Wednesday, December 23, 2009

Dolce Acqua

Ontem, meio que do nada, peguei para ouvir uma banda que não ouvia há muito: o Delirium. O Delirium me traz lembranças muito nítidas de 1985 e de 1998. Falarei apenas destas últimas. Ana Beatriz e eu acabáramos de chegar de nossa primeira viagem à Itália. Chegamos nós, porque todas as três malas haviam se extraviado, o que nos causou imensa consternação. A mim porque uma delas continha APENAS CDs. Uma mala estourando de CDs. Já em casa, passadas algumas horas, nos ligam do aeroporto dizendo que duas malas haviam, enfim, aterrissado. Voamos para lá e eis que... a dos CDs chegara, que alegria! Em casa, ponho logo para tocar o Delirium, que eu não ouvia desde....85, mas que guardava na alma como se tivesse escutado no dia anterior. Tanto que, ao final da música "Jesahel", canto junto "one, two, three, four", para meu espanto (nem eu sabia que lembrava tão bem) e para espanto e raivinha da Ana, já que a mala de roupas dela não chegara. Percebo meu egoísmo e refreio minha empolgação. Mas sua mala chegaria no dia seguinte.



Um dos destaques deste primeiro Delirium parece-me, sem dúvida, a canção que dá nome ao disco. Uma faixa quase toda instrumental, em crescendo, na qual os instrumentos vão sendo lentamente adicionados.



O ótimo crítico Riccardo Storti, em seu livro dedicado exclusivamente à cena do rock progressivo na Gênova da primeira metade dos anos 70 (dá para ser mais monográfico?), reclama de certa monotonia, já que o motivo da flauta é repetido muitas vezes. Não percebe ele que esta repetição, climática, tem a função de preparar-nos para a entrada triunfal, messiânica, à la Jesus Cristo, de Ivano Fossati e sua voz de barítono:



Verde prato

dentro me.

La tempesta è passata,

non è mai freddo.

Dolce acqua.

Tirei a letra de ouvido, o que a torna sujeita a erros. Fossati canta apenas isso. Mas quem canta com aquela voz que há um verde prado dentro de si e anuncia fim de tempestades precisa dizer mais alguma coisa?

1 comment:

Paulo de Tarso said...

Belo disco que eu ainda não tenho.