Tuesday, October 29, 2013

Epigrama do Dia

Epigrama do Dia

Etnocentrismo ::: tentar entender o Dante a partir dos nossos conceitos.


2 anos

Sunday, October 27, 2013

Emílio de Menezes, esse satírico desconhecido





Na livraria gentil onde enfim me dão direções de como chegar ao Centro Cultural Andrade Muricy, coneço quadro em que os poetas curitibanos Emílio de Menezes e Paulo Leminski bebem juntos. Na verdade, apenas Emílio bebe, embora, na ilustração, Paulo já tivesse idades para tal e com certeza não faria desfeita.

Nessa chatice que é a vida real nunca beberam juntos. 44 anos separam Emílio de Paulo em idade de cervejadas.


Em recente entrevista, o poeta incômodo cego e sadomasoquista e soneteiro recordista mundial Glauco Mattoso respondeu que gostaria de convidar Emílio de Menezes para um café, Na verdade, não para um café (é que perguntaram assim), mas para um banquete dionisíaco e uma bacanal homérica.

Cito, respeitano-lhe a ortografia:

"Emílio de Menezes, o curytibano gordão e politicamente incorrecto ue Machado de Assis não queria na ABL por causa da vida bohemia, que os collegas invejosos criticavam por causa da vocação "mercenaria" de fazer annuncios publicitarios em verso, que os modernistas desprezavam  por causa do supposto obsoletismo parnasiano, que os criticos moralistas condemnavam por causa da veia fescennina ou que os nutricionistas actuaes censurariam por causa da gluttoneria, mas cuja poesia é magistralmente exemplar, seja a serio ou fazendo humor."

Emílio me diverte largamente. Leio, sorrio, rio rios. Na minha humilde avaliação, a poesia satírica sobrevive melhor que a "séria", indelevelmente datada. 

Mas mesmo da satírica, o seu legado parece reduzido ao trocadilho. A praga do trocadilho, que acomete mesmo poetas bons. Gente que escreve coisas como (acabei de inventar, para a ocasião): "Oh o sertão / como pode / ser tão" e chama de haikai, chama de poesia.

Emílio, Deus o tenha em um tonel de cerveja, é mais do que isso. Seguem dois exemplos.

[ALCOOLISMO (II)]

Viram? O caso até parece peta!
Quem leu acaso, ao lado, o outro soneto,
Vê que, comigo, está fazendo um dueto
A séria e severíssima GAZETA.

Se, de um lado, lhe veio hoje à veneta
Mostrar do vício o fúnebre esboceto,
De outro lado vai dando, em tom faceto,
"Reclame" à clara, à escura, à mista, à preta!

É que não tem razão a velha rixa
De quem, às claras, bebe por capricho,
Com quem, ocultamente, escorropicha:

Do barril de bom chope, ao claro esguicho,
Depois de salgadíssima salsicha,
Deixem lá que é bem bom matar o bicho!...


DEDICATÓRIA (numa página de livro)

Não fora o medo de uma rima em igre
E, nela, eu moldaria este soneto.
Mas vejo o caso preto, mas tão preto,
Que a própria tinta preta mais denigre.

Eia! Alma à larga! O medo, dela, emigre
Pois lá acima, já está, pronto, um quarteto,
E eu creio bem que, dando um tom faceto,
Alcanço um D. Xiquote e amanso um tigre.

Bem! Vou ver se consegue este terceto
Que o verbo "denigrar" para ele imigre
(O "denegrir" já foi metido a espeto).

Que um não denigra e que outro não denigre
A intenção de ofertar este folheto
Ao talento sem par do Bastos Tigre.



Saturday, October 26, 2013

Gazel. Segundo Gazel

گـل در بر و می در کف و معشوق به کام است
سلـطان جهانـم بـه چـنین روز غلام است
گو شـمـع میارید در این جمع که امـشـب
در مـجـلـس ما ماه رخ دوست تمام اسـت
در مذهـب ما باده حـلال اسـت ولیکـن
بی روی تو ای سرو گـل اندام حرام اسـت
گوشـم هـمـه بر قول نی و نغمه چنگ است
چشمـم همـه بر لعل لب و گردش جام است
در مـجـلـس ما عـطر میامیز کـه ما را
هر لحظه ز گیسوی تو خوش بوی مشام اسـت
از چاشـنی قـند مـگو هیچ و ز شـکر
زان رو کـه مرا از لـب شیرین تو کام اسـت
تا گـنـج غـمـت در دل ویرانه مقیم اسـت
هـمواره مرا کوی خرابات مـقام اسـت
از نـنـگ چـه گویی که مرا نام ز ننگ اسـت
وز نام چـه پرسی که مرا ننـگ ز نام اسـت
میخواره و سرگـشـتـه و رندیم و نـظرباز
وان کس که چو ما نیست در این شهر کدام است
با محـتـسـبـم عیب مـگویید کـه او نیز
پیوسـتـه چو ما در طلب عیش مدام اسـت
حافـظ مـنـشین بی می و معشوق زمانی
کایام گـل و یاسـمـن و عید صیام اسـت

Poema de forma fixa, o gazel obedece ao seguinte esquema rimático: AA / BA / CA / DA e assim indefinidamente. A manutenção de uma rima por todo o poema pode conferir-lhe grande musicalidade. E / ou um grande enjoo também.

A tradução para o árabe tunisiano devo-a ao meu amigo imaginário Meheda Kalam Hafiz.

GAZEL PARA PAMPI

Vem, escuta meu amor
o gazel em teu louvor.

Já te fiz muitos sonetos
até coube algum rigor.

Já te fiz uns limeriques
pintadinhos de humor.

Esta a estação dos gazeis
gazel, gazela e flor.

Não venham Chico ou Caetano
dar as deles de censor.

Eu te roubo a biografia
e publico sem pudor.

Eu te roubo a tua boca
e te sorvo qual licor.

Minha Nossa Senhorazinha
deixa eu ser o teu pastor,

inventar riminhas bobas
como se fora inventor.

E nada te peço em troca
senão único favor:

pendura a tua calcinha
na linha do Equador

me aquieta o coração
que grita que nem tambor

vem e deita sobre mim
se dissolve em meu suor.

Não há nada nada que
se compare ao teu sabor.

Curitiba, Araucatiba

Fiquei mesmo com a leve impressão de que são os curitibamos levemente ciosos de suas araucárias. Isso depois de encontrá-las em paineis de azulejos, em vitrais, em pedras portuguesas.

Mas foi apenas impressão. Não se dê crédito a poetagens, inda mais depois de se engolir um jacaré.





Este aqui é um Poty

Friday, October 25, 2013

Da janela de onde o anjo se lançou



da alta janela de onde o anjo se lançou
hoje crescem samambaias
já quase atingem o chão
samambaia essa plantinha ordinária
era tudo o que ele queria
naquela noite de 12/08/2012
pra mais delicadamente descer por elas
Rapunzel
e atingir seus sonhos

Thursday, October 24, 2013

Gazel em Louvor de Pampi



Escuta o gazal que fiz
Manuel


Sob este jacarandá
me pergunto onde andará

a moça dos olhos ternos
que me causa desgovernos

a moça por quem eu fiz
gazel como fez Hafiz

assim o meu gazel, a
cantar loas pra gazela

mas, só, resta-me pensar
e na sua ausência sonhar

na triste tarde deserta
com a sua flor entreaberta.


Wednesday, October 23, 2013

Botequins de Sampa V - Bar Chorão aka da Moedinha



Em termos gastronômicos, São Paulo está sempre esteve a anos luz do Rio. Se você não é chato como eu, em termos de botequins, também estará. Mas se você é um chato interessado obcecado por botequins antigos e corre atrás de itens descritos neste post aqui, o Rio leva a palma nesta disputa. Como também já escrevi neste post aqui, quase todos botecos paulistanos sofreram reformas pra lá de descaracterizadoras. 

Embora a praga da descaracterização, da homogeneização das lajotas brancas, da mudernidade, de uma assepsia pra inglês ver já se alastre por aqui, ainda temos nestas plagas cariocas casas dignas. 

Mas é questão de tempo. E dia haverá que até o Flor doTâmega terá azulejos de hospital e servirá hambúrgueres (tá certo o plural, Pasquale?). Mas até lá, espero, já terei cruzado o Estige.

Bem, este aqui encontrei quando procurava o Bar del Mar. Atirei no que vi, acertei no que não. Depois achei o Del Mar também, comi as lulas recheadas. Mas este aqui é botequim pé-sujo autêntico imaculado, com geladeiras de madeira em funcionamento.

O nome de pia é Café e Bar Chorão. Conhecido por Bar do Alemão. Também Bar da Moedinha porque colam moeda de real no balcão para enganar tolos como eu. Dia de sábado colam na entrada pra fazer a alegria dos frequentadores. Bem, programa de paulista. =)








Tuesday, October 22, 2013

Assim queria a casa :: plural


Também (ver aqui) quero fazer poema inspirado em Brennand. E inspirado por aquilo que Brennand inspira.





assim queria a casa :: assim plural
de asa plural de nuvens e desejos
uma casa equilibrada em abismo
talhada nas cerâmicas em pânico
assim a casa em permanente risco
rabisco de criança ensimesmada
assim a casa em permanente atraso
a dar azo para a irrisão dos homens
a dar azo para a compreensão dos pássaros
uma casa instalada no acaso
oca atemporal em seu próprio espaço
a casa em que o negrume dos teus óleos
se confundisse aos olhos das manhãs ::

a casa entressonhada por Brennand

Poemas para Brennand

Exposição Brennand :: outubro de 2013


Francisco Brennand sempre me perturbou horrores, sua oficina me perturba e intriga até hoje e a visita à exposição no Museu Afro-Brasil não poderia ser diferente.

O Quintana de "Todas as artes são manifestações diversas da poesia -- inclusive, às vezes, a própria poesia" que julguei aplicar-se tão bem à Casa da Flôr (e aqui), também quase aqui.

Digo quase porque a arte de Brennand não é manifestação da poesia, mas a própria, em cerâmica viva e latejante.

Redundante portanto poesia em uma exposição do mestre? Não, porque de Brennand a arte do excesso, dele os barroquismos fantasmagóricos, dele as alucinações desmedidas dos oroboros.

Dois belos poemas para Francisco. O soneto "A Solidão e sua Porta", de Carlos Penna Filho, é a ele dedicado. O de João Cabral chama-se apenas "a Francisco Brennand".


A SOLIDÃO E SUA PORTA

Quando mais nada resistir que valha
a pena de viver e a dor de amar
E quando nada mais interessar,
(nem o torpor do sono que se espalha).


Quando, pelo desuso da navalha
a barba livremente caminhar
e até Deus em silêncio se afastar
deixando-te sozinho na batalha


a arquitetar na sombra a despedida
do mundo que te foi contraditório,
lembra-te que afinal te resta a vida


com tudo que é insolvente e provisório
e de que ainda tens uma saída:
entrar no acaso e amar o transitório.


 ***************************************************

a Francisco Brennand

fechar na mão fechada o ovo
a chama em chamas desateada
em que ele fogo desateia
e o ovo ou forno tem domadas
então
prender o barro brando no oco
de não sei quantas mil atmosferas
que o faça fundir no útero fundo
que devolva a terra à pedra que era


Monday, October 21, 2013

Gozando Junto IIIII




Este finde em São Paulo rendeu muitos gozos juntos, em diversos contextos. A menina no interior da Igreja de Nossa Senhora dos Homens Pretos é simplesmente impagável. A família sob a frondosa árvore no parque é linda. A galera que colocou a câmera profissa no tripé no automático não fica atrás.











Florescem os Jacarandás em São Paulo



Meninos, eu vi. Os jacarandás-mimosos florescem em São Paulo e não só em meio às colegas do Ibirapuera, não. Eles irrompem do solo com a força lhana de suas raízes e, com certeza, eles que sempre estiveram ali, querem dizer coisas. É vê-los para ouvir.

E tem quem diga que por aqui a primavera nada é senão um nome na folhinha. É um nome na folhinha, mas também em cada uma das flores roxas e fluorescente, em cada dente dos fósforos acendidos.









Um cronista português -- cronista, sociólogo e político (plé) -- é tão afeito a eles que seu blogue se chama assim :: http://o-jacaranda.blogspot.com.br/

Wednesday, October 16, 2013

Bar do Dante - Curitiba





Isso talvez explique as contumazes sarandagens do piá à noite :: ele tem um bar. Não sei se existe há muito, é possível. Se sim, cheguei tarde, depois da reforma descaracterizadora.

De qualquer modo, tem cerveja artesanal de Joinville, a Opa (opa!) e, de noite, tem jacaré.

Mas fui mesmo pelo nome, claro.





Tuesday, October 15, 2013

Tive mais professores ruins que bons. Ou 10, 12, 15!

Roger Waters na Apoteose em 2012


Tive mais professores ruins que bons. Uma quantidade de medianos, desinteressados. Nos EF e EM os desinteressados, principalmente se em escola particular, precisam disfarçar. Na universidade, principalmente se pública, não precisam disfarçar.

Fiz dois anos de Psicologia na UERJ. Que professores ficaram? Bastam-me os dedos de uma mão. Fiz quatro anos de Letras na PUC-Rio, quantos?

Os que ficaram, ficam para sempre. Esta é a vantagem. Os que não ficaram, os desinteressados, os cansados, os desiludidos, os amargurados, os francamente medíocres, os francamente canalhas que humilham os alunos, os francamente filhos-da-puta hoje são todos contra-exemplos a que eu, que trabalho com formação de professores, amiúde recorro.

Lembro-me do Júlio César, professor de Ciências do Colégio Marista São José, entrando na sala da 7a série E daquela manhã aos berros: "10, 12, 15! 10, 12, 15!" Que isso, o que queria o cara? Ele queria que os números (éramos números) 10, 12 e 15 fossem para o quadro-negro para que os outros números fizessem perguntas sobre a matéria! Assim do nada! Como ele não tinha preparado aula nenhuma, saiu-se com essa. E, ai de mim!, eu era o 12. 50 minutos de tortura. A única coisa que respondi é que citologia era o estudo das células. Para as outras perguntas não tive palavras porque, enfim, qual aluno que tem o hábito de """manter""" a matéria em dia assim quando nem os professores mantém seus afazeres em dia.

Enquanto eu agonizava no tablado, o professor querido tirava sarro fazendo piadinhas sobre nossas aparências. De preferência, claro, para as bonitinhas de quem ele amava apertar as bochechas.

Não escrevo isso amargurado, muito menos traumatizado. Lembro bem disso porque tenho boa memória e o seu número gritado assim no cristal da manhã não se esquece tão facilmente. Sei bem que tipo de gente é esse professor. Anos passaram, mudamos para melhor. Mas daí a achar que babaquices como essa do Sr. Júlio César não acontencem mais seria estar muito enebriado com a data de hoje.

Relato de um certo orientador



Abaixo um dos apêndices de minha tese, defendida em 2008, em que homenageio meu professor-orientador que não chegou a ver o trabalho pronto.

O título tem por intertexto o romance chato do Miltom Hatoum, Relato de um certo Oriente.




RELATO DE UM CERTO ORIENTADOR

            Faz dezesseis anos, mas a lembrança é indelével. Aluno novo da graduação na PUC, eu nunca assistira a uma defesa de tese ou dissertação antes e entrei na sala apenas porque dois colegas me convidaram. Desta manhã guardo o nervosismo do estudante que então defendia sua dissertação (que bom, egoisticamente pensei: outros ficam nervosos) e um professor da Banca, muito sério, que colocou as questões de uma maneira tão clara, tão ponderada, tão arguta, mas também tão terna, que fiquei imediatamente cativado. Dois dias depois, na aula de Latim, ao levantar algumas questões acerca da tradução que fazíamos, peguei-me tentando falar exatamente como aquele professor que me impressionara tão positivamente.
            Passado um tempo, quanto não lembro, cruzei com este professor nos corredores da UFF. Sequer recordo com exatidão o que eu fazia por lá. Porém, contrariando minha introversão, apresentei-me e contei-lhe como eu ficara positivamente impressionado com suas colocações durante aquela defesa. Mais um tempo, e novo reencontro fortuito: ele que me diz agora que meu elogio lhe agradara muito e me agradecia por isso. Mas como, pensei? Como um professor desses não é elogiado todo dia, várias vezes? Por que temos tanta facilidade para falar mal e tanta dificuldade, ou má vontade, para falar bem? Mais tempo passou, terminei minha graduação e meu mestrado na PUC. Fui trabalhar, anos correram, até que resolvi fazer meu Doutorado. Então pensei: Doutorado só com José Carlos Barcellos.
            Sou então muito grato a essa chance que tive, aos anos em que pude conviver com sua inteligência, sua paciência e tolerância. Quis o destino que ele partisse, dolorosa e prematuramente, privando-nos de sua presença. Sobrevive em nossa lembrança, em nossos corações, em nossas práticas, na música dos decassílabos de Camões.
           


Monday, October 14, 2013

Poema de Amor



enfim o reecontro contei dedos
contei dias um por um ia baixando
agora que te vejo todos medos
um por um eles vão evaporando

ligeiro fecha a porta apaga a luz
engole a chave joga o celular
pela janela é só oitavo andar
amanhã compras outro pelo site
o gostoso é que estás aqui e, ai, te
quero quando me deito sobre a cama
nós dois inteirissimamente nus
e tu já sabes bem como é que é
acho que estou pronto (sigh) vem começa
as infernais cosquinhas no meu pé






ps :: quem levar a sério ganha um cascudo. Ou dois.

Heavy Metal, esse velho careta




Para assistir ao Sabbath de tão perto, submeti-me, dentre outras submissões, a assisitir à abertura do Megadeth.

Este pensamento tive-o em Copenhagen há alguns anos vendo cabeludos de preto bebendo felizes suas cervejas quentes. O mesmo pensamento que tenho ao ouvir agora a música do vizinho da frente, o mesmo de ontem:

Tá, pode ser que o metal, como a cannabis, como rasgar poltronas de cinema, emporcalhar paredes com suas alcunhas, como pertencer à torcida organizada do time de massa querido da imprensa, pode ser que isso tudo haja sido, um dia, transgressor.

Hoje são a quintessência do conservadorismo e do conformismo.

Friday, October 11, 2013

Quando a manhã nos pousa a passarola




quando a manhã nos pousa a passarola
certeza de que é hoje o voo a vida
se nos coloca assim imperativa
nada de nós exige senão tudo
embarquemos: o tempo :: sempre :: evola
e o voo se faz no augúrio das mãos dadas
deslumbradas de tanto vento e luz
voamos voamos até que a noite
derrama suas estrelas pelo céu
amei o voo os espaços tudo
o que vi
mas por mais alto que tenha voado
este meu coração pertence à terra
e a ti


Quem construiu o Museu Oscar Niemeyer?



Aquela história de o Museu Tal foi construído por Fulano, assim como a maior das pirâmides de Gizé foi construída por Quéops. Foram eles que carregaram as pedras?

Dentro do Olho, no magnífico Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, tenta-se fazer justiça aos que carregaram as pedras. Não temos seus nomes, mas belas fotos. Já é mais que alguma coisa.

Impossível, claro, não lembrar das perguntas do operário que lê, do Brecht.



Quem construiu a Tebas de sete portas?
Nos livros estão nomes de reis:
Arrastaram eles os blocos de pedra?
E a Babilônia várias vezes destruída
Quem a reconstruiu tantas vezes?
Em que casas da Lima dourada moravam os construtores?
Para onde foram os pedreiros, na noite em que a Muralha da China ficou pronta?
A grande Roma está cheia de arcos do triunfo:
Quem os ergueu?
Sobre quem triunfaram os Césares?
A decantada Bizâncio
Tinha somente palácios para os seus habitantes?
Mesmo na lendária Atlântida
Os que se afogavam
gritaram por seus escravos
Na noite em que o mar a tragou?
O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Sozinho?
César bateu os gauleses.
Não levava sequer um cozinheiro?
Filipe da Espanha chorou,
quando sua Armada naufragou.
Ninguém mais chorou?
Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos.
Quem venceu além dele?
Cada página uma vitória.
Quem cozinhava o banquete?
A cada dez anos um grande Homem.
Quem pagava a conta?
Tantas histórias.
Tantas questões.




Limeriques geográficos :: a série



O limerique do Peru acabou inspirando, para além do desenho maravilhoso da Maria Gabi, outros limeriques na mesma veia geográfica.

Qualquer livre-docente em limeriques saberá que a geografia é um dos legais dos limeriques, melhor ainda se repetindo o topônimo no quinto verso.

Por que fiz aquele do Peru? Lá sei. Inspirado talvez por um dos mais célebres limeriques de todos os tempos? 

There was an old man from Peru
Who dreamt he was eating his shoe
He awoke in the night
In a terrible fright
And found it was perfectly true...

Sei lá.

Mas aí foram jogando verdes. Quando não jogavam, jogava eu mesmo. De modo que já tem até serizinha especial.




Talvez se morássemos no Peru
tudo mais fácil, sem tanto rebu.
Mas que ideia mais avessa
nem passa pela cabeça
ir com ele pra esse tal de Peru.


Talvez se morássemos na Turquia
tudo mais fácil, sem tanta agonia.
Mas que ideia tresloucada
Esquece isso, camarada,
Ir para a Turquia de mala e quia...



Talvez se morássemos no Gabão
tudo mais fácil, sem tanta emoção.
Mas que ideia mais tolinha
Carregar o meu malinha
Pra ficar se gabando no Gabão.


Talvez se nós morássemos na Grécia
tudo fácil, sem tanta peripécia.
Mas que ideia mais ridícula
Não se aproveita partícula.
Levar o meu deusinho para a Grécia.



Talvez se nós morássemos na Runsa
tudo mais fácil, sem tanta bagunça.
Não, aí exagerei
Porque até onde sei
Não existe (ainda) país chamado Runsa.