Saturday, October 24, 2020

1970 :: Quatro Altos Momentos do Sax no Rock Progressivo

Que se fazia rock progressivo sublime na virada da década de 60 todos lo saben, mas que se possa, assim sem grandes pesquisas, fazer compilação de músicas maravilhosas onde o saxofone tem protagonismo, isso até eu me espantei.

1) "Men" - Mad Curry : tenso e maligno, com o baixo e o piano

2) "Big Brother is Watching You" - Skin Alley : para além do ritmo, um alto voo na seção do meio

3) "Killer" - Van der Graaf Generator : porventura o riff mais memorável (e matador); mais uma vez sinistro; solo espantoso (dois saxes ao mesmo tempo, Mr. David Jackson?)

4) "Raid" - Audience. Primus inter pares

Eu disse 'quatro altos momentos'? Ora, não apenas alto, mas também barítono, tenor e sopranino




 

Café e Bar Primazia, Ramos

Tímida e cautelosamente, nestes tempos ainda pandêmicos, fiz pequeno giro etnográfico em Ramos, já com objetivo preciso: Café e Bar Primazia, na Rua Operário Fortes, onde, segundo informação do blogue O Rio que o Rio não vê, haveria belas pinturas.

Com efeito, não fosse a ótima dica, nunca teria chegado a elas, uma vez que o "café e bar" passou por uma reforma descaracterizadora para transformar-se num restaurante a quilo anódino. Ou seja, numa andança típica -- e já fiz várias pelo bairro de Ramos -- eu jamais teria entrado.

Critiquei a reforma, mas fique o sincero elogio: ao menos mantiveram as pinturas: arte naïf em estado bruto, com imagens bucólicas e nostálgicas: a moça e seu cântaro, o bom gaúcho, sereias, naus portuguesas, ninfas e crianças.

Vê-se em dois lugares a assinatura de um Castelão. Segundo o blogue citado, trata-se do artista português Cesar Augusto Castelão, nascido em 1922. Julgo enxergar o número 70 debaixo de uma delas.

Pela quantidade, lembram as dos Façanha, no hoje fechado Tâmega, bem como as do Souto, em Quintino.

Um verdadeiro patrimônio do subúrbio que, a exemplo de alguns Nilton Bravos, deveria ser tombado e  preservado a todo custo












Friday, October 16, 2020

Rock Progressivo Italiano :: 10 Músicas Instrumentais


Já escrevi bastante por aqui sobre a voz no rock progressivo italiano, paixão da vida e para além. Exemplos estão aqui, aqui, aqui e aqui. Então há algum tempo que penso em lembrar algumas músicas instrumentais lindas do rock progressivo italiano.

É lista sem a menor pretensão de completude. Aliás, toda lista chama mais atenção pelas lacunas

Em ordem alfabética ::

1) "Croma", Alphataurus, 1973

2) "Tilt", Arti + Mestieri, 1974

3) "Preludio", Luciano Basso, 1976

4) "Campane",  I Califfi, 1973

5) "V Tempo", Campo di Marte, 1973

6) "Risveglio", Enzo Capuano, 1975

7) "Tarantella", Le Mani, 1976

8) "Ritorno sl Nulla", Le Orme, 1973

9) "Il trionfo dell'egoismo, della violenza, della presunzione e dell'indifferenza", Il Paese dei Balocchi, 1972

10) "Medio Oriente 249000 Tutto Compreso / Canto di Lavoro" - Il Volo, 1975













Sunday, October 11, 2020

A Pequena Rapsódia da Abelha



Le Orme é uma banda tão maravilhosa que antes que o movimento unplugged se popularizasse com a MTV (e com alguns ótimos resultados, como o do 10,000 Maniacs), eles já haviam se tornado acústicos. Por uma fase

Para indicar a mudança, passaram a assinar Orme, apenas

Foram somente dois discos, Florian, de 79, e este, Piccola Rapsodia Dell'ape, do ano seguinte.

Foi meu primeiro Le Orme (ou Orme), comprado em 1984, graças aos anúncios do jornal Balcão. Fui na casa do sujeito e ele me mostrou sua coleção de discos: apenas a Elvis Presley, algumas centenas

Gosto tanto deste disco que varei anos dizendo meu restaurante se chamaria 'Piccola Rapsodia dell' Ape', Piccola para os íntimos

Gosto tanto desta música que usei o verso 'dei fuochi accesi sulla collina' como epígrafe do meu livro de sonetos para a Pampi. Embora, ainda na fase do flerte (virtual), ela já tivesse declarado 'Pampi morena'. =)

Gosto em especial do som que se ouve, por 45 segundos, a partir de 1'13''. E depois novamente a partir de 2'33''. Como que gotas pingando. Nunca descobri como conseguiram essa sonoridade, que instrumento seria.

Meu amigo Rodrigo Russano acabou de esclarecer: "aro da caixa, batendo em angulações diferentes". Continua: "Existe outra possibilidade: batendo com os dedos na caixa de um violão ou outro instrumento acústico de cordas". E conclui: "mas  tudo é possível. De repente eles conseguem de outra maneira"

Enfim. Mistério que a vida me emprestou


Saturday, October 10, 2020

Uncle Walt, again


No dia 22 de setembro recebo whatsapp do meu pai pedindo que eu lhe traduza "I sit and look out upon all the sufferings of the world", do Whitman. Depois da contumaz procrastinação de dois dias, traduzo numa sentada só, não que fosse coisa mais simples, mas é que são apenas dez versos.

Tenho lá minhas desconfianças acerca do motivo do pedido do meu pai. Ele tem horror quando me ponho a falar de política. Mas se o poema estava em inglês... como ele sabia?

Em troca de mensagens (já lhe mandei a tradução), ele diz "Penso que em certas situações na vida nada mais resta do que observar, ouvir e silenciar", ao que replico "Sim, entendo. Walt Whitman acreditava que devemos dar voz àqueles que não têm. Por isso escreveu o poema". Ele responde imediatamente "Mais interessado fiquei no livro".

Uma paz se abate sobre a noite. Compro o Folhas da Relva e mando entregar lá em Copacabana.

 

I SIT and look out upon all the sorrows of the world, and upon all oppression and shame;

 

I hear secret convulsive sobs from young men, at anguish with themselves, remorseful after deeds done;

 

I see, in low life, the mother misused by her children, dying, neglected, gaunt, desperate;

 

I see the wife misused by her husband—I see the treacherous seducer of young women;

 

I mark the ranklings of jealousy and unrequited love, attempted to be hid—I see these sights on the earth;

         

I see the workings of battle, pestilence, tyranny—I see martyrs and prisoners;

 

I observe a famine at sea—I observe the sailors casting lots who shall be kill’d, to preserve the lives of the rest;

 

I observe the slights and degradations cast by arrogant persons upon laborers, the poor, and upon negroes, and the like;

 

All these—All the meanness and agony without end, I sitting, look out upon,

 

See, hear, and am silent.


 

Sento e vejo as tristezas do mundo, toda opressão e vergonha

Ouço soluços secretos e convulsivos dos jovens, angustiados consigo mesmos, cheios de remorsos

Vejo a mãe maltratada pelos filhos, morrendo, abandonada, descarnada, desesperada

Vejo nos baixios a esposa maltratada pelo marido – Vejo o traiçoeiro sedutor de jovens

Percebo as úlceras do ciúme e do amor não-correspondido, que tentam se ocultar – Vejo isso sobre a terra

Vejo os resultados da guerra, peste e tirania – Vejo mártires e prisioneiros;

Observo uma fome no mar – Vejo os marinheiros lançando alguns à morte, para preservar as vidas dos demais

Observo as durezas e degradações no trato dos arrogantes com os empregados, os pobres, os negros e semelhantes

Tudo isso – toda a maldade e agonia infinitas, eu, aqui sentado, vejo

Observo, ouço e me quedo em silêncio.