Em viagem feita em janeiro de 2006 (Bia terminava a sua tese, eu cozinhava a minha em banho-maria), cheguei a Canoinhas depois de passar por Joinville (ainda não existia a Opa) e São Bento do Sul. Viagem temática, de que sempre fui fã, o desta era bem simples: conhecer as cervejarias de Santa Catarina.
Em Canoinhas, tive o privilégio de passar tarde agradabilíssima em companhia de Rupprecht Loeffler, simpático, solícito, profissional. À beira de tornar-se nonagenário, Seu Loeffler falava com paixão de sua vida e de seu trabalho, o que talvez fosse, para ele e para os felizes que fazem do que amam o seu trabalho, falar da mesma coisa. Muito ele falou de sua Canoinhas do passado, de seus namoros, suas caçadas, o que explicam o monte de macaco empalhado espalhado pelo pequeno salão da cervejaria. Bebi de todas, da Nó de Pinho, da Mocinha, da Malzebier e da Jahu. Mas encharquei-me mesmo foi desta última. Não havia bolachas, ele presenteou-me com vários rótulos, hoje tesouros.
Para além dos visitantes eventuais, como eu, havia os habitués, que naturalmente chegavam à mais antiga cervejaria em funcionamento do país, conversavam com o mais antigo cervejeiro, tomavam sua cerveja e se iam.
Seu Loeffler também tomava sua cerveja, uma após a outra, em seu copo de requeijão enfeitado de bichinhos. Copo que euzinho aqui, colecionador e metido, consideraria o copo menos apto do mundo para se tomar cerveja. O alemão era assim: simples. E provavelmente foi essa combinação de simplicidade e trabalho e, claro, muita cerveja (boa!) que o fez alcançar idade tão provecta.
Vá ele agora tomar sua cerveja mais descansadamente. E fique a sua fábrica preservada, tutelada, protegida, tombada em todos suas partes materiais e imateriais. E declarada, incontinenti, Patrimônio da Humanidade.