Thursday, December 31, 2009

O Disco do Ano e O Disco do Ano



Sempre que penso em um disco do ano, faço-o em duas frentes: o disco lançado no ano que passou e o disco de que mais gostei no ano, independente de quando foi lançado. É possível que haja interseção entre as duas categorias, como poderia ser o presente caso, mas, for the sake of variety, escolhamos dois álbuns diferentes.

Nada aqui é a ferro e fogo. Fico com estes dois, ambos maravilhosos, como poderia ontem e poderei amanhã me decidir por outros.
Na categoria, pois, "descoberta do ano", fico com o Love Hate Round Trip (2006), da banda italiana Areknamés.

Na categoria "lançamento de 2009", fico com o Hazards of Love, dos norte-americanos The Decemberists.

O Areknamés nos propõe um progressivo sinfônico pesado, muito soturno, emocionado, denso, com um trabalho de produção acima da média. A comparação com o Van der Graaf Generator é inevitável, e olha que é difícil encontrar bandas claramente influenciadas pelo VdGG, muito mais difícil do que encontrar influenciadas por Yes, Genesis, ELP ou King Crimson. Isso se dá porque, para lembrar o Van der Graaf, mesmo que vagamente, deve haver uma semelhança com o que a banda inglesa tem de mais notável, os vocais de Peter Hammill. (E não, como boa parte de uma crítica incipiente e preguiçosa amiúde faz: "Tem sax? Lembra VdGG!"). E como é difícil assemelhar-se aos vocais únicos e apaixonados do Peter! Bem, mas a voz de Michele lembra muito a do Mr. Hammill, impressionante! Tanto o timbre quanto o alcance e a impostação e a enorme dramaticidade. Claro que a qualidade maior do álbum não se resume a "lembrar VdGG". As composições são soberbas e complexas e há um peso, com riffs sabbathianos, de todo ausente do Van der Graaf.

O engraçado é que cheguei a fugir desta banda quando na Halley me disseram, falando de seu primeiro trabalho homônimo (2003), que o som era doom. Ouvir isso e ver que o disco fora lançado pelo selo genovês Black Widow afastaram-me. Acabei comprando o Love Hate na Rock Symphony sem esperar muito. Caí de quatro.

Só para terminar: a música "Ignis Fatuus" bem poderá ser lembrada como a "House with no Door" dos anos 00. Digo isto porque não consigo pensar em elogio maior.
Em uma época em que o importante é baixar musiquinhas para servirem de ringtones para o celular, lançar uma ópera-rock com 17 canções interligadas que fluem ininterruptamente, como fazem os Decemberists nesta obra-prima que é Hazards of Love, é marca inequívoca de uma atitude progressiva. O som transita entre o indie, o pop de altíssima qualidade (David Bowie inicial, Talking Heads, Pulp) e o progressivo, mas a fatura é predominantemente folk, seja na instrumentação, seja nas letras.
Ópera-rock, o disco nos apresenta uma história repleta de verve. Percebe-se um cuidado estrutural quase joyceano (sei que exagero): entre as 8 canções iniciais e as 8 finais, um interlúdio, instrumental, belíssimo. Depois dele, os temas retornam com novas e variegadas roupagens, como "The Hazards of Love" e "The Wanting Comes in Waves".

Difícil dizer que as letras são o ponto forte do trabalho, pois isso pode implicar que a música vem em segundo plano, o que não é verdade. Mas as letras, sim, mostram como o manancial folk é inesgotável e está sempre sujeito a releituras. Repletas de inventividade e maldade (o folclore é cheio de perversidades, senhores, não estamos a falar de Disneilândia), elas nos levam a um mundo fantástico e, por isso mesmo, ambíguo. E, sem querer, faço um link com o post anterior, o do malfadado leiteiro: se viver é muito perigoso, não o será também amar? Hazardous.

Outro ponto alto reside nos vocais. Os de Colin Meloy são desenvoltos e sinceros. Os femininos, apaixonados e operísticos. Os coros, estupendos.

Obra-prima. E pensar que ainda existem aquelas viúvas insuportáveis dos anos 70...

Wednesday, December 30, 2009

A Felicidade do Leiteiro ou Não Amarás


Um dos episódios mais perturbadores da monumental obra O Decálogo, do Kieslowski, é o sexto: Não Cometerás Adultério, que depois saiu em filme separado sob o mais apropriado título Não Amarás. O quinto, Não Matarás, também saiu em filme posteriormente, mas aí não foi necessário mudar o nome. Para quem estiver interessado em Kieslowski (pode-se não estar?), é preciso assitir ao filme e ao episódio do Decálogo, de vez que há diferenças entre os dois, principalmente no final.

(Antes de falar do episódio: chamei-o de um dos mais perturbadores, já que O mais, sem dúvida, é o primeiro, tanto que não tenho coragem de rever)

Não vou aqui fazer uma crítica do filme, mas apenas comentar uma cena, que dura pouco mais de trinta segundos: aquela em que o jovem leiteiro corre em alegria incontida puxando atrás de si sua carreta de garrafas de leite.

Esta cena se dá logo após uma outra, dura, quando ele, Tomek, um jovem de 19 anos, trava diálogo com o obejto de sua paixão, Magda, uma mulher mais velha, em seus trinta. Eles estão no corredor do prédio dela. Ela esperou que ele fosse deixar a garrafa de leite para golpeá-lo com a porta. Na noite anterior ele fora agredido por um dos amantes de Magda e está, portanto, com o olho roxo. Ela o humilha, mas está curiosa para saber por que aquele jovem, para ela insignificante, a espia.

- Por que me espia?
- Porque eu te amo. Amo mesmo.
- E o que você quer?
- Não sei.
- Quer me beijar?
- Não.
- Talvez queira ir comigo para cama. Ou melhor, fazer amor comigo?
- Não.
- Então o que quer?
- Nada.
- Nada?
- Nada.

(Ele caminha pelo corredor de cabeça baixa. Depois volta-se e caminha para ela)

- Poderia convidá-la para um café? Ou um sorvete?

Corte.

E a cena, filmada do alto, mostra o garoto Tomek em sua desabalada correria, numa felicidade suprema. Pela primeira e única vez em todo o filme (em sua vida), ele está despido de sua timidez e de seus temores. É um homem apaixonado e, nesta cena, "correspondido". A câmera gira de modo a transmitir-nos um pouco de sua vertigem. Ele esbarra em um homem, a quem, cheio de vida, pede desculpas.
E é só.

Magda, uma mulher experiente e promíscua, não acredita (mais?) em amor. Isso lhe poupa de um bocado de trabalhos e dores e palpitações e esperas e frustrações, não? Sábia Magda, inda que, creio, isso não tenha sido escolha sua. Não se pode decidir que se vai acreditar ou desacreditar em amor. Isso é o que a vida faz com a gente. Mas, retomando, isso impede Magda também de ter aqueles trinta segundos do Tomek...
PS: A foto mostra Tomek, funcionário do correio, e Magda. É que ele trabalhava no correio, apenas para enviar-lhe ordens de pagamento falsas para que ela fosse ao seu local de trabalho. O trabalho de leiteiro também foi apenas para acercar-se dela.
PS2: E o final do filme? Como fica, então, essa questão entre amor inocente e descrença total?

A foto aclássica de botequim



Foto clássica de botequim todos sabem como é: copo cheio em punho levantado. Com meu pai é diferente: livro em punho. Clássico dele. O livro é... bom, dá para vocês verem. Eu tencionava dar-lhe de presente; ele, como sempre mais rápido, me deu.


O "botequim" não é bem botequim, é restaurante, embora já tenha constado em edições do Rio Botequim. Aqui escrevi o poema no guardanapo do post abaixo. Quem descobrir o nome do restaurante, ganha chopp no dito cujo. Pista (para além da foto que já é pista e tanto): é o meu favorito, onde espero que deixem (pedido em testamento lavrado no 9o Cartório) parte de minhas cinzas quando morto estiver meu corpo. Se eu der a pista do prato carro-chefe da casa, perde a graça...

Tuesday, December 29, 2009

A poesia sopra onde quer

Já que falei recente em "orkut à moda antiga", não tem aquela história de escritor que escrevia em tudo quanto era lugar: caderninhos, contas de telefone e, claro, guardanapos? Clarice era assim, um monte era. Hoje é mais provável o cara abrir o notebook no colo para, depois de alguns chopps, escrever uma poesia feita literalmente nas coxas. Mas não há crítica aqui, tipo antes que era bom, hoje é ruim.

De qualquer modo, tinha eu hoje almoço com o pai. Cheguei meia hora mais cedo e ele, vinte e cinco minutos mais tarde, o que me deu a bagatela de quase hora para preencher. Pedir algo para comer não vale; para beber, claro, vale. Escrever um poema no guardanapo também.


MORNING DREAMS


"If I ain't dead already
Oooh girl you know the reason why"
Lennon


Aren't foolish those who are
satisfied with their dreams at night?
Fools are they
'cause the night
friend or foe
gives itself enough feed
and veils with its wings our minds.

I dream in the morning
the same dream
I dream.

Though recurring
and painful
never do I get enough.

You call me up
saying you miss my voice and my tender ways.
We talk for hours.

How hackneyed it is.
But it is a dream.
No control over it, girl.

Sunday, December 27, 2009

Uma razão para 2010

Passei dois dias pensando em um post para Prokofiev, já tinha título e tudo, e eis que este sobre Mahler atropela o russo.

Não que eu ande atrás de efemérides ou prestigie apenas números redondos, mas é que 2010 já tem uma razão de ser: é o sesquicentenário de nascimento do grande Mahler, Gustav Mahler. "Sesquicentenário" é palavra esquista, a mim sempre lembrou "seiscentos", quando, na verdade, vocês sabem, quer dizer cento e cinquenta.

Estranho isso também... só 150? Então quase fomos contemporâneos, e não estou brincando...

Há 150 anos nascia este homem irascível, difícil, extremamente sensível. Amou uma Alma e por ela perdeu a sua. "Previu" a morte dos filhos nos fantasmagóricos Kindertotenlieder. Vivia em guerra com Deus e o mundo, literalmente, e foi, acima de tudo, apátrida, três vezes apátrida. Lembrei-me de que em Taipa escrevi um poema chamado... "Apátrida", do qual citarei apenas os dois primeiros versos: "Ler tua poesia me é triste / Como um adágio de Mahler."

Gosto tanto, mas tanto de Mahler, que quase não o ouço. É uma música de que realmente tenho medo. Tenho dificuldades para encarar de frente a Sexta, a Quinta, a Primeira e, principalmente, a Nona, embora eu faça de tudo para assistir se forem tocar ao vivo.

Aliás. E a propósito. E desanuviando un peu o post que está pesado: assistir aos ensaios da Nona Sinfonia pela Orquestra da Petrobrás, em 2007, foi um prazer e uma honra indescritíveis. Graças à harpista Rafaela, que deve comentar por aqui...

Tu sarai grande

Por este blog celebramos alguns mensários do Dante, não é justo que não se fale de seu aniversário, seu primeiro aniversário.

Em 2008, numa tarde de sexta, fomos ao Dr. Paulo e ele, sempre muito tranquilo e sorrisos, nos diz que o bebê está maduro. Às seis da tarde, uma hora aberta, Dante já está neste mundo confuso e belo. Era 19 de dezembro.
Depois minhas pálpebras se fecham e, quando tornam a se abrir, Dante já tem um ano de vida. (Mas quantas quantas quantas coisas não couberam neste abrir e fechar de pálpebras).

À festa compareceram pessoas queridas, um bobo, muitos bichinhos.

Ao meu filho dedico estes versos do Locanda Delle Fate, que fecham este que é um dos discos mais bonitos, maduros, apaixonados e apaixonantes do rock progressivo italiano dos anos 70, o Forse le Lucciole Non Si Amano Più, no improvável ano de 1977. Aliás, agora que escrevi sobre a data, me ocorre que estes versos fecham não apenas este álbum, mas a própria cena progressiva italiana dos anos 70:

Tu sarai grande più di Icaro,
ti guarderai volare.

Saturday, December 26, 2009

Orkut à Moda Antiga

Vejam que interessante. Colei uma foto minha com o Dantuca no gavetão do arquivo da Equipe de Inglês na Sala dos Professores. Aliás, dizer "uma foto" é errar: colei a foto ou esta foto que acaricia este blog. (Sim, tenho outras fotos com o patifinho, mas que no momento é esta a minha fave.) E aí, um dia depois, encontrei um recadinho junto a ela, a que se seguiram outro e outro e outro e outro. Acho que depois desta foto ainda teve outros. Colegas que tiveram ganas de comentar alguma coisa e foram deixando scraps...

Friday, December 25, 2009

Um Flamboyant passou por aqui

Há muito queria escrever sobre estas árvores que sangram nosso verão: os flamboyants, as Gulmohar trees...
Bom, passeando muito pelo Grajaú (eh, virou tag por aqui?), é inevitável: um aqui, outro ali, às vezes as copas chegam a se juntar...

Wednesday, December 23, 2009

Dolce Acqua

Ontem, meio que do nada, peguei para ouvir uma banda que não ouvia há muito: o Delirium. O Delirium me traz lembranças muito nítidas de 1985 e de 1998. Falarei apenas destas últimas. Ana Beatriz e eu acabáramos de chegar de nossa primeira viagem à Itália. Chegamos nós, porque todas as três malas haviam se extraviado, o que nos causou imensa consternação. A mim porque uma delas continha APENAS CDs. Uma mala estourando de CDs. Já em casa, passadas algumas horas, nos ligam do aeroporto dizendo que duas malas haviam, enfim, aterrissado. Voamos para lá e eis que... a dos CDs chegara, que alegria! Em casa, ponho logo para tocar o Delirium, que eu não ouvia desde....85, mas que guardava na alma como se tivesse escutado no dia anterior. Tanto que, ao final da música "Jesahel", canto junto "one, two, three, four", para meu espanto (nem eu sabia que lembrava tão bem) e para espanto e raivinha da Ana, já que a mala de roupas dela não chegara. Percebo meu egoísmo e refreio minha empolgação. Mas sua mala chegaria no dia seguinte.



Um dos destaques deste primeiro Delirium parece-me, sem dúvida, a canção que dá nome ao disco. Uma faixa quase toda instrumental, em crescendo, na qual os instrumentos vão sendo lentamente adicionados.



O ótimo crítico Riccardo Storti, em seu livro dedicado exclusivamente à cena do rock progressivo na Gênova da primeira metade dos anos 70 (dá para ser mais monográfico?), reclama de certa monotonia, já que o motivo da flauta é repetido muitas vezes. Não percebe ele que esta repetição, climática, tem a função de preparar-nos para a entrada triunfal, messiânica, à la Jesus Cristo, de Ivano Fossati e sua voz de barítono:



Verde prato

dentro me.

La tempesta è passata,

non è mai freddo.

Dolce acqua.

Tirei a letra de ouvido, o que a torna sujeita a erros. Fossati canta apenas isso. Mas quem canta com aquela voz que há um verde prado dentro de si e anuncia fim de tempestades precisa dizer mais alguma coisa?

Monday, December 21, 2009

Concerto para Cigarras e Orquestra em Sol Maior

Saí do Grajáu por duas vezes: em 1980, quando minha irmã casou, e em 1995, quando casei eu. Da primeira vez, voltamos em 1985, depois de uma estada no Andaraí. Dentre outras coisas, preocupava-me sobretudo sair do bairro para outro em que não houvesse tantas cigarras. Porque as do Grajáu, ah, eram copiosas. E boas cigarras que eram, rebentavam de cantar não apenas na hora clássica do crepúsculo, mas também em plena madrugada quente! A lembrança de ouvi-las às 2 da manhã é indelével.

Neste ponto, e em outros muitos, o Ingá não me desaponta. A cigarrada por aqui é onipresente e, tal qual as de lá, recusa-se à cantoria da hora costumeira apenas (mas que é a hora que mais dói), ciciando de dar gosto pela manhã, principalmente por volta das 10.

As do museu são tão absurdamente loquazes (lembrai-vos da Cecília que queria, como elas, morrer de cantar) que sobrepujam amiúde a música (sempre alta, a me estourar os tímpanos) que me vem do fones de ouvido.

Daí a ideia de escrever um Concerto para elas. Em Sol Maior, claro.

Montemos a orquestra, que as cigarras já temos:

Rafinha tocará harpa.
Giulia, violão.

Alguém mais se habilita?

(Ah, Dante eu e ensaiaremos as cigarras)

Sunday, December 20, 2009

O coco do Valdecir

Tutuca e eu sempre paramos no Valdecir para um coco. O coco aqui tem estilo, personalidade, guardanapo, cestinha, banquinhos, a simpatia do Valdecir e de sua cadela gorda e preguiçosa, brisa, uma sinfonia de cigarras e, claro, a vista.

Era 996 e chovia


Quinta passada, dia 17, foi aniversário da mãe, então a ideia era dar uma passada no Grajaú antes de ir ao show do Flor de Loto. Problema foi que me atrasei, custei a sair de casa e daí, dentre as várias opções possíveis (703, barca), creio ter escolhido a pior delas: 996 e depois táxi.

Tão logo entrei no ônibus percebi que os passageiros evitavam os lugares preferidos, mesmo em uma cidade perigosa: as janelas. Pudera, chovia nos assentos dos cantos! O sistema de ar condicionado gerava pingos e fios d'água que encharcavam os bancos! Pequeno prenúncio do torozão que ainda estava por vir do lado de fora do ônibus.

Consegui assento no corredor, mas, no que o ônibus vai enchendo aos poucos, mesmo os assentos sujeitos a chuvas e trovoadas são tomados, embora eu gentilmente avisasse aos que vinham se sentar do meu lado: "Ó, tá chovendo...".

Quando o ônibus está para pegar a ponte, foi o que se vê na foto: abrem-se guarda-chuvas! E começam a tocar "La Valse D'Amélie", do Yann Tiersen, no acordeão! Palmas estalam por todo o veículo. Eu e a passageira do lado (que, sim, está levando pingos na cabeça) começamos a conversar ("Pode isso?" "Bem, se até em Paris tem" "Pelo menos não é funk" "Nem hip-hop"). Ela é Roberta, uma... antropóloga, que trabalha no Viva Rio e vai tentar o doutorado em breve. Não hesito: conto-lhe acerca das minhas muitas antropologices amadoras pelo sertões de Goiás e pelas praias (quando as havia) do Ceará...

Então é isso: chove no ônibus, tocam Amélie Poulain e ao meu lado descubro uma antropóloga.
It's not every day, that's what they'd say...

Friday, December 18, 2009

TPA

Neste exato momento, são 23:25, sofro de tensão pré-aniversário. Dante completa um ano amanhã. Se começo a pensar, fico realmente confuso. O melhor é não pensar?

Tutuca Miguilim




Não sei se sabem, ele mesmo finge não saber, mas Tutuca terá que usar óculos. Não é nada fácil convencer isso a um infante ainda tão quente de útero. Na foto, ele parece resignado, não? Mas o que ele gosta mesmo é de tirar os óculos da cara, esteja onde estiver. No início, usamos uma corrente-molinha para prender o dito cujo em seu rosto, e daí ele tinha certa dificuldade em tirar. Hoje adotamos o stopper, cujo significado para mesmo no nome, já que os óculos não param na cara. Com este stopper, ele tira os oclinhos com uma tranquilidade de gente grande, um charme só.

Fizemos os óculos na Ótica Ana Paula, na Galeria Condor, no Largo da Machado. Uma história muito interessante, a da ótica Ana Paula. Ela tem um sobrinho com Síndrome de Down, o João. Desde muito pequeno, perceberam que ele necessitava de óculos. A primeira oftalmo, no entanto, negou, disse que sua visão era normal. Como a família insistiu, acabou levando-o à Andréia Zin, que viria a ser a oftalmo do Dante mais de dez anos depois, que detectou.... doze graus de miopia. A tia Ana Paula ficou tão cismada com aquilo que descobriu sua vocação: largou seu trabalho e investiu em ótica. Para crianças. Hoje a única especializada em nosso estado. As fotos das crianças são de sua ótica, o que mostra que Dantuca estará em muito boa companhia de crianças lindas e cheias de vida. Se ele aceitar os óculos, é claro.

Tem que ter PS: a ótica fica na Galeria das esfihas, este o nome verdadeiro, o Condor é só para impressionar Castro Alves. E a esfiha, the one and only, é a da Pizzaria Oriental, que não serve pizza, e sim impagáveis esfihas engorduradas. O vulgo parece preferir a "Rotisseria Sírio-Libanesa", muito maior, mais formal, mais limpa. Não troco a Pizzaria Oriental por nada.

Friday, December 11, 2009

Nick, Árvores & Ingratidão


De certo modo, este post é continuação (prometida) daquele sobre o Nick.

Nick Drake é, hoje, referência incontornável no mundo dos singer-songwriters. Sem fazer muita pesquisa, cito de cabeça aqueles normalmente lembrados como influenciados por ele: Ray Lamontagne, José González, Elliott Smith, Jack Johnson, Fionn Regan, Bon Iver, Alexi Murdoch. Destes, acho que o Jack não tem nada a ver com o Nick, quase o mesmo acontecendo com o Ray. O Elliott Smith é notável, mas tem um lado meio punk de todo ausente em Nick.

Alexi Murdoch, o mais "recente" do grupo, tem um timbre de voz muito semelhante e ótimas canções. Tem um disco só, Time without Consequence, mas já fez a trilha-sonora do Away We Go, filme do Sam Mendes que deve chegar por aqui em fevereiro de 2010.

O Andrew Bird e o Damien Rice, que nem botei na lista, são os melhores, mas suas canções são cada vez menos folk.

O José González, com os discos In Our Nature e Veneer, também é o melhor e, este sim, carrega na alma o ethos nickdrakeano. José González é genial.

Porém o mais interessante disso tudo é que toda essa enorme influência do Nick não poderia ter sido jamais imaginada por ele, por sua família, por seus esparsos conhecidos, por seu pequeno público. Nick passou a carreira quase que inteiramente despercebido. Já completamente desiludido, ele deixou as fitas masters do Fruit Tree na portaria da gravadora e se mandou. Como quiseram dar-lhe mais uma chance, ele gravou o disco em apenas duas sessões, da meia-noite às duas da manhã. Imaginem o frio e o silêncio do estúdio. Este frio e este silêncio ouvem-se nas canções, ainda que sua voz aveludada nos traga certo calor.

Depois deste disco ele percebeu que nada mais tinha a fazer neste mundo.

Foi só em 1999, depois que a música "Pink Moon" apareceu num comercial da Volkswagen, que o sucesso veio. Com o reconhecimento, seus discos passaram a vender. E hoje todos querem ser Nick. Mesmo os que não querem têm que lidar com sua figura, in a way or another.

Já usei a palavra "interessante", então direi que o mais incrível nisso tudo é que ele próprio já previra esse sucesso póstumo na canção "Fruit Tree", a penúltima do Five Leaves Left.

"Fame is but a fruit tree, so very unsound
It can never flourish till its stalk in in the ground
So men of fame can never find a way
till time has flown far from their dying day."

O refrão perfeito:

"Forgotten while you're here, remembered for a while
a much updated ruin from a much outdated style."

E a assombrosa última estrofe:
"Fruit tree, fruit tree, no one knows you but the rain and the air
Don't you worry, they'll stand and stare when you're gone
Fruit tree, fruit tree, open your eyes to another year
They'll all know that you were here when you're gone."

E como palavra puxa palavra, esta solitária fuit tree me traz à mente uma outra árvore, A Árvore Generosa, belíssima tristíssima história de Shel Silverstein. Gostava de contá-la em 1991, para a turma do Arthur, da Julia Pelajo, Julia Dornelles, Juliane, Antonio Manoel, Rafinha (que tudo ouvia), Carol, Alice, Alicinha, quando eu trabalhava no Tabladinho. Contava até eles, que tinham quatro anos, chorarem. O Arthur, levadíssimo espertíssimo, fazia biquinho e coçava os olhos, dizia que tinha entrado cisco. Nunca me esqueci dessa história, mas o livro se perdeu ou o deixei como legado na escolinha. Foi só bem recentemente que o nome do livro (este sim eu esquecera) me veio cristalino numa manhã de sexta. Chequei na Estante Virtual, o próprio. Descobri edição nova pela Cosac Naify, com a mesma tradução do Fernando Sabino e com as mesmas ilustrações.

A história, naturalmente, permite diversas leituras. É fácil ver no menino representação exemplar da ingratidão, mas essas facilidade não retira dessa leitura sua validade. O menino é um ingrato, ao menos salva-o (será?) o fato de que ele permance menino por toda a narrativa, mesmo quando já se tornou um velhinho curvado com dentes fracos demais para maçãs (que a árvore, ao final apenas um toco, já não tinha). Essa leitura de que o menino não cresce encontra suporte nas palavras mesmas da árvore: "Venha, Menino, depresa, sente-se em mim e descanse." e nas do narrador, em sua visão-com a árvore: "Foi o que o menino fez".

Exigir que o menino tenha seu momento epifânico como King Lear (afinal, o maior relato já escrito sobre ingratidão) é pedir demais de um menino, mesmo porque a história acaba e não nos parece razoável imaginar o que aconteceria em páginas náo escritas.

E a árvore, que tampouco é uma Cordelia (again, Shakespeare), apenas cumpre seu destino. Ela é aquela mulher sem nome do conto "Death in the Woods", do Sherwood Anderson.

Não pensem que leio apenas Drummond, mas não há como fugir desses versos:

"Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão."

Ah, o livro é dedicado a um... Nick.

E este blog o que é? (É ladrão de muié?)

Este blog nasceu com a finalidade muito clara de relatar meus passos em Goa, daí o nome. Serviu para tal? Sim, sim, bem até, inclusive pessoas pouco ou nada afeitas a estas linguagens passaram a drop by eventualmente para ver o que fazia este aqui lá na costa do Malabar. Falo de meu pai e de minha mãe.
Depois vieram outras viagens: Alemanha, Goa novamente, Escandinávia, e este já se tornara um blog de viagens.
Quando Dantuca nasceu, achei por bem continuar usando este espaço para dele falar, já que Dante era / é uma viagem, a por tanto adiada, a mais fascinante.
Hoje, percebo, o blog tornou-se um pout-porri de temas, nem sempre interligados. Viagem viagem ainda não houve outra; viagem Dante, sim, e é esta a função principal do espaço. Como gosto demais de sons, eventualmente trato de música e músicos. Cheguei a criar um blog específico para este fim (o progressiva-mente), mas logo me dei conta de que era melhor um bloguinho gordinho do que dois macilentos. E quando falo de Nick Drake, de Turid, de Moon Safari, tenho a pretensão (a palavra é esta, o escritor, mesmo o blogueiro, é um pretensioso) de que os leitores interessados em notícias do Dante (leitores estes que não iriam acessar um blog especializado como o progressiva-mente) fiquem também levemente interessados.
E assim vamos: Dante, música, experiências, cotidiano, poesia, cervejas, teaching, árvores, culinária: tudo são viagens, que a vida, enfim, num magoa.

Wednesday, December 09, 2009

Going Indian for a Change


But if I could it wouldn't be a change, for I'd go Indian every day!

Foi Lúcia que me chamou ontem à noite para falar da comida de hoje. Claro que o curry, insuperavelmente aromático, eu já sentira pela casa. Ela queria era saber se servia com arroz integral mesmo ou com batatas. Falei-lhe da abundância de amido e que o arroz ideal seria o basmati, que eu tentaria comprar mas nem tentei. Ficamos com o frango ao curry, arroz integral e batatinhas um-dois-três (e mais espinafre e feijão, nos quais nem toquei). Rosana, que tem nos regalado com visitas às quartas, não falhou e se fartou conosco.

Do almoço indiano tirei dois pretextos: Pilsen gelada e lupulada e uma visita à banquinha do Seu Cláudio, um sujeito engraçado que passa os sete dias da semana na esquina da Presidente Pedreira com a Nilo Peçanha descascando laranjas. Poi zé, uma breve visita mostra que nem só de laranjas vive Seu Cláudio, pois que em sua birosca ao ar livre comprei pimentas dedo-de-moça e doce de jaca (somos entusiastas de sobremesas leves).

Tuesday, December 08, 2009

Carrinho-Fantasma ou As Monções estão chegando

Vejam isso, um carrinho-fantasma! Não fossem aqueles pezinhos internacionalmente conhecidos, talvez o anonimato pudesse mesmo ser mantido.
Eh, ontem fizemos breve passeio eu e Ana com o Dantuca quando a chuva nos colheu em cheio! E ele dormia, pobrezinho! E volta pra casa ligeiro, com o carrinho assim todo coberto. Ao pararmos na porta da padaria da esquina, à espera de que o sinal fechasse, a mãe mete a cara carrinho adentro para ver como está o pequeno e ele, já acordado pelo sacolejo da corrida e pelos pingos, está com uma cara de "Enfim, vocês podem me explicar o que está acontecendo?".

Monday, December 07, 2009

Aquele inglês triste de Burma


É-me difícil escrever / falar sobre Nick Drake, mas como hoje eu o ouvi um bocado, não custa tentar.

Mesmo assim, dada a dificuldade, vou começar citando Tom Verlaine (e olha que este entendia do riscado): "You know, Nick Drake was the very best of all".

Claro que aí entra a questão do gosto, sempre pessoal e intransferível (e por isso mesmo passível de discussões), mas que este inglês pernalta triste, nascido em Burma (!) em 1948, escreveu canções belíssimas, dentre as mais belas do vasto repertório dos singer-songwriters, isto é fato, ou algo próximo a isso.

Dos seus três álbuns apenas (ele deixou este mundo triste aos 26 anos), recomendo em especial o primeiro, Five Leaves Left, de 1969, e o terceiro, Pink Moon, de 1972. Parece que parte da crítica exalta mesmo é o segundo, o Bryter Later, que eu acho um tanto estragado por uma produção que o queria jazz, algo que Nick definitivamente não era. Essa produção / superprodução também tenta estragar um pouco algumas canções do Five Leaves, com orquestrações pesadas e edulcoradas, mas a voz e o violão do Nick felizmente falam mais alto. No último, deixaram-no no estúdio como ele era no mundo: sozinho. O resultado é um punhado de canções descascadas e pungentes. Ouvi-las é como mergulhar numa piscina vazia.

É difícil falar em Nick, é difícil falar em canção preferida do Nick, mas esta bem que podia ser a assombrosa "Fruit Tree", tanto que sobre ela escreverei post em separado.

Saturday, December 05, 2009

O sogro que não tive


O sogro que não tive era um labrego minhoto farrista. É fácil reconhecê-lo na foto, ele tem nas mãos uma caneca, como Vinícius tinha seu cachorro enlatado.
O sogro que não tive veio dar no Brasil fugindo das insanas guerras coloniais portuguesas. Queria namorar e beber. E trabalhar. Tudo, menos morrer pelo mapa cor-de-rosa idiota do Salazar. O sogro que não tive ganha meu terceiro ponto aí. (O segundo ganhou ao ter a caneca em mãos. O primeiro, por ter tido filha tão linda.)

Este sogro foi rejeitado pela sogra, pirralho e duro que era, mas soube reverter a situação, conquistando o coração da moça.

O sogro que não tive... como teria recebido o genro? Já me perguntei tantas vezes. Com este sogro eu teria feito farras, subido ao terraço de Pendotiba para ver balões (fosse junho), ouvir cigarras (fosse dezembro).
O sogro que não tive foi o pai que mulher e cunhado não tiveram, mas não vejam aqui qualquer tom de crítica, mesmo porque seria tolo (além de minha habitual tolice) criticar um homem que não escolhe (escolhe?) voltar ao verdes prados minhotos que só há no céu e que me traz à mente versos de Drummond que eu julgava esquecidos:
OS MORTOS DE SOBRECASACA
Havia a um canto da sala um álbum de fotografias intoleráveis,
alto de muitos metros e velho de infinitos minutos,
em que todos se debruçavam
na alegria de zombar dos mortos de sobrecasaca.
Um verme principiou a roer as sobrecasacas indiferentes
e roeu as páginas, as dedicatórias e mesmo a poeira dos retratos.
Só não roeu o imortal soluço da vida que rebentava
que rebentava daquelas páginas.

Meu reino por uma Pratinha



Renata, madrinha do Dante e leitora deste blog, manda e-mail dizendo que se lembrou de mim ao rememorar sua experiência num pub escocês. É sempre assim, um dia acostumo, a galera só lembra de mim quando o papo é bebida, pouco adianta eu gostar também de Prokofiev, Harmonium, Sándor Márai, Vargas Llosa, cigarras, Kieslowski. Mas é claro que gostei da lembrança: I LOVE PUBS! E aproveitei o ensejo para rememorar também as cervejas escocesas.

Quando estive na Escócia, em 1o de janeiro de 2007, tive a oportunidade de provar sua cerveja com urzes, isto é, heather. Ou será o contrário?: heather, isto é, urzes? Enfim, provei, re-provei e aprovei, porque uma preciosidade destas só se encontra mesmo na terra do Nessie. O Stevenson (sim, aquele do médico e do monstro e que também foi parar no Pacífico) escreveu um poema para esta cerveja, simplesmente chamado "Heather Ale", por aí avaliem. Reza o folclore, numa terra que o tem em grande conta, que seria ela invenção dos Picts. Não sei. Na dúvida, quando encontro, bebo.

E eis que descubro que aqui, em terras tupi-guaranis, já foi feita também uma cerveja com urzes! Cruzes! Muy apropriadamente denominada "Scottish Ale", a bichinha é criação / representação da Cervejaria Colorado, o que não causa espanto nenhum.

Monday, November 30, 2009

O nome dela é Turid



Turid Lundqvist gravou, entre 1973 e 1975, três álbuns que são verdadeiras pérolas de um folk-psicodélico muito sensível e particular. Depois gravou pouco mais, mas já sem o brilho. Hoje, salvo engano, só se encontra para comprar o "I Retur", coletânea dos seus três discos iniciais. Ou seja, que lástima! Quero ter todos os discos e não posso! E não estamos falando do país do tchan, onde música de qualidade tem que penar muito para encontrar seu espaço, mas da Suécia! Aliás, depois das frustrações habituais que artistas não-comerciais enfrentam, esta singer-songwriter se cansou de tudo e foi... trabalhar no correio! Again, que lástima! (A não ser, claro, para seus colegas de trabalho) Enquanto estava na ativa, e põe ativa nisso já que ela era bastante politizada e tinha verdadeiro horror ao imperialismo norte-americano, ela foi figurinha fácil nos incontáveis festivais de música que então rolavam em seu frio país, sempre acompanhada de seu violão. Chegou a acompanhar a grande banda de prog Kebnekajse (também nada, NADA, conhecida por aqui, mesmo entre os poucos fãs do gênero) e eles retribuíram a gentileza tocando na faixa "Lat mig se dig", porventura sua canção mais rock 'n' roll, e ótima por sinal.
Um dos meus sonhos de eternidade, tomado emprestado a Carrière, é passear pelas estrelas ao lado do Ganesha, conversando gentilmente no grande oceano de histórias a que chamam cosmo.
 
Antes, quero passear pelos canais de Estocolmo ao lado da Turid, ouvindo-lhe cantar "Välkomme-Hus", "Ödegardar" e tantas outras...
"En eternell i varje stam
för att leda dig säkert fram
till ett välkomme-hus"
 
Claro que vou preferir se for em sueco, mas se ela quiser me encantar também com "Sometimes I think age is a treasure", não vou achar ruim não... Principalmente porque, com seu sotaque, ela pronuncia os fonemas /j/ das palavras "treasure" e "pleasure" como /sh/. Tão bonitinho! Parece até o papai aqui falando com o Dantuca...

Sunday, November 22, 2009

Um Safári à Lua / A Safari to the Moon

Este post será bilíngue porque Johan Westerlund, baixista, vocalista e letrista da banda sueca Moon Safari demonstrou interesse em ler o que tenho para dizer acerca de sua banda. Assim, depois da versão costumeira em português, vem a versão para o inglês.

Sei e não sei bem por quê, mas desde o dia 22, há exato 1 mês, sinto-me compelido a, estando no 996, estando em casa e, principalmente, passeando com o Dante, ouvir apenas um seleto grupo de músicas OVER AND OVER AGAIN (Ih, inglês, sorry!...).

São elas:

1) Do Yes - "Soon" (na verdade trecho da suíte "The Gates of Delirium", mas a tenho em formato single, que é a que ouço). Foi esta a que detonou o processo. Nos dias 22 e 23 e 24 de outubro fui tomado por uma vontade irresistível de ouvir esta canção 500 vezes.

2) Do Formula 3 - "Cara Giovanna".

3) Do Locanda della Fate - "Cercando un Nuovo Confine" - porque esta é uma das "músicas para crianças" mais lindas do Ocidente!

4) Damien Rice - "Grey Room"!

5) Gabriel Yared e Marta Sebéstyen - "Szerelem, Szerelem" .

6) Michael Nyman - não podia faltar! "Big My Secret" e "Love Doesn't End" .

7 Flower Kings - "Flora Majora"!

e, principalmente, COMPULSIVAMENTE:

8) Van der Graaf Generator - não podia faltar! "Refugees" (versão single) e "Childlike Faith in Childhood's End".

9) Yes - "I've Seen All Good People".

10)Midlake - "Paper Gown", "Excited but not Enough", "Simple", "Roller Skate (Farewell June)".

11) Moon Safari - a sequência "Moonwalk", "Bluebells" e "The Ghost of Flowers Past" .

12) Blackfield - "Once", "Miss U", "Hello" e, principalmente, "Where is My Love?" (duas versões diferentes, que escuto uma atrás da outra, ainda encontrando diferenças).

Entendam que continuo comprando CDs. E que, claro, escuto outras coisas também. Mas acho que nunca fiquei assim tão colado a algumas canções como estou. E esta fase extraordinária da minha vida ficará indelevelmente marcada por esta trilha-sonora.

O Moon Safari, por exemplo, faz-me sentir imortal, perdoem a breguice. Passear com o Dantuca na praia ouvindo as canções que mencionei é uma experiência simplesmente epifânica, daquelas em que o céu se rasga e dele cai uma chuva de pétalas de rosas. Dantuca está no carrinho, com os pezinhos pra cima (ver post anterior) e as músicas me transportam para uma região onde sinto uma harmonia, uma paz e um amor transbordantes. Sinto-me é bêbado, isso sim, daquela embriaguez que Baudelaire afirmara que deveríamos sempre sentir: a da poesia. Todas as preocupações cotidianas me parecem tão comezinhas, pois o que me ocupa a alma é a visão de Dante, a brisa e as harmonias vocais do Moon Safari! Até inventei uma história para "Bluebells"! Inventei que Dantuca tem um pijaminha com sininhos azuis (que não tem) e que seria ele, portanto, o "Bluebells" me chamando para casa, pedindo que eu saia de reuniões, de plenárias, de conselhos um pouco mais cedo para poder ficar com ele. Esta é a minha versão de "Bluebells", porventura mais bonita porque inventada.

O Moon Safari, conheci-o em julho do ano passado, em visita a Progress Records, em Estocolmo. À época, chapei. Hoje chapo ainda mais. De nítida influência do Yes e do Flower Kings, os rapazes fazem um som que pertence à face solar, clara, alto astral do rock progressivo. Não há aqui otimismo ingênuo, mas sim uma verve, uma garra, um delírio transfigurador nas harmonias vocais, nas guitarras orgásmicas, no Hammond devastador, no Mellotron (sim, também tem!!!), no baixo a prenunciar motivos e na bateria que não posso senão render-me incondicionalmente e deixar levar-me para este país somewhere I had never traveled, gladly beyond...


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This post has an English version because Johan Westerlund, bassist, vocalist and lyricist of the Swedish band Moon Safari showed some interest in reading what I've got to say about his band.

I'm not quite sure why, but since October 22, exactly one month ago, I've been feeling compelled to, either commuting, at home or, mainly, taking a stroll with Dante, listen to the same songs OVER AND OVER AGAIN.

The songs are:

1) Yes - "Soon" (actually a fragment of "The Gates of Delirium", but since I have it in the single version, that's the one I listen to these days). It was this one here that started everything. On October 22, 23 and 24 I was taken by an insurmountable desire to listen to this song 500 times.

2) Formula 3 - "Cara Giovanna".

3) Locanda della Fate - "Cercando un Nuovo Confine" - because this is one of the most beautiful "songs for children" of the Western World!

4) Damien Rice - "Grey Room"!

5) Gabriel Yared and Marta Sebéstyen - "Szerelem, Szerelem".

6) Michael Nyman - couldn't be out! "Big My Secret" and "Love Doesn't End".

7) Flower Kings - "Flora Majora"!

and, mainly, COMPULSIVELY:

8) Van der Graaf Generator - couldn't be out! "Refugees" (single version) and "Childlike Faith in Childhood's End".
9) Yes - "I've Seen All Good People".

10 Midlake - "Paper Gown", "Excited but not Enough", "Simple", "Roller Skate (Farewell June)".

11) Moon Safari - the sequence "Moonwalk", "Bluebells" and "The Ghost of Flowers Past".

12) Blackfield - "Once", "Miss U", "Hello" and, mainly, "Where is My Love?" (two different versions, which I listen to one after the other, still finding differences).

I still buy CDs, of course. Many. And, of course, I listen to other things too. But I think I've never been so stuck to some songs as I've been these days. And this outstanding phase of my life will be forever linked to this soundtrack I managed to create.

Moon Safari, for example, makes me feel immortal (I know I sound tacky, sorry!). Taking a stroll with Dante on the beach listening to the songs I mentioned is an experience simply epiphanic, one of those in which the sky is torn and from above petals of roses rain. Dantuca is in his pram, with his little feet up (see prior post) and the songs take me to a place where I feel an overflowing harmony, peace, love and joy. I feel drunk, that's the feeling, that drunkness Baudelaire said we should always experience: poetry. All the daily cares seem petty, for what takes my soul is Dante's vision, the breezes and the vocal harmonies of Moon Safari! I even made up a stroy for "Bluebells"! I invented that Dante has a little pajama with little blue bells on it (he doesn't), so he himself would be "Bluebells", calling me home, asking me to leave classes, meetings, seminars a little earlier just to be with him. This is my version of "Bluebells", maybe prettier because invented.

I got to know Moon Safari in July of 2008, visiting Progress Reocrds in Stockholm. At the time it blew my mind. It blows my mind even more nowadays. Clearly influenced by Yes and Flower Kings, the boys make music that belongs to the sunny side of progressive rock. Good vibes galore. There is no naive optimism here, but a verve, a dynamics, a transfiguring delirium in the vocal harmonies, in the orgasmic guitars, in the scorching Hammond, in the Mellotron (yes, there's Tron too!), in the bass that heralds motives, in the drums that I can't but surrender inconditionally and let me be taken to this somewhere I had never traveled, gladly beyond...

Saturday, November 21, 2009

Ruído


Quis postar aqui uma foto do famoso MAC (Museu de Arte Contemporânea), hoje cartão-postal mais conhecido da cidade e onde Tutuca e eu costumamos passar boa parte da manhã, em meio a brisas, andorinhas, barquinhos, muito mar, formandos a tirar fotos, praticantes silenciosos de Tai-Chi e outros que tais. Moramos no Ingá, o museu fica em Boa Viagem, a que se chega subindo colina de pedras portuguesas que muito sacolejam o carrinho. Neste dia, sexta feriado de Zumbi, não tínhamos a intenção de ao museu chegar. A foto, portanto, seria tirada de baixo, do último dos banquinhos da calçada. Achando que tinha já razoável enquadre, apesar da contraluz aqui amplamente desfavorável (o que explica o argh, flash), fiz a foto. Ou como diriam os cearenses, ao menos os taxistas, motivados pelo "0" final da palavra: o foto.


Foi só depois, em casa, ao examinar a/o foto, que percebi que na frente da belíssima arquitetura modernista (ou moderna?) do museu, apareceram dois pés! Mas como...! A isto se chama, em fotografia, ruído. São coisas que nem o fotógrafo mais amador e desprovido de técnica está livre de enfrentar.


Perdoem este fotógrafo incipiente e comprem um postal do museu. Custa 1,50 na Banca da Ana.

Friday, November 20, 2009

Dante (e) Bento






No dia 8 de novembro enfim batizamos Dantuca. Não houve festa, ainda que na hora H pessoas queridas aparecessem. Mas, de fato, quisemos tudo a sotto voce. A cerimônia foi na igrejona da Nossa Senhora das Dores, que eu prefiro chamar de Nossa Senhora do Ingá. Fosse Nossa Senhora dos Prazeres (como há), eu a chamaria pelo nome mesmo, correto, er... de batismo. O padre (todos adoram falar mal de padre) era simpático, didático ao extremo, chegava a... era simpático o padre. Fazia calor lá fora, mas não lá dentro.

Dante, heroizinho como sempre, achou tudo um pouco chato e houve por bem cochilar. Acordou com água fria em seus cabelos e manhou um pedaço.

A madrinha é a Renata, cuja filha, a querida Mariana, é afilhada da Ana Beatriz.

O padrinho é o Igor, meu afilhado.

Ou seja, tudo muito família, um compadrio só.

A madrinha de consagração (não é de consolação, por favor, senhores) seria a Dani, mas esta foi pra Bahia, então acabou sendo a Juliana. Sentem-se as duas madrinhas, no que estão corretas.

A fada-madrinha é a Ms. Groetaers.






E, seria coinciência se coincidências existissem, foi só Dante ficar Bento para receber a visita do... Bento!

Bento, bebê do Rodolfo e da Bianca, é sobrinho da Renata, a madrinha. Estiveram aqui Bento e trupe: ao todo juntamos dez almas no escritório! Estivesse a Isolda no meio de nós (ela estava é bem debaixo da cama), teríamos um time de futebol.

Tuesday, November 17, 2009

O que de Goa mais saudade sinto


O título do post saiu-me assim: decassílabo sáfico perfeito. Mas isto nem soneto ou poema será.

Saudades de Goa.

A saudade maior, hoje, não é dos mercados, nem de Utorda, nem de Shantadurga, nem do caminho Dona Paula-Pangim, nem do Franco, nem do Prainha, nem dos cheiros, nem do nan nem parata, nem do tandoori, nem das igrejas muito brancas, muito velhas, nem da profusão dos nomes em -im e -em, nem de falar "Deu borém kurum", nem dos tulsis, nem das livrarias, nem da Kingfisher, nem dos tuc-tucs, nem dos vendedores insistentes, nem dos cacos portugueses, nem dos poços, nem dos sáris, nem das crianças, nem das vacas, nem dos búfalos, nem das motocicletas (terei saudades das motocicletas?), nem das cruzes cicatrizadas nas peles, nem das peles.
A saudade maior hoje é dos corvos. Dos corvos que me acordavam pela manhã.
(Se bem que aqui nem deu 6 horas e já temos cigarras).

Sunday, November 15, 2009

Vasco, Dante, Midlake & Outras Epifanias

É cousa muito séria passear de carrinho com o Dante no final da tarde, quando sopra brisa amainando o calor. Ainda mais se a agenda me diz que é sábado.
Na semana passada foi assim. E ao Dante e à brisa e à beleza das cores do fim da tarde somava-se minha alegria pelo fato de o Vasco ter garantido seu retorno à Primeira Divisão.
Ontem também foi assim. E ao Dantuca etc somava-se o entusiasmo (en + theos) porque o Vasco fora campeão no dia anterior. E eu estivera lá, debaixo do bandeirão, a foto prova-o.
Onde entra o Midlake nisso tudo?
Porque ao Dante e à brisa e à beleza das cores do fim da tarde e ao entusiasmo com a conquista do Vasco somava-se que eu carregava o Midlake em meus ouvidos. Não o Midlake perfeito e amadurecido do The Trials of Van Occupanther (2006), que revela aonde chega uma banda que enfim descobre sua voz. Refiro-me ao Midlake de "Paper Gown", "Excited but not Enough", "Simple" e "Roller Skate (Farewell June)": vocais distorcidos e torturados à la Thom Yorke, guitarras sujas, bateria incipiente e feroz e ruideira eletrônica. Uma "influência" tão sem-vergonha de Radiohead, que não se pode falar em influência, mas sim em pastiche mesmo.
E que eu amo desmesuradamente e escuto over and over and over.

Saturday, November 07, 2009

SONETO DAS TRINTA ANDORINHAS





Dante pede às andorinhas que adornem
seu sono, de mel e de paina feito.
E o que era ânsia represada até
agora, esfarinha-se no rumor

dos barcos que navegam silenciosos
entre o azul líquido e semovente
e este azul maior que engolfa o tempo e
que nos terá um dia. Dante dorme.

As andorinhas nada dizem, voam
e em seus voos barrocos vão tecendo
tênue teia que lhe protege o sono.

As andorinhas nada dizem, velam
diligentes o seu sono, todo ele
paina, mel, auréola e trinta andorinhas.


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Acho que desaprendi a fazer sonetos, se é que um dia. A ilustração é da Cora, aluna querida que torce pelo América e tentou encher nossos tomates verdes de pimenta branca (isso vocês já sabem de outros posts).
A inspiração (oh, como se isso existisse) veio dos passeios que faço com Dantuca lá no MAC. Acertei os versos e a métrica (desacertei talvez seja melhor palavra) nas idas e vindas no 996, ao som do Blackfield.

Daylight Saving Time



HORÁRIO DE VERÃO

O gato,
ignorante dos ponteiros adiantados,
Vem pedir-me comida
com uma hora de atraso.

Arqueia-se o dorso, levanta-se
a cauda peluda, faíscam
enormes olhos
onde cabem
mil enormes olhos.

Acho graça.
Mas reconheço
que há
sadismo neste meu sorriso.

Amanhã que faço?
Enquadro o gato no mundo dos homens?
Ou respeito-lhe ternuras, súplicas, desejos e fomes anacrônicas?

Ternuras, súplicas, desejos e fomes anacrônicas.

A questão talvez seja idiota
e sequer mereça poema.

Isolda e eu nos olhamos
com enormes olhos
onde cabem.

Je le resterai jusqu'au bout! Je ne capitule pas!

Tuesday, November 03, 2009

Dave & Clarice


Tive no Dia de Finados uma experiência transfiguradora. Nada a ver com mortos, muito pelo contrário.
Já no dia anterior recebera em meu celular (que estava no modo 'silencioso') chamadas provenientes de um longo número.
Havia também um torpedo. Dizia "Hello my name is Dave." Gelei. Respondi: "Dave what?". Reparem que pergunto what e não who pois no meu coração tinha já certeza de quem se tratava.
A resposta é ligeira: "Dave the reader of Clarice Lispector, who wrote nothing about back scratching."
Não precisa de sobrenome. Ou sim, precisa, o sobrenome é este aposto e esta oração adjetiva cheia de piadas internas. A isto se chama léxico familiar. Seu outro nome é família.
Agora explico.
Morei com Dave Block e Ellen Mora em Chicago por um ano: de agosto de 1986 a julho de 1987. Somos amigos até hoje, com intermitências de contato que amizades de verdade compreendem.
Eles souberam que Dante estava a caminho. Depois souberam que Dantinho tinha West. Mas fui muito elíptico nos e-mails, adiantei os fatos óbvios e depois calei-me, dizendo apenas "I will let you know".
E com isso -- "I'll let you know" -- foram deixados.
Dave ficou muito incomodado. Meses passaram-se e ele tentava se acercar. O que fez? Decidiu ler um autor de ficção brasileiro para que pudesse se sentir próximo de mim! !!!! Escolheu (meio que por acaso? não creio), acabou escolhendo a Clarice Lispector.
Teve ele, naturalmente, revelações, encontros, epifanias. Ficou marcado pelo que disse ter sido / estar sendo uma das leituras mais intensas da sua vida. E sentiu que conseguira instaurar em si o frame of mind apropriado para então me procurar.
Não consigo expressar nestas linhas o extraordinário que isso tudo foi. Alguém fisicamente distante quis acercar-se de mim. E o fez por intermédio da Clarice.
Foi um dos maiores afagos que já recebi.
Ontem conversamos longamente por telefone. Ele disse estar a caminho.


A foto (foto de foto, não tenho scanner) mostra-nos conversando, nos primeiros dias de 1987, somewhere between Pensylvannia e Washington D.C. O fato de a foto estar pouco nítida confere-lhe contornos fantasmáticos e vejam que bonita aquela casa lá atrás.
Ele tinha 8 anos a menos do que tenho hoje.

E poucas vezes esta canção do Pink Floyd fez tanto sentido como hoje:

"You know that I care for what happens to you
And I know that you care for me too
So I don't feel alone
Or the weight of the stone
Now that I've found somehwere safe
To bury my bones
And any fool knows a dog needs a home
A shelter from pigs on the wing."

Sunday, November 01, 2009

Morri. Estou entrando no Céu.

É isso. Imaginei-me entrando no Céu ( o fato de o Purgatório não existir mais facilitou um bocado). Que música estaria tocando neste exato momento?

Só posso escolher uma, mesmo o Paraíso terá suas limitações.

Está tocando "Refugees", do Van der Graaf Generator. Versão single.

Ou está tocando a #10 do The End of the Affair, do Michael Nyman. Love doesn't end.
Não precisa ser a versão do CD. Pode ser a versão amadora de um teclado tocado quase à meia-noite. Amador = feito com amor? Love doesn't end.

Disse que só poderia escolher uma, escolhi duas. Assim engano o Paraíso.

Fritando Tomates Verdes







E serão estas as delícias e as loucuras de se dar aulas. Na SACC do CAp deste ano propus à minha turma do Segundo Ano fritar os ditos tomates, para ver, enfim, que gosto eles teriam. Lembrem-se de que a Idgie achou-os 'terrible'. Entendam que já assistíramos ao filme Fried Green Tomatos, do qual exploramos muitos aspectos. Faltava o culinário. Assim, na aula de encerramento do filme (estávamos em abril?), levei-lhes a receita e uma música do Cranberries, apresentada como "tema da Ninny": "Never Grow Old". Lancei as sementes. Meses depois, tive quatro alunos dispostos à empresa: fritar os tomates para servi-los depois da apresentação de alguns trechos do filme. Os trechos escolhidos ilustravam autoconhecimento, segregação racial e homoerotismo. Os meninos -- Fernanda, Cora, Carolinne e Igor (estes dois últimos já velhos conhecidos meus dos encontros de sexta-feira sobre Teatro do Absurdo -- mandaram muito bem. Falaram bem suas partes e participaram da tomatina com grande empolgação.
A Cora jogou praticamente a pimenta branca toda sobre os ovos.
A Fernanda disse que eu contava piadas de pai.
A Carolinne pegou o cabo da frigideira como quem agarra touro à unha e fritou tomates como se jamais tivesse feito outra coisa na vida.
O Igor não se segurava de satisfação: queria a toda hora sair para se mostrar de avental. É um bobo, assim como eu.
Aos quatro agradeço por me terem proporcionado um dos meus momentos capianos mais felizes.

Saturday, October 31, 2009

A Arte da Levitação

A ARTE DA LEVITAÇÃO
Como se fosses meu pai,
e não meu filho.
 
Alberto da Costa e Silva.
 
 
Dante, 
o dia me traz suas fadigas:
o desdém do aluno 
a arrogância do médico
a música estridente que me persegue no ônibus. 

Mas a ti retorno. 

Existe o quarto, existe 
o berço 
existe a noite que atravessamos juntos.
 
São nossos os viventes da madrugada:
as rodas a deslizar no asfalto molhado
o pássaro misterioso a chamar solitário 
o bêbado que passa mastigando a noite
querendo copular com Deus. 
Por fim o galo que bica insistente a casca da manhã.
 
Dante, perdoa-me 
os momentos de tristeza. 
Te peço
como se pai
e não filho 
fosses.

E assim é.

Continua a ensinar-me
tua didática de gestos frágeis 
e firmes. 
 
E eu que era pesado
que temia o tempo e suas urtigas
com um teu fio de cabelo
ato meu pé a esta cadeira
antes que pela noite saia levitando
como os apaixonados de Chagall.

Sunday, October 25, 2009

Vita Regum


Hoje Dante foi ao clube! Tomou banho de chuveiro, tomou banho de sol, ficou qual besourinho muito branco remexendo-se sobre a vasta cadeira. Depois veio Mr. Sandman e deixou seus olhinhos muito apertados, querendo fechar.
Que fiz?
Pus a passear com ele no carrinho, na sombrinha claro, à margem da piscina. Pra lá e pra cá e seus olhinhos querendo fechar.
Nisso passa um senhor muito distinto (embora sem chapéu) e comenta jocoso: "Ah, vida de rei..." Ao que eu devolvo: "A dele ou a minha?"
ps: a foto não é do clube! Mas calma, gente, ao menos estou atualizando o blog, tirando as teias de aranha....

Saturday, August 29, 2009

Dois Poemas para Dante e um Terceiro

I

Um certo jeito de mexer os lábios
um certo jeito de acender os olhos
certo jeito de tecer doçuras.
Olavo tinha razão
e Augusto também:
Inania verba, a idéia esbarra
no molambo da língua paralitica .
Ainda não inventaram palavras para
um certo jeito de recém-nascer.
E este poema se chama
Dante sorri.

II

Reza a definição:
recém-nascido é o bebê com até 28 dias de vida.
Mente o dicionário, erra a definição, tergiversam os homens.
Ao acordar nesta tarde
Dante é recém-nascido como
na primeira hora.

È neonato anche Dio.

III

Dominar o léxico, a semântica, a sintaxe, a fonética
não é suficiente
para saber a língua dos homens –
esta língua de acordos tácitos,
de anuências aprendidas sabe-se lá onde.

Desconhecer esta língua empurra-te
para a quina das mesas, para a margem dos acordos,
para o almoço mastigado a sós.
Mas de lá, da franja das tardes
percebes
aquele sorriso fugaz que mal chegou aos lábios, aquela
cigarra tardia (ou precoce?) ardendo confusa, aquele
violoncelo a murmurar no terceiro movimento do quarteto.
Tudo isso – sorriso, cigarra, murmúrio –
ignoto
dos que a falam.

Monday, August 17, 2009

Some Poems

Difícil trabalhar com poesia em sala de aula, mesmo na universidade e em curso de Letras. Magina, então, Ensino Médio. Mas, depois de um Varal de Poesias, creio ter conseguido um resultado pra lá de razoável com meu atual grupo de Video & Literature do CAp neste ano.

These are the poems I read with my students in class. They're supposed to come here, choose one and write a comment about it.
In case you're not a student of mine, feel free to leave your impressions as well.

THE DAY IS DONE
H.W. Longfellow

The day is done, and the darkness
Falls from the wings of Night,
As a feather is wafted downward
From an eagle in his flight.

I see the lights of the village
Gleam through the rain and the mist,
And a feeling of sadness comes o'er me
That my soul cannot resist:

A feeling of sadness and longing,
That is not akin to pain,
And resembles sorrow only
As the mist resembles the rain.

Come, read to me some poem,
Some simple and heartfelt lay,
That shall soothe this restless feeling,
And banish the thoughts of day.

Not from the grand old masters,
Not from the bards sublime,
Whose distant footsteps echo
Through the corridors of Time.

For, like strains of martial music,
Their mighty thoughts suggest
Life's endless toil and endeavor;
And to-night I long for rest.

Read from some humbler poet,
Whose songs gushed from his heart,
As showers from the clouds of summer,
Or tears from the eyelids start;

Who, through long days of labor,
And nights devoid of ease,
Still heard in his soul the music
Of wonderful melodies.

Such songs have power to quiet
The restless pulse of care,
And come like the benediction
That follows after prayer.

Then read from the treasured volume
The poem of thy choice,
And lend to the rhyme of the poet
The beauty of thy voice.

And the night shall be filled with music
And the cares, that infest the day,
Shall fold their tents, like the Arabs,
And as silently steal away.

ANNABEL LEE
Edgar Allan Poe

It was many and many a year ago,
In a kingdom by the sea,
That a maiden there lived whom you may know
By the name of ANNABEL LEE;
And this maiden she lived with no other thought
Than to love and be loved by me.

I was a child and she was a child,
In this kingdom by the sea;
But we loved with a love that was more than love-
I and my Annabel Lee;
With a love that the winged seraphs of heaven
Coveted her and me.

And this was the reason that, long ago,
In this kingdom by the sea,
A wind blew out of a cloud, chilling
My beautiful Annabel Lee;
So that her highborn kinsman came
And bore her away from me,
To shut her up in a sepulchre
In this kingdom by the sea.

The angels, not half so happy in heaven,
Went envying her and me-
Yes!- that was the reason (as all men know,
In this kingdom by the sea)
That the wind came out of the cloud by night,
Chilling and killing my Annabel Lee.

But our love it was stronger by far than the love
Of those who were older than we-
Of many far wiser than we-
And neither the angels in heaven above,
Nor the demons down under the sea,
Can ever dissever my soul from the soul
Of the beautiful Annabel Lee.

For the moon never beams without bringing me dreams
Of the beautiful Annabel Lee;
And the stars never rise but I feel the bright eyes
Of the beautiful Annabel Lee;
And so, all the night-tide, I lie down by the side
Of my darling- my darling- my life and my bride,
In the sepulchre there by the sea,
In her tomb by the sounding sea.


THE ROAD NOT TAKEN
Robert Frost

Two roads diverged in a yellow wood,
And sorry I could not travel both
And be one traveler, long I stood
And looked down one as far as I could
To where it bent in the undergrowth;
Then took the other, as just as fair,
And having perhaps the better claim,
Because it was grassy and wanted wear;
Though as for that the passing there
Had worn them really about the same,
And both that morning equally lay
In leaves no step had trodden black.
Oh, I kept the first for another day!
Yet knowing how way leads on to way,
I doubted if I should ever come back.
I shall be telling this with a sigh
Somewhere ages and ages hence:
Two roads diverged in a wood, and I-
I took the one less traveled by,
And that has made all the difference.


THIS IS JUST TO SAY
William Carlos Williams

I have eaten
the plums
that were in
the icebox

and which
you were probably
saving
for breakfast

Forgive me
they were delicious
so sweet
and so cold

1st poem
e. e. cummings

somewhere i have never travelled, gladly beyond
any experience, your eyes have their silence:
in your most frail gesture are things which enclose me,
or which i cannot touch because they are too near

your slightest look easily will unclose me
though i have closed myself as fingers,
you open always petal by petal myself as Spring opens
(touching skillfully, mysteriously) her first rose

or if your wish be to close me, i and
my life will shut very beautifully, suddenly,
as when the heart of this flower imagines
the snow carefully everywhere descending;

nothing we are to perceive in this world equals
the power of your intense fragility: whose texture
compels me with the colour of its countries,
rendering death and forever with each breathing

(i do not know what it is about you that closes
and opens; only something in me understands
the voice of your eyes is deeper than all roses)
nobody, not even the rain, has such small hands

2nd poem
e. e. cummings

i like my body when it is with your
body. It is so quite a new thing.
Muscles better and nerves more.
i like your body. i like what it does,
i like its hows. i like to feel the spine
of your body and its bones, and the trembling
-firm-smooth ness and which i will
again and again and again
kiss, i like kissing this and that of you,
i like,, slowly stroking the, shocking fuzz
of your electric fur, and what-is-it comes
over parting flesh....And eyes big love-crumbs,

and possibly i like the thrill

of under me you quite so new

HAPPINESS
Carl Sandburg

I asked professors who teach the meaning of life to tell what is happiness.
And I went to famous executives who boss the work of thousands of men
They all shook their heads and gave me a smile as though as I was trying to fool with them.
And then one Sunday afternoon I wandered out along the Desplaines river
And I saw a crowd of Hungarians under the trees with their women and children and a keg of [beer and an accordion.

THE APPLICANT
Sylvia Plath

First, are you our sort of a person?
Do you wear
A glass eye, false teeth or a crutch,
A brace or a hook,
Rubber breasts or a rubber crotch,

Stitches to show something's missing? No, no? Then
How can we give you a thing?
Stop crying.
Open your hand.
Empty? Empty. Here is a hand

To fill it and willing
To bring teacups and roll away headaches
And do whatever you tell it.
Will you marry it?
It is guaranteed

To thumb shut your eyes at the end
And dissolve of sorrow.
We make new stock from the salt.
I notice you are stark naked.
How about this suit----

Black and stiff, but not a bad fit.
Will you marry it?
It is waterproof, shatterproof, proof
Against fire and bombs through the roof.
Believe me, they'll bury you in it.

Now your head, excuse me, is empty.
I have the ticket for that.
Come here, sweetie, out of the closet.
Well, what do you think of that ?
Naked as paper to start

But in twenty-five years she'll be silver,
In fifty, gold.
A living doll, everywhere you look.
It can sew, it can cook,
It can talk, talk , talk.

It works, there is nothing wrong with it.
You have a hole, it's a poultice.
You have an eye, it's an image.
My boy, it's your last resort.
Will you marry it, marry it, marry it.