Friday, February 22, 2019

O Nilton Bravo no (Ex-) Maior Restaurante Popular do Rio de Janeiro


No final do ano passado encontrei em romance de Antonio Callado a descrição de um Nilton Bravo (aqui) e eis que ele ressurge, nominalmente citado, no conto "São Cristóvão", uma maravilha de Victor Giudice (de quem também já tratei aqui) do livro Do Catálogo de Flores.

Vamos aos fatos.

O narrador está empenhado em travar contato com a misteriosa figura de Pedro Maravella, que enfim o convida para um chope:

Outra hora a gente conversa. Eu moro no trinta e quatro da rua da Quinta. Se você estiver interessado, passa lá no sábado, às cinco da tarde. Depois a gente sai e vai jantar no Sereia. Conhece o Sereia? Fica ali na Elpídio Boa Morte, perto da Praça da Bandeira. Nunca foi lá?

Antes que eu respondesse ele completou:

-- Vamos lá no sábado comer sardinha frita. Você vai gostar. 

Poucas páginas depois, os dois se reencontram:

Partimos para o Sereia, um dos maiores restaurantes populares do Rio de Janeiro. O Sereia tinha noventa e oito mesas, dispostas de maneira semelhante às abcissas e ordenadas da geometria cartesiana. Ao fundo ficava o palco, onde um cenário único destacava a copa, a caixa registradora e um ir-e-vir incessante de garçons equilibrando bandejas pesadas de tulipas de chope ou pratos de sardinhas fritas fumegantes, que o Farofa chamava de "putas de cartola". Tudo isso acontecia sobre um paredão que fazia as vezes de um ciclorama gigantesco ostentando uma sereia de cada lado, pintada a óleo, nas medidas que seriam as prováveis de uma sereia em tamanho natural. O pintor, Nilton Bravo, espalhou sua arte por mil botequins do Rio.

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O caso, aqui, é mais sério. Não foi só o Sereia que deixou de existir, mas toda a rua, restringindo-se, até onde pude apurar, a um pequeno trecho inominado entre a Leopoldina e a Escola de Circo, próxima do enorme portão do Matadouro onde acamparam as famílias expulsas do Morro do Castelo. 

O que é bem a cara da história (soterrada viva) do Rio.

PS: A foto é de uma outra sereia, de um café e bar na Ronald de Carvalho, em Copacabana. Faz parte do meu catálogo de flores, digo, de sereias.

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