Monday, June 22, 2020

"Come Together", Chuck Berry


Sempre gostei da "Stand by me" cantada pelo John Lennon, de modo que pensei nela para dica musical do dia. Coloquei-a no spotify e depois deixei rolar. Eu não conhecia o álbum Rock and Roll senão de nome. Tão logo começou "You can't catch me", eu e Camila nos entreolhamos: "Epa, isso é 'Come together'!" Pareceu-nos óbvio, ainda mais depois de ouvirmos a versão do Chuck Berry.

Aí, com as modernidades de YouTube, logo tínhamos o quadro em frente dos olhos. John sabia desde o início das grandes semelhanças, tanto que foi advertido pelo Paul para fazer modificações. Quando, no entanto, os representantes do Chuck Berry vieram pra cima dele -- apesar do título da música e mais por causa dos versos "Here come old flat-top / He come groovin’ up slowly.” do que por qualquer outra coisa -- , John cinicamente se esquivou, dizendo que uma música não tinha nada a ver com a outra. Ou quase isso.

O corolário foi um acordo que previa a gravação por John de algumas músicas também da propriedade de Morris Levy, o então dono da música de Chuck Berry (não era o próprio!). Com isso, Levy ganharia seus loyalties que não recolheu com a "Como together"

Acho que o John não conduziu muito bem a questão, ao refutar uma acusação que ele sabia ser procedente. Pior foi sua deselegância quando George Harrison enfrentou problemas iguais, ao ter sua "My sweet Lord" acusada de plágio. Quando George perdeu o caso e teve que desembolsar uma fortuna, John disse "Por que Ele não o ajudou?". Por Ele John se referia ao doce Deus.



Enfim.... John sendo John?



Sunday, June 14, 2020

Somos pai e filho


Há pais que dizem:
Meu filho, se quiser mais chocolate, que pegue,
e que beba na cozinha.
Eu não. Me levanto
e trago pra varanda
ele paga com sorriso
É tão bom, só a gente sozinhos na varanda,
chove chuvinha miúda
que deveria se chamar poejo
ou, vá lá, hortelãzinha

Coisas prateadas espocam:
somos pai e filho.

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É a segunda vez que rasuro este mesmo poema da Adélia, 'Casamento'. A primeira foi aqui

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Thursday, June 11, 2020

Assistindo ao "Cobra Verde"



Por sugestão do Dave, my American dad, com quem felizmente retomei contato após um hiato que já se tornara angustiante, assisti há três dias ao Cobra Verde, filme de 1987 do Herzog.

Apesar de algumas críticas, gostamos bastante, a mim me agrada certa visão de mundo desesperada do Herzog, conforme eu já vira em Aguirre. Aliás, há alguma coisa de Aguirre aqui.

E aconteceram sucessos extraordinários:

1) O filme começa com o Cego Oliveira do Cariri! Por uma coincidência veramente incrível, o vinil duplo que tenho estava fora do chão, fora da estante, era o único disco fora da estante

2) O filme é baseado num romance de Bruce Chatwin, de 1980. Este romance trata da vida de um comerciante de escravos chamado Francisco Félix de Souza, ou seja, possivelmente antepassado do meu amigo Raul Félix de Souza. O Raul reconhece o fato, já pesquisou, ele que pesquisa tudo, sobre a vida desse seu antepassado xaxá, como ele era conhecido. O Raul acha que é só uma coincidência

3) Boa parte do filme tem como locação o assombroso Castelo de São Jorge da Mina, em Gana, tão bem documentado no livro Do outro lado, que possuo. Mas aqui a coincidência nem foi tanta. Mas a vontade de conhecer este local fantasmagórico enraizou-se aqui já

4) Eu tinha a trilha-sonora do filme, comprada na Alemanha em 2007. Nunca tinha ouvido. Aliás só fui descobrir que tinha quando o filme terminou

5) Camila quedou-se mesmerizada pela cena final, em que as moças locais dançam e cantam  "Die singenden Madchen von Ho, Ziavi". Perdou o sono embaixo do sofá, só veio deitar-se de madrugada



Tuesday, June 02, 2020

Seu Júlio Pegou Fogo


Embora minha mãe me criasse debaixo de sua asa, quando ela estacionava o carro no fim da tarde em frente à Escolinha do Pintor, na Rua Borda do Mato, ela me deixava descer uns 70 metros até o Armazém do Seu Júlio, onde, com moeda de 50 centavos, eu comprava um Alpino.

Era um dos highlights da minha vida

Um dia o armazém pegou fogo. Até hoje me lembro do Guilherme me contando, excitadíssimo, 'O Seu Júlio pegou fogo', tão perfeito ele em suas metonímias, no alto de seus seis anos, no alto de seus óculos

Esse Guilherme foi um dia retirado da Escolinha do Pintor e colocado no São José. Para grande frustração do seu pai, não sei como eu soube disso, e para enorme alegria minha, ele voltou. "Não se adaptou". Aquilo me marcou, então era possível não se adaptar. E voltar.

O Seu Júlio pegou fogo.

Como frequentei a Escolinha do Pintor até 1975, o fogo foi neste ano ou no anterior.

Até hoje o armazém, imponente e linda massa ardecô, continua no mesmíssimo estado, passados 45 anos. A foto é de hoje, rápida fuga em meio à pandemia.