Saturday, March 11, 2017

Cego Oliveira, Eterno



Eu tinha uns disquinhos compactos (vinil, claro) lançados pelo Museu do Folclore que ouvi até derreter o acetato e aquelas gravações tornaram-se a referência contra a qual todas as demais deveriam ser colocadas à prova. Quando ouvi uns cocos em uma gravação do Marcus Pereira, não gostei nada, a gravação era asséptica demais, aquilo não era o meu coco alagoano ou cearense.

Este disco duplo do Cego Oliveira preenche perfeitamente o que espero da música regional. Foi presente do indefectível Felipe Barroso em 1992, chegado pelo correio desde Fortaleza.

Era por coisas assim que Villa-Lobos e Mário viajavam Brasil adentro. E Bartók e Kodály, Hungria afora, com as mãos em concha tentando salvar do eterno olvido a riqueza ancestral. Aliás, era botar Oliveira cantando em magiar que confundia Bartók. Numa audição às cegas, também eu podia julgar estar ouvindo Muzsikás.

Sabe-se que a rabeca é geralmente tocada no antebraço. Oliveira tem o seu jeito peculiar de tocá-la encostada na cabeça.

De todo o disco, a preferida segue sendo "Essas mocinhas de hoje". O vozeirão do cego batizado pelo próprio Padim Ciço reboando na alma. Ele e Clementina, as vozes.

Peguei isto pra ouvir depois que o Guilherme Gontijo Flores postou no face o link do disco com as palavras "Obrigado mundo, por me dar a ouvir Cego Oliveira". Guilherme é editor da Escamandro, traduz do latim e é também pai de um Dante. Não é pouco.








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