Corre à boca pequena que o rock progressivo é... uncool. Provas? A capa clássica do Genesis Live (73): o guitarrista Steve Hackett toca... sentado. Quer mais uncoolness que isso? O cara não faz caras e bocas, que mesmo o mais incipiente tocador de air guitar (eu, por exemplo) faria. Outro? A banda canadense Rush já foi votada a banda mais uncool do rock.
Deixa quieto, deixa a gente. Talvez em, assim sendo, sejamos, fãs e músicos, verdadeiramente cool, alheios a badalações e clubinhos e afetações.
Ou não. Who cares?
Mas se tem uma banda de rock progressivo verdadeira e insuportavelmente cool é o Can. Aliás, o Can só é progressivo porque este termo é elástico e promíscuo o bastante para abranger a doçura cristalina de Annie Haslam e a loucura destes alemães.
Pegue o Tago Mago (1971) e Ege Bamyasi (1972), músicas como "One More Night", "Vitamin C", "Soup", "Mushroom", "Oh Yeah", "Halleluhwah". Nossa, esses são a essência do cool. Não estou dizendo que isso é bom ou ruim, questão de gosto, digo que são medularmente cool, a ponto de poderem servir como exemplo desta palavra tão elusiva quanto esta: cool.
Enquanto na maioria das bandas neguinho brigava no estúdio para fazer o seu instrumento soar mais alto, aqui parece o contrário. Parece que cada um quer desaparecer. O guitarrista desamplifica sua guitarra ao máximo e, obviamente, evita solos contundentes. O baixista, de ordinário o mais cool da banda (pense John Entwistle assistindo ao Pete pular, ao Keith quebrar, ao Roger deseperado gritar) é um monstro. Das sutilezas. O tecladista, e estamos falando de banda progressiva da primeira metade dos anos 70, não usa mellotron, não usa moog, sei lá o que esse cara usa. Mas está sempre lá. E sem ele, no we can't. E o baterista, aquele que é só pra fazer a cozinha, parece levar a banda nas costas. Mas não é isso. Isso seria tão heróico, tão uncool. E o Suzuki? Este dispensa. Mestre. Raivoso quando tem que ser. Parece querer sempre desparecer, não estar lá. Canta de trás pra frente. Consegue mais com menos.
Aliás, reside aí o segredo (um dos) desta banda: mais com menos. Mestres absurdos da modernidade que são. Pais de Radiohead, Midlake, Sigur Rós, Arcade Fire e todas as bandas que querem soar angustiadas.
Mas o Can não é angustiado. É cool.
Mas, cuidado. Approach with care, don't try this at home. A música do CAN, altamente hipnótica, é música de celebrações. Não as oficiais, luminosas, mas as da noite. É uma música que te induz a excessos, bebedeiras, orgias. Noites e noites em claro. Unspeakable rites.
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