Tuesday, October 22, 2013

Poemas para Brennand

Exposição Brennand :: outubro de 2013


Francisco Brennand sempre me perturbou horrores, sua oficina me perturba e intriga até hoje e a visita à exposição no Museu Afro-Brasil não poderia ser diferente.

O Quintana de "Todas as artes são manifestações diversas da poesia -- inclusive, às vezes, a própria poesia" que julguei aplicar-se tão bem à Casa da Flôr (e aqui), também quase aqui.

Digo quase porque a arte de Brennand não é manifestação da poesia, mas a própria, em cerâmica viva e latejante.

Redundante portanto poesia em uma exposição do mestre? Não, porque de Brennand a arte do excesso, dele os barroquismos fantasmagóricos, dele as alucinações desmedidas dos oroboros.

Dois belos poemas para Francisco. O soneto "A Solidão e sua Porta", de Carlos Penna Filho, é a ele dedicado. O de João Cabral chama-se apenas "a Francisco Brennand".


A SOLIDÃO E SUA PORTA

Quando mais nada resistir que valha
a pena de viver e a dor de amar
E quando nada mais interessar,
(nem o torpor do sono que se espalha).


Quando, pelo desuso da navalha
a barba livremente caminhar
e até Deus em silêncio se afastar
deixando-te sozinho na batalha


a arquitetar na sombra a despedida
do mundo que te foi contraditório,
lembra-te que afinal te resta a vida


com tudo que é insolvente e provisório
e de que ainda tens uma saída:
entrar no acaso e amar o transitório.


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a Francisco Brennand

fechar na mão fechada o ovo
a chama em chamas desateada
em que ele fogo desateia
e o ovo ou forno tem domadas
então
prender o barro brando no oco
de não sei quantas mil atmosferas
que o faça fundir no útero fundo
que devolva a terra à pedra que era


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