Ou muito me engano ou ninguém mais lê Victor Giudice. Eu ia começar a postagem assim. Bobagem, melhor ir direto: ninguém mais lê Victor Giudice. Aliás, ninguém mais lê nada. Quem lê prosa de ficção no Brasil? Ninguém. Cito amigo meu português, colega blogueiro: "Anestesiados, cada vez mais anestesiados, com lixo digital e
demais porcarias, deixamos que tudo à nossa volta se vá transformando em ruína
e sobras. Nada disto faz sentido, este estado lamentável de coisas não faz
sentido."
E no entanto falava eu de Victor Giudice, cada início de conto que vale o livro inteiro, vale toda uma literatura, tanto ele sabe disso que assim começa seu "São Cristóvão":
Até 1968, o campo de São Cristóvão era um jardim sob encantamento. Hoje, a exemplo de coisas muito queridas que se dissolvem, é um jardim encantado. Só quem deslizou em seus caminhos de terra amarela, protegido pelas copas sanguíneas dos falomboyants, sob a vigilância dos elefantes de fícus, e indiferente às flores, cultivadas apenas para serem lembradas muito depois de extintas, é capaz de acreditar em magia.
Perdi meia hora em releituras e correções deste começo, inseguro sobre o efeito que faria quando lido pela dupla, talvez pela trinca. Eu achava que a providência mais urgente a ser tomada seria dar uma ideia da validade mítica do ambiente onde tudo ia acontecer. O bairro de São Cristóvão tão mítico e atraente quanto a ilha habitada por Caliban, n'A tempestade, de Shakespeare.
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