Hoje soa muito natural, clichê quase, falar em terapia ocupacional, arteterapia. Mas quando a jovem Nise recusou-se a dar choques em um paciente com problemas mentais, eram os choques e a lobotomia moedas correntes nos tratamentos neurológicos / psiquiátricos. Tratamentos menos terapêuticos que punitivos. Dir-se-ia uma raiva, vontade de anular aquele que não se encaixa nos moldes sociais. Encaixa-te ou anulo-te, arranco-te um naco do hipocampo, dou choques em todo o teu corpo para que te curves à minha vontade.
Nise da Silveira recusa-se a dar o choque e oferece ao indivíduo pinceis, telas, papeis, crayons. Nasce uma abordagem que faria história e que continua atual e procedente.
Quando Nise envia alguns dos trabalhos a Jung, este queda-se encantado, principalmente com as mandalas. Ele vê nelas uma tentaiva do self, por dilacerado que esteja, de organizar-se.
Estudante de Psicologia em 1988, tive a honra de conhecer Nise da Silveira em uma palestra na UERJ, já totalmente desapontado com o curso e com a faculdade. Acompanhava-a o célebre Fernando Diniz, um dos artistas mais emblemáticos da instituição. Fiquei tão positivamente impressionado com suas palavras, com a presença do Fernando, aquilo foi um sopro de renovação tão grande que me animei a prosseguir com os estudos. Depois, a vida deu suas voltas e acabei mesmo largando. Mas suas palavras e presença marcaram-me.
O Museu do Inconsciente, no Engenho de Dentro, é um museu vivo, pois que espaço aberto para que os pacientes venham e realizem, sob supervisão não controladora, os seus trabalhos. Achei o acervo em exposição magnífico, mas um tanto acanhado. Fica-se com vontade de ver muito mais. Mas aí, claro, infelizmente, esbarra-se nos problemas de sempre: esta é um cidade que prefere fazer museus novos a cuidar dos já existentes. Os paineis acerca do centenário da Nise da Silveira são muito bem feitos, muito elucidativos. Visita recomendadíssima.
1 comment:
É isso aí! Tudo certinho ;)
Da próxima vez que cê for lá, vamos tentar entrar nos acervos. Não te levei dessa vez, porque acho sempre melhor ir guiado por alguém que conheça os acervos melhor (do que eu, pelo menos).
Beijos
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