?
já não faz mesmo diferença alguma
guarda bem a memória desta noite
na vida restará, todo o resto se esfuma

Monday, November 19, 2018

A Era da Ansiedade


Bar Don Juan (1971) , romance de Antônio Callado que tematiza a malograda tentativa de um grupo desunido para pôr fim à ditadura então mais violenta que nunca, é divido em três partes, em que se espraiam 12 capítulos.

A serendipity aqui é que comprei o livro (a primeira edição numa rua do Leblon) justo quando ouvia muito Bernstein, pelo centenário.

E as epígrafes são justo retiradas de The Age of Anxiety (1947), de W. H. Auden, que Bernstein musicou já no ano seguinte na peça que seria a sua segunda sinfonia.

E tudo tão ligado a novembro de 2018, a era da ansiedade.


Parte1

"When the historical process breaks down... when necessity is associated with horror and freedom with boredom, then it looks good to bar business"

Parte II

"I must go away with my terrors
until I have taught them to sing."

Parte 3
But we mustn't, must we? Moses will scold
If we're not all there for the next meeting
     At some brackish well or broken arch,
                                         Tired as we are."





Saturday, November 17, 2018

Callado e Meu Avô


Escrevi recente sobre o romance Don Juan (1971), de Antônio Callado, para tratar, feliz, da referência, logo nas primeiras páginas, a um quadro, a um qualquer quadro, de Nilton Bravo em um botequim (aqui).

O romance, por óbvio, merece lembranças e postagens por outros diversos motivos. Ele começou bem (e não apenas pelo Nilton Bravo), depois esfriou, mas terminei de olhos molhados.

Havia um folclore entre os von Sydow que quando Callado esteve preso no terrível quartel da Barão de Mesquita, meu avô, que morava ali perto na Rua Uruguai, foi visitá-lo. Callado de fato foi preso, em duas ocasiões, e teria dito a meu avô que foi dele sua única visita recebida.

Biruta do jeito que meu avô era (aqui), não duvido que ele tenha subestimado os riscos e de fato ido, a pé, visitá-lo.

A postagem é para dizer isso. Era para outra coisa, era pra falar das epígrafes do livro, retiradas do Auden, mas botei meu avô no meio e agora já acho que isso inunda a postagem inteira.

Sunday, November 11, 2018

A Modelo da Playboy, o Autismo e os Votantes do Bozo



Neste 2018 completam-se 20 anos do início daquela história de que vacinas -- em especial as que contém timerosal, onde a segunda sílaba significa mercúrio -- podem causar autismo. Muita, mas muita água mesmo rolou, como tão bem documentaram John Donvan e Caren Zucker no penúltimo capítulo de Outra Sintonia - A História do Autismo.

O corolário de todo o imbróglio é que Andrew Wakefield, que tudo começou com um artigo na Lancet, foi não apenas desmascarado como teve seu registro médico cassado.

Trago isso à baila porque cerca de dez anos depois do artigo inicial, ou seja há coisa de dez anos atrás, quando a campanha contra as vacinas já estava perdendo ímpeto, uma ex-modelo da playboy de nome Jenny McCarthy abraçou a esparrela contra a vacinação. Quando indagada acerca de sua formação, declarou a sua falta completa de educação formal em medicina, psicologia, nutrição ou em qualquer coisa relacionada com a ciência: "Foi na Universidade do Google que tirei o meu diploma".

Gente, isto não lembra tanto os votantes do Bozo?? E o próprio Bozo que ainda ontem declarou que brasileiros têm tara por ensino superior?

Saturday, November 10, 2018

O Tio de Guimarães Rosa e Joãozito


O dia amanheceu nublado e foi abrindo. Dante já saudoso de piscina e pracinha, irritado irritável na manhã de sábado. Apostei num passeio que sói dar certo: o 606 até o ponto final; de lá, o VLT até a Praça XV, onde tomamos sundae de chocolate no Bob's. Depois passeamos pela feira que amo e isso é mais pra mim que pra ele que então ficou irritadíssimo. Na barraca de livros vi belíssimo de azulejos portugueses modernos e outro de capas de livros no Brasil, mas o pequeno era tão irritado que tive que me retirar para achar banheiro, conversar, acalmar.

Quando voltei, coisa de quinze minutos, o de azulejos já fora vendido!!! Mas descobri outro, quieto em seu canto, do tio do Guimarães Rosa, primeira edição autografada de 1972, justo sobre a infância de Rosa, eterno Miguilim. O mais precioso é: o livro tem correções à mão, com certeza do próprio autor. Correção até errada: o tio setentão cansado coloca o 'João' do sobrinho antes da preposição.

Depois escrevo sobre o livro. De qualquer modo, fui dormir ontem sem saber que isso existia.

O dia amanheceu tão nublado e abriu de todo