Wednesday, February 20, 2019

(Minha) Vida de Menina


Fosse necessário provar importância de Minha Vida de Menina (1942), da Helena Morley, pseudônimo de Alice Dayrell Caldeira Brant : ensejou a uma inteligência da envergadura de Roberto Schwarz o delicioso Duas Meninas, pequena obra-prima da crítica brasileira, em que aproxima as figuras da menina do diário e a de Capitu. E aí traça o painel devastador da nossa infeliz sociedade emproada e patriarcal, a mesma que defende e elege bolsonaros da vida.

Fosse necessário mais um pouco: foi traduzido para o inglês pela Elizabeth Bishop e daí criou asas e rompeu as clausuras de Diamantina e Rio de Janeiro. Bishop encontrou no diário secreto encanto, como Drummond e Rosa.

E tem ainda o filme de Helena Solberg, lançado em 2004. Não se espere dele ênfase no enredo, se baseado no diário da menina que tanto reclama da mesmice de enredos de sua vida e de sua cidade. Podia descair para a pieguice, não o faz. Podia desandar na cor local, que dribla. Filme sensível e exato, brisas, viração, das asas de uma abelha.

Fosse necessário ainda: a trilha é do Wagner Tiso.

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