Sunday, January 29, 2012

Uma Aquarela para o Dante


Juntando-se aos desenhos e bico-de-pena de Nina, Cora e Fernando, agora uma aquarela do Dante. Se naqueles ele era ainda um neném (o mais belo do planeta), nesta ele é já um mocinho (de todos o mais guapo). Embora não seja ainda a versão final, gostei já um bocado e daí publico.

A obra é de Edneser L. M., rebelde artista galês autodidata, que jamais terminou os estudos por se recusar a preencher documentos em inglês. Edneser só escreve e fala galês.

Quando ele vem ao Rio, bebemos cerveja no Brother's Bar e no Costa. Ed me diz que, neste quesito, ele deixa Dylan Thomas no chinelo. Não digo nem que não nem que sim, porque sempre apago antes.

Abaixo um pequeno trecho de sua bio blurb:

Gweithio mewn olew a dyfrlliw, Edneser L. M. wedi ennill clod rhyngwladol fel arlunydd tirluniau ac mae ei enw da fel arlunydd portreadau hefyd yn sylweddol. Mae ei gwaith yn cael ei ddewis Bar do Costa yn rheolaidd ar gyfer y Gymdeithas Frenhinol Arlunwyr Portread Arddangosfa Flynyddol. Roedd Marista São José yn chwaraewr o'r radd flaenaf yn Vila Isabel rhagorol rygbi yn ei ieuenctid, felly ei bortreadau o chwaraeon Cymreig cyfoes, mae llawer bellach yn hongian mewn sefydliadau Brother's Bar mawr, yn dod o'r galon.

Saturday, January 28, 2012

Você Jura?



As far as single malt goes, costuma-se dividir a produção escocesa em Speyside, Highlands, Lowlands, Campbeltown e Islands. Islay é um caso especial desta última categoria, pela quantidade de produção e pelas suas características especiais. Minha preferência recai sobre as Ilhas e, não por acaso, sobre Islay, ou seja, já não posso imaginar o paraíso sem turva e fumaça. Já escrevi sobre o Laphroaig e o Caol Illa neste bloguinho.

Mas também adoro o restante das Ilhas: Scapa e Highland Park (ambos de Orkney) e, claro, o poderoso Talisker (da ilha de Skye). Faltava provar o Tobermory (de Mull), o Arran (da ilha homônima) e o Jura (idem). Até que.

O dia vinha sendo cansativo quando, quase que mecanicamente, vou checar se chegou alguma cerveja nova no Pão de Açúcar. Até tinha, mas a surpresa maior estava reservada para a seção de whisky, que aliás nunca checo porque é a sensaboria dos blendados de sempre. Mas desta vez lá estavam dois single malts: o Dalmore e o Jura. Caí pra trás. Então é assim? Dois maltes sequer encontrados no freeshop agora ao alcance de uma descidinha de casa? Isso deve ser mesmo sinal de que algo acontece em nossa economia. For the good or for the bad.

O Jura, claro, não decepciona. A expressão disponível era o 10 Year Old Origin, não turfado, mas ainda assim Ilhas, a lembrar o Highland Park, com um aftertaste delicado e notas de mel. O que pode ser um perigo.

Friday, January 27, 2012

Subi o Morro de São Roque

Há quase que exatamente um ano depois, diferença de um diazinho, de subir o Morro do Pinto, subo o Morro de São Roque. Um levou ao outro, bien sûr. Quando estava no Bar do Carlinhos, no alto do Pinto (epa), o dono me diz: "Igual a este aqui, só o Morro de São Roque...". Ando até o Reservatório do Morro, obra de 1874 a poucos passos do bar, não entro com medo do Aedes e na volta pergunto qual era mesmo o nome do outro morro. E ele reforça: de São Roque.

As informações na internet são escassas, o bom livrinho da coleção Cantos do Rio sobre São Cristóvão também é silente, mas descubro onde é o morro e passo a cortejá-lo, de longe, no ônibus a caminho do Rio.

Até que ontem subi. E o que encontro? Um punhado de casas da primeira década do século passado, um botequim-mercearia muito antigo, um chalé de madeira (!), como aqueles do Caju, a igreja modernosa feiosa mas que pretendo visitar, um Gabbeh posto a secar, uma rua chamada Frolick, muita tranquilidade. Na descida, já às margens da Barreira do Vasco, conheço um senhor de 95 anos, também ele dono de botequim, chamado... Seu Roque.














Friday, January 20, 2012

Difícil, quase Insuportável



Difícil, quase insuportável, o Anticristo do Lars von Trier. Talvez um pouco pretensioso, e indubitavelmente pesado em sua simbologia. Chamá-lo de filme de terror, no entanto, é tolo, embora uma e outra cena pueril talvez justificassem a etiqueta.

Junto a O Quarto do Filho, do Nanni Moretti, um dos episódios de Paris, te Amo (aquele com a Juliette Binoche), e o mais recente A Árvore da Vida, que sofre da mesma pretensão e do mesmo peso, comporá um painel das trenodias do cinema contemporâneo.

Wednesday, January 18, 2012

Bolinho de Vagem com Malagueta





Não é petisco de boteco dos mais tradicionais, o bolinho de vagem. Numa edição do Rio Botequim inteiramente dedicada à culinária de botequim, Guilherme Studart não o inclui. Conheço dois botecos de responsa que o servem: o Gato de Botas, em Vila Isabel, e o da Dona Maria querida, na Muda, mas este só aos sábados. Deve ter mais por aí, claro, mas não ao ponto de o bolinho rivalizar com o de bacalhau ou um caldinho de feijão. Minha vó, que tinha fama de boa cozinheira sem o ser, fazia um delicioso.

Então fui fazer os meus, pela segunda vez. Lembrando-me das celebérrimas empadas do restaurante / botequim A Lisboeta (tristemente fechado), resolvi colocar, em cada bolinho, durante a fritura, uma pimenta malagueta inteira. Já entrara pimenta ralada na hora na massa (a Fire Eaters, que adoro), mas a invenção aqui foi isso mesmo: colocar uma maldosa inteira no bolinho.

Acho que a harmonização ideal seria com uma pilsen bem gelada, porém, por amor de manter a macheza, fui de Baden Baden Red Ale, ainda por cima à la England, isto é, bem pouco gelada.

Evoé Baco.

Sunday, January 08, 2012

Toda Literatura é Auto-Ajuda



Na primeira noite sonhei que um ônibus levava minha mochila e sacola. Peguei um táxi para segui-lo mas, claro, o tàxi parava em todos os sinais enquanto o ônibus sumia de vista.

Na segunda noite sonhei com estilhaços, muitos, e, na terceira, com leões, grandes e ameaçadores. Sonhos tão clara e facilmente simbólicos que dir-se-ia talhados para o divã ou, pelo menos, para um desses manuais de interpretação que se vendem nas bancas de jornal das rodoviárias.

No quarto dia, literalmente, não era noite, peguei o volume de contos do Tennessee Williams, que chegara há uns poucos dias. Eu já sabia que o volume era organizado em ordem cronológica, de modo que fiz questão de não começar pelo início.

Abri a esmo em ¨The Angel in the Alcove¨. Ora, um conto que começa por "Suspicion is the occupational disease of landladies and long association with them has left me with an obscure sense of guilt I will probably never be free of.", ora, dizia, um conto que assim começa de maneira tão arrebatadora não irá senão deixar-me a sensação que intitula este post.

Certeza que eu já tivera, de maneira igualmente clara, ao começar The Dying Animal, do Roth,em janeiro de 2010.

Senti-me menos só e é nisso que a literatura nos ajuda: fazemos parte deste mundo, com o que ele tem de tocata de Bach e de sordidez.

Comentei isso com o Cristóvão Tezza em nosso rápido encontro, contando-lhe que seria pueril e depreciativo chamar O Filho Eterno de auto-ajuda, mas que ele tinha me ajudado pra cacete, isso tinha.

Voltando ao Tennessee, apenas conhecido por suas peças: por aí se avalie a força da literatura norte-americana, meio que tacitamente desprezada pela intelligentsia de plantão.