Thursday, December 23, 2010
Mito desmontado
Saturday, December 11, 2010
Fragmentos

Tia Júlia e o Escrevinhador

É difícil retornar a um romance depois de alguns meses. A tentação de abandoná-lo de vez (um dos direitos do leitor, não é, Pennac?) e começar um outro é grande.
Mas insisti. Voltei à Tia Júlia, ao Varguitas, ao Pedro Camacho, e não me arrependo em nada.
Houve época, recente, em que muito se alardeou o fim da literatura, bem como o fim da história, o fim da pintura o fim disso e daquilo. Atitude, no mínimo, de uma soberba ridícula.
Com o personagem Pedro Camacho, e suas narrativas entremeadas à linha narrativa 'principal', Llosa mostra que a capacidade do homem de criar, e contar, e organizar suas experiências por meio da narrativa, é infinita. Verdade que o personagem seca, endoidece, tem fim humilhante, o que permite diversas leituras simbólicas, algumas mesmo óbvias, mas o que me ficou deste doidivanas fascinante foi isso: jorro incessante, contar sem fim, mar de histórias.
Ao fazer isso, Vargas, naturalmente, revela-se sobremaneira moderno, pós, e nada ingênuo. E ao imiscuir, descompromissadamente, vida e obra, também.
Friday, December 03, 2010
Miguilim
Eu estourei o tímpano, mas precisamente o direito. Pela sensação (indescritível), achei que fosse água da piscina, das minhas aulas de natação. Depois lembrei que não fazia aulas de natação, nem de piscina. Deve ter sido só a membrana que, pelo que lembro de minhas aulas de fonologia, logo se reconstitui.
PS: Sim, este tímpano se foi por muito boas causas...
Sunday, November 28, 2010
Você também?

Nunca fui grande fã. Lembro de quando montei o schedule do meu curso Literary Rock e o mostrei a uma colega, grande fã da banda irlandesa. Ela o examinou e devolveu-me de olhos baixos, em muxoxos: "Esse não gosta de U2 mesmo...". É que não havia uma única menção à banda.
Quando estive em Dublin, aquela capital em que gaivotas grasnam downtown, vi em diversas livrarias um livrão portentoso sobre a banda, papel couché, repleto de fotos coloridas, a preço de banana. Nem. Deixei lá.
Do U2 lembro-me de certa noite no Circo Voador em que lá estava com minha tribo metaleira. Isso antes do primeiro Rock in Rio, antes de esta cidade descobrir o que são metaleiros. Enquanto aguárdavamos o show (Stress? Dorsal?), passaram vídeos no U2 no telão. Meus amigos, meu irmão em primeiro lugar, odiaram, babaram bílis, mandaram o pobre do Bono enfiar aquela bandeira branca no fiofó. Mas eu gostei do que vi.
E eu estava em Chicago em 1987, ano do Joshua Tree. Um desbunde. Só se falava nisso. E é mesmo um disco clássico.
Mas se o U2 der por estas bandas, irei vê-los é por outro motivo. Temos vários CDs da série "Babies Love": Beatles, Carpenters, Pink Floyd (que Dante e eu ouvimos toda noite toda a noite), Police, Phil Collins. Mas é no do U2 que recai nossa predileção e o qual usamos, toda tardinha, para niná-lo. Nele não apenas reconheci músicas várias, como as óbvias "Sunday Bloody Sunday" e "New Years Day", de que nem gosto tanto, e "One" (linda), como aprendi músicas que desconhecia, como "40", "Bad" e "Van Diemen's Land": todas lindas tocantes, que fazem deste momento um instante de ternura indescritível.
Por isso gostaria de ir ao show.
E quem sabe até incluí-los no meu próximo Literary Rock? =)
Friday, November 26, 2010
Acordar angustiado no domingo
E eu, que tanto amo trilhas-sonoras (estão aí Wim Mertens, Philip Glass, Gabriel Yared, Zbigniew Preisner e, claro, Michael Nyman para prová-lo), fico embasbacado com filme em que trilha não há. Herança de Dogma? Caminhos similares ao do malaio Tsai Ming-liang? Porque música há, mas apenas incidental. Temos as notas que emergem desafinadas do harmônio tocado pelo professor primário. Temos a dança dos campônios na Festa da Colheita, temos Bach na missa. Mas este é filme de silêncios.
De Haneke eu já assistira ao igualmente perturbador A Professora de Piano. Para quem sentir cócegas de interesse: cuidado. Haneke gosta de explorar não apenas nossas comezinhas hipocrisias, mas também a sordidez que se lhe pode acompanhar.
Não é um filme didático (como é, por exemplo, O Menino do Pijama Listrado). Dizer que ele explora as origens do nazismo é dizer pouco. Mas é impossível deixar de fazer as contas. Afinal, são aquelas crianças, perturbadoras e perturbadas, torturadoras e torturadas, de 10, 11, 12 anos -- são aquelas crianças que estarão no ápice de suas forças físicas para ingressar as fileiras das SS, possivelmente já como oficiais.
Impossível também não lembrar do filme mais terrível de Pasolini, cujo nome não digo. Afinal, há uma representação quase esquemática das classes sociais e o que estas representam: o barão dono de terras (nobreza / burguesia afluente); o médico (profissional liberal / ciência); o pastor protestante (o velho cristianismo, sempre mancomunado com o poder). Três homens hediondos, em especial o segundo. Como sabem manter tudo sob a capa grossa das aparências, seguem. Nem sempre felizes (cai-se do cavalo logo no início, quebra-se uma clavícula), mas sempre no poder.
Saturday, November 20, 2010
POLEIRO DO GALETO
Na sexta almoço no Poleiro do Galeto, no CADEG, em Benfica. Já estivera empoleirado por aqui, coisa de uns seis anos, quando ficamos eu, Bia, Alexandre e Afonso por horas tentando chegar a uma conclusão (e definição) do que seria um concunhado. Se chegamos a alguma conclusão, pouco lembro, que esses assuntos são muitos dificultosos.
Chego cedo, o purtuguês me encara sério, muito sério, pensando cético enquando mastiga palitos: "Esse puto não é daqui... Que será que esse galego queire?"... Esta minha condição: se vou ao Antiquarius, I don't belong; se vou ao Poleiro, idem... Nem esquento mais, em vez disso: peço cerveja. É cedo, só tem eu sentado. O dono tabém bebe com um colega. Nisto entra o Caldeira, padrasto do meu cunhado e, para estupefação do purtuguesão, saudamo-nos, abraçamo-nos cordiais.
O Poleiro do Galeto é pé-sujo mesmo, de moscas, cheiro de mijo de gato e donos encarantes, e assim o quero eternizado, intacto, suspenso no ar. Tenho medos de que aconteça com o CADEG o que aconteceu com o Mercado Municipal de São Paulo e, em menor intensidade, com o Mercado São Pedro (ver primeiro post do ano). Tenho medo de que o aburguesem, o higienizem em excesso. Quero sentar aqui e ver defronte a loja de ovos Gema Dourada, toda ela azulejos azuis (imenso banheirão), com folhinhas de santos e de festas purtuguesas. Já instalaram aqui o Barsa, restaurante de chef, mas espero que pare por aí.
Voltando ao Poleiro: meu sobrinho chega e pedimos o almoço. Aqui é assim: todo dia tem bacalhau e mais o prato do dia. O de sexta, eu já sabia, que saloio não sou, é o cabrito. Custa 27 reais, serve bem duas pessoas e vem molhando a farofa, o arroz e as batatas. Não é como o do Nova Capela, filé. O daqui vem cheio d'ossos, na vinha d'alhos. Aliás, já que comecei a comparação, continuo: pagará a pena voltar ao Capela, pagar 65 reais por um cabrito seco em porção que hoje mal dá para um?
Ao sairmos, o Poleiro está cheio, ocupam várias mesas pelos corredores. Meu sobrinho me fala que agora tem loja vendendo cervejas especiais por lá. Tão vendo?, é o sinal da "sofisticação". Mas eu lá vou, claro, e me refestelo com Flying Dogs, Colorados e Wäls. Mas isto já será assunto para outro post.
Tuesday, November 16, 2010
Palhaço (ao vivo)
E não é que domingo passado tivemos "Palhaço" tocada ao vivo em nossa sala? Visita de músico é assim mesmo. Você pede canja, fazem muxoxo, alegam calos, cansaços, contratos seriíssimos. Você não pede nada, e o presente vem: todo surpresas...
Sunday, November 07, 2010
Coleções
Para quem achou...


Saturday, November 06, 2010
Corta o cabelo dele, corta o cabelo dele!




Sunday, October 31, 2010
Minha vida inteira
Hoje, ante Dante,
E a poesia deste momento
Wednesday, October 27, 2010
Um Menino Vestido de Sol
Daí esta pequena série. A luz vem de fora e a luz vem de dentro.
Quanta luz.



Sunday, October 24, 2010
Prazer a 59,3%


Termino neste momento minha garrafa de Caol Ila Cask Strength, com 59,3% de graduação alcoolica. É pena, pois este whisky de Islay, comprado no freeshop de Copenhague, vai deixar saudadades.
Se em poema publicado aqui no bloguinho, descrevi whisky como o pôr-do-sol no copo, este aqui foge inteiramente a isso, de vez que sua apresentação é pálida, côr de palha.
Se no primeiro post deste ano degustei um outro cask strenght, o Aberlour Abduna'h, este aqui também foge a isso, de vez que, a despeito de seu altíssimo teor, queima menos.
Mas estão aqui a turfa, a fumaça, o sal de Islay. E um frescor inacreditável.
Cask strenght é denominação dada ao whisky tirado "direto do barril", sem que água alguma tenha sido adicionada a ele. Esta adição de água, neste estágio, não representa um batismo, uma falsificação, muito pelo contrário, tanto que a praxe é adição de água, de modo a trazer sabores e aromaa à tona e a baixar o teor alcoolico para mais ou menos 40%, que é a média do whisky. Em alguns casos, no entanto, com o intuito de oferecer um produto diferente, as destilarias vão a alguns barris jovens (menos de 12 anos) e engarrafam direto. Daí o maior teor alcoolico e, por extensão, a grande variedade de sabores possível, pois um barril nunca será exatamente igual ao outro, ainda mais se estamos a falar de single malts Islay.
Tuesday, October 12, 2010
Um Pisco para Llosa
Antes da Internet, era comum eu ficar ansioso na manhã seguinte a um jogo do Vasco para chegar na banca e descobrir o placar final. Pois foi com alegria semelhante (que, err, os resultados dos jogos nem sempre traziam), que descobri nas manchetes que o Nobel de Literatura fora dado ao Mario Vargas Llosa, peruano de Arequipa. Não que seja necessária a chancela de um prêmio para ratificar nossos gostos, mas um prêmio como este, já ganho por tanta gente boa (ao contrário do desprezível Oscar), é, perdoai o clichê, o reconhecimento de uma obra genial, abundante, consistente.
Eu e meu pai, ledores e reledores de Llosa, quedamo-nos contentíssimos. Para comemorar, fiz aqui em casa um pisco sour (lembrem-se de que o pisco é a bebida típica peruana), que tomamos em homenagem não apenas ao Mario Vargas Llosa, mas também (e principalmente?) à Tia Júlia e ao Varguitas, ao Poeta, ao Escravo, ao Jaguar, ao serrano Cava, ao metódico Rigoberto, ao diabólico Fonchito e à seduzida madrasta, ao Ricardo e à Lily, a menina má, e ao Pedro Camacho.
Personagens mais vivos que muitos dos zumbis com que cruzo diariamente.
PISCO SOUR:
Ingredientes:
200 ml de suco de limão
200 ml de açúcar
Clara de 1 ovo
Bastante gelo
O modo de fazer é que é dificílimo:
10 do 10 de 2010
Uma das dívidas que eu tinha para comigo, sabem? O Rush esteve aqui em 2002 e eu desdenhei. Passei de carro na frente do Maracanã e desdenhei. Depois foi o arrependimento. O show foi tão bom que decidiram transformá-lo em DVD. Pela primeira vez, palavras de Geddy Lee, o público cantou junto a música "YYZ". Detalhe: uma música instrumental. Cantar uma música instrumental! Se Joe Cocker inventou o air guitar, os cariocas inventamos letra onde só havia sons. Não é pra ser ufanista, mas tem que ser. E me incluo na silepse de pura carona: como assim "os cariocas inventamos", se eu não estava lá? Arrependimento que, para ser dos bons, é secreto, calado, recalcado, sumo que se espreme para se armar em coágulo.
Mas, bons meninos que são, o Rush volta ao Rio, oito anos depois. E, tickets for fun à parte, essa nojeira e roubalheira de venda de ingressos, consigo ir em cima da hora, comprando ingressos na surdina, na escuridão da Praça da Bandeira, e vou com o amigo velho Renato, que estivera no show de 2002.
Três horas de show. Espíritos flutuaram alto pelo céu plúmbeo e baixo da Apoteose.
O show abriu com "The Spirit of the Radio", coincidentemente a primeira música do Rush que ouvi na vida. Era segundo semestre de 1981, estava eu na sétima série. Meu irmão e eu juntamos umas sacolas de discos de novela e discoteca e fomos para as lojas de disco do centro tentar trocar. Conseguimos! Na base de 15 por um. Deixamos lá 45 elepês e saímos leves com outros 3, um do mano, o outro escolha em comum e o terceiro escolha minha, o Permanent Waves do Rush. Não que eu já conhecesse banda, conheci ali na hora, na loja, atraído pela capa em P&B em que o vento levanta o vestido de uma bela moça e um rapaz acena ao fundo. Tudo muito "arty", talvez arty demais para um fedelho de 13 anos. Mas foi isso e aquele som "moderno", que me pegou pelo laço e fez do Rush, pelos próximos dois anos, uma de minhas bandas favoritas. (Motivo de rusgas com o André, que, talvez fiel ao fato de não ter escolhido este disco na troca-troca, sempre sacaneou a voz do Geddy Lee, para minha raiva.)
Não sou um grande entendido em Rush. Parei no Moving Pictures. Lembro-me que mesmo em 83, 84, eu já estava chateado com os rumos que o trio canadense tomava. Hoje vejo que eles sempre buscaram ser fiéis a si mesmos, o que talvez explique essa invejável longevidade (MPB 4 que se cuide).
Mas nesta noite do 10 do 10 de 2010 o que valeu é que estavam lá "The Spirit of the Radio", "Freewill", "Tom Sawyer", "Red Barchetta", "Working Man", "La Villa Strangiato", "Closer to the Heart".
E, claro, "YYZ".
Que cantei a plenos pulmões.
Saturday, October 09, 2010
Botequim Colarinho / Botto Bier


Sentiram? Está na moda abrir botequim com ampla carta de cervejas ou ou velhos ampliarem as suas, mas a cerveja draft, a caña, o pão líquido mesmo, é difícil encontrar em variedade. Pois aqui tem. Para além do Inbev de praxe (Brahma), tem o Red da Baden Baden, a Rauch da Bamberg e... o Bottobier, o München Hell do Botto, o meu querido mestre cervejeiro Leonardo Botto. Percebam: ele faz cerveja em casa, e o chope dele está disponível neste novo botequim. Quando o papo é cerveja, é ou não é uma fase muy alvissareira esta que vivemos nesta muy leal cidade?
Saturday, October 02, 2010
Bier Über Alles ou As Coisas Boas da Vida
Wednesday, September 29, 2010
Extra, extra!

Saturday, September 18, 2010
COMPRAR PEANHA

COMPRAR PEANHA
Não consigo imaginar um deus que não saiba dançar.
Nietzsche
Viver é duro, navegar sempre será preciso, tamindige mondage (nambiquara: fazer amor é bom), mas comprar peanha, comprar peanha não fica muito atrás, não. Primeiro, julgaram-me fanho. Um fanho querendo uma peanha. Se eu tivesse ganho uma peanha, não precisava ter ido atrás de uma, mas imagina: Fanho ganha peanha, em que palatais líquidas umedecem o papel.
Outros pensaram ser piranha o que eu queria. Piranha? – indagavam levemente temerosos da palavra e seus dentes. Não, eu repetia: peanha. Apenas uma senhora, de uma das duas únicas garage sales de nossa cidade, atendeu às minhas súplicas.
– Tenho três – disse naquele tom inequívoco de quem entende do riscado e de peanhas.
Não gostei de nenhuma das três e de lá saí de mãos vazias. Dirão que sou muito exigente quando o assunto é peanha, mas convenhamos que uma peanha não se compra assim a primeira que aparece. Amanhã recomeço. Hoje é voltar para casa, encarar Shiva e confessar-lhe meu fracasso. Esta noite sua dança ainda queimará o universo em minha estante.
Tuesday, August 31, 2010
Sunday, August 29, 2010
Feliz Dia dos Pães!





Eia, com atraso indesculpável seguem fotos do meu segundo Dia dos Pais enquanto pai e quadragésimo-segundo enquanto filho.
Fui ao Mercado de Peixe, sentei-me só no Bar Temporal que começava mui timidamente a receber gente e tomei cerveja.
Antes Tutuca me dera presentinhos, coisinhas simples como copos de whisky turcos.
Quando ia ligar pro pai...ele ligou! Isso deve querer dizer alguma coisa.
Dani veio, qual ano passado, e fez nachos de entrada.
O pièce-de-resistance foi camarao ao curry, refogado no alho com gengibre em pó. O molho levou pimenta calabresa, chilly, folhas de coentro...
O arroz é que era muito básico, com sementes de coentro, louro e um pouco de açafrão.
Todo dia é dia dos pais. Mas todo domingo (ou um sim outro não) ele podia ser assim celebrado.
Thursday, August 26, 2010
Eyes wide open (até onde permite a conjuntivite)
Sunday, August 15, 2010
It pours
Friday, August 06, 2010
Pastoria



Seguia eu para um restaurante, que chegou para abalar o lugar (de honra) que o Nova Capela ocupa em meu coração. "Chegou" é bem modo de dizer, já que o Restaurante e Café Pastoria, mais conhecido como 28, está ali na Barão de São Félix, na Saúde (ou Gamboa?) há mais de 70 anos.
Mas só fui conhecê-lo agora, e lá levei o pai para almoçarmos.
Se o Nova Capela é um jóia, o 28 é uma jóia não-lapidada, de durezas a arestas que podem mesmo assustar. A começar pela localização, atrás da Central. Cheguei nele passando pela Rodoviária e o que se vê no caminho deixa Nova Déli no chinelo. A rua mesmo em que ele se situa é também bastante degradada, embora em meio a esse cenário de eyesores divisem-se alguns prédios, casas e detalhes arquitetônicos sensacionais.
O restaurante em si também não é de badalações. Seu charme reside no despojamento absoluto: velhos suportes para pendurar paletós (e o chapéu do Seu Inacinho), e o cardápio com os itens datilografados, em que figuram as estrelas cabrito, leitão, polvo.
Fui de polvo, meu pai caiu no leitão crocante com batatas coradas. Os pratos não dão para dois, o que pode ser uma vantagem: indo-se em dois, tem-se a chance de provar dois pratos. Em três, três, e por aí...
Os donos são dois purtugueses de Vila Real, Amândio e Jacinto, que aqui chegaram há 50 anos. Nunca voltaram a Portugal, mas dizem que ainda retornarão, de visita, o que sabemos não ser verdade.
Jacinto guerreou em Angola. Deve ser bom (interessante talvez seja palavra mais apropriada) sentar com ele depois do expediente e, em meio a cervejas e bagaceiras, ouvir-lhe histórias...
E então minh'alma servirá de abrigo

Não é que este bloguinho metido e despretensioso chegou ao tricentésimo post?
Impossível não lembrar de Mário.
"Eu sou trezentos, sou trezentos e cinqüenta,
As sensações renascem de si mesmas sem repouso,
Ôh espelhos, ôh! Pirineus! ôh caiçaras!
Si um deus morrer, irei ao Piauí buscar outro!
Abraço no meu leito as melhores palavras,
E os suspiros que dou são violinos alheios;
Eu piso a terra como quem descobre a furto
Nas esquinas, nos táxis, nas camarinhas seus próprios beijos!
Eu sou trezentos, sou trezentos e cinqüenta,
Mas um dia afinal toparei comigo...
Tenhamos paciência, andorinhas curtas,
Só o esquecimento é que condensa,
E então minha alma servirá de abrigo."
Que faço agora? Rumo aos próximos trezentos? Com metas tipo um post por dia? Corro atrás de um patrocínio? Boto anúncios no orkut? Vou ao Piauí buscar um deus?
Sunday, August 01, 2010
Faltou um licorzinho
Depois ocorreu-me: na verdade, para acompanhar um café desses, café, repito, feito a partir dos grãos de café encontrados no cocô do Jacu, bom mesmo seria... um Licor de Merda!

Tomei-o uma única vez, há muitos muitos anos na casa do então amigo João Ernesto, assim chamado em homenagem, velada, ao Che.
O que achei? Ora, uma merda! Repeti a dose!
Para os que estranham: o Jacu é café brasileiro, com muito orgulho (ou não). O Licor de Merda é purtuguês, de Castanhede.
Não estranhem, ora pois. Afinal, da culinária lusa saem pratos como a punheta de bacalhau (fácil de fazer, é muito querida pelos solitários), a sopa de grelos (da Beira), as caralhotas ou cacetes e, por fim, o Arroz de Pica no Chão (da dieta dos velhos, ainda que à sua revelia).
Parece sacanagem. E não é.
Vai tomar Jacu! ou Dois cafezes.

Qual não foi a minha surpresa ao descobrir que no Café da loja, o Baroni, servem o Café Jacu. Para quem desconhece, o Jacu Coffee é o café mais especial deste país, extraído que é do cocô desta ave chamada Jacu.
Seus produtores inspiraram-se no café mais caro do mundo, o Lopi Luwak, da Indonésia, produzido a partir dos grãos encontrados no cocô do civeta, um gato selvagem. Como quem não tem gato, caça com pato, a galera do Espírito Santo faz algo análogo com o Jacu, que de praga converteu-se em solução. Uma solução ecológica, lucrativa, inteligente, uma merda. O quilo custa cerca de 240 reais.
Enfim, pode-se pedir: "Garçom, por obséquio, dois cafezes".
(Um vídeo do Globo Rural sobre este café de bosta: http://www.youtube.com/watch?v=0RiEtaS7k5s)
Friday, July 30, 2010
É nós aqui, é javali.

Recentemente me segredou que mingau de aveia causa-lhe azias terríves, o que não acontece se cai no mocotó, na rabada, na feijoada. Assim, estando ele de visita ao Rio, convidei-o para um javali no Nova Capela, o que de pronto anuiu.
O javali desceu soberbo, dávamos urras ao Obelix e, inda que eu não chegue à heresia do pai (que disse tê-lo preferido ao cabrito), confesso que, em minha próxima ida a esse templo da gula, meu coração irá balançar: ventrículo esquerdo pedindo pelo cabrito clássico e o direito suspirando pelo pujante javali.
Estivéssemos em 1989, quando Lula era Lula e o PT era PT, agora cantaria, como cantei: "É nós aqui, é java ali, é Lula lá". Mas tantos anos se passaram desde então, né?, uma maioridade, tantas águas rolaram. Da tríade do jingle fico hoje apenas com o nós e o javali, de preferência no Nova Capela a falar de livros e bebendo chope.
Thursday, July 29, 2010
As amendoeiras caducam



Mas não. Lancei mão de linguagem denotativa, científica até, botânica... Do latim caducu, isto é, que está a cair, uma árvore caducar significa simplesmente que está a perder as folhas.
Quem mora no Rio pode contemplar o espetáculo que está a caducagem das amendoeiras. As das praias de Icaraí e das Flechas estão até tímidas, muitas muito verdes até.
Mas já há as caducas! As folhas, sempre enormes, independente da idade da amendoeira, vão do verde ao ocre, ao tijolo, ao mel, à mostarda, marrom, chegam ao ouro, ao tomate seco, ao vermelho cardinal e, por fim, chegam supremas ao escarlate, reis e rainhas, e deixam-se tombar no calçadão. Passear com Dante nesta época é quase ter que se desviar destas rainhas escarlates que tombam, mas não nos desviamos, antes tentamos colhê-las.
Quem guarda com sede, a gata bebe

Tanto a Amber Ale quanto a Pale Ale são extremamente aromáticas e refrescantes (mas sem essa de "leve", adjetivo tão empregue pelas macros brasileiras para confundir o consumidor), um banquete para amantes de birras lupuladas.
A India Pale Ale, bem... esta deixei na geladeira enquanto ia ao Picote tomar chope. Resultado: Bia descobriu e bebeu! =/
Fez ela muito bem, ilustrando com exatidão o antiprovérbio: "Quem guarda com fome, o gato come."
Saturday, July 24, 2010
Fico ao teu lado

Mas este da Cecília vai na íntegra. A Cecília não é assim, de palavras simples e exatas?
Interlúdio
As palavras estão muito ditas
e o mundo muito pensado.
Fico ao teu lado.
Não me digas que há futuro
nem passado.
Deixa o presente — claro muro
sem coisas escritas.
Deixa o presente. Não fales.
Não me expliques o presente,
pois é tudo demasiado.
Em águas de eternamente,
o cometa dos meus males
afunda, desarvorado.
Fico ao teu lado.