Saturday, August 17, 2013

Um gato chamado Gatinho - Ferreira Gullar



Autor do Poema Sujo, Na Vertigem do Dia e Dentro da Noite Veloz, Ferreira Gullar recém lançou A Menina Cláudia e o Rinoceronte, pelo menos sua terceira incursão no campo da literatura infantil.

As anteriores foram Dr. Urubu e Outras Fábulas e Um gato chamado Gatinho.

Este último é uma pequena grande jóia. Os 17 poemas nada querem senão mostrar como é o Gatinho, siamês amigo que vive com poeta, suas atitudes, manias, preferências. O poeta e homem grave realiza isso com tanta graça e leveza e simplicidade que o livro encanta também aos adultos, como deveria acontecer sempre com livros e músicas para criança.

Difícil escolher um ou dois poemas, mas ao menos fica a certeza que qualquer um representaria bem o livrinho delicioso.

Seguem "O ron-ron do Gatinho" e "Regime Militar".

O primeiro foi já musicado pela Adriana Calcanhoto (que entende muito bem que música "infantil" deve agradar também aos adultos, às vezes entende até demais, como revelam excessos do seu Dois). E o segundo... carajo!, Ferreira Gullar conseguindo fazer poema terno para seu gato e o nomeando "Regime Militar' é dar MUITO a volta por cima. Bravo.

O RON-RON DO GATINHO

O gato é uma maquininha
que a natureza inventou;
tem pêlo, bigode, unhas
e dentro tem um motor.

Mas um motor diferente
desses que tem nos bonecos
porque o motor do gato
não é um motor elétrico.

É um motor afetivo
que bate em seu coração
por isso ele faz ron-ron
para mostrar gratidão.

No passado se dizia
que esse ron-ron tão doce
era causa de alergia
pra quem sofria de tosse.

Tudo bobagem, despeito,
calúnias contra o bichinho:
esse ron-ron em seu peito
não é doença - é carinho

REGIME MILITAR

Gatinho é metódico
e odeia confusão.
Dorme sempre no mesmo
ponto do colchão.

Quando vou pro quarto,
vai comigo junto.
E acorda sempre
às seis em ponto.

Se por acaso tenho
um sono mais comprido,
ele então me acorda
miando ao meu ouvido.

Gatinho é da pesada.
regime militar:
ao toque da alvorada
tenho que levantar!


O exemplar aqui de casa tem dedicatória do poeta para a Isolda e o Dante



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