Gostei de Torto Arado, de Itamar Vieira Júnior. Não amei. Tudo bem que nem todo livro / disco / filme tem que mudar sua vida, mas é que achei pobre o trabalho com a linguagem, por vezes me lembrando mesmo alguns livros que éramos obrigados a ler nos anos 80 no Colégio São José, como Justino, o Retirante. No Ensino Fundamental
Mas a trama é muito boa, a história das meninas, da faca. Muito bom também o teor de denúncia e de desromantização do que foi o ciclo do diamante no sertão baiano. Ótimo também o último capítulo, "Rio de Sangue", em narrativa que se dá em torno do Rio Santo Antônio e do Rio Utinga, pela mudança de ponto de vista, o que nos faz lembrar O Som e a Fúria, do Faulkner. O ponto de vista deste capítulo cabe a uma encantada!
Repensando assim, gostei, gostei bastante, a leitura como que coincidindo com minha viagem à Chapada. Pois fui conhecer o famoso terreiro de jarê, o Palácio de Ogum e Caboclo Sete Serras, na Capivara. Dois dias antes, conheci Mussum, que foi desse terreiro e hoje tem o seu próprio
Eram famílias que depositavam suas esperanças nos poderes de Zeca Chapéu Grande, curador de jarê, que vivia para restituir a saúde do corpo e do espírito aos que necessitavam.
Para chegar à Capivara, só moto, mototáxi. Eu apavorado. Como ficara para visitar os Pankararu em 2019 (aqui), como ficara para chegar ao Céu, em Marajó (aqui). Apavorado na ida, destemido na volta. Atravessamos areais, atravessamos dois rios. No segundo, da Capivara, pedi para parar na volta, mergulhei e tive a certeza de que a Chapada é dos lugares mais bonitos do mundo. Melhor dito: a Chapada Diamantina é o lugar mais bonito do mundo. Empatada com muitos outros (nem é competição), mas second to none
No Palácio de Ogum fui recebido por Sandoval, babalorixá filho de Pedro de Laura, a grande influência do jarê na Chapada
Muito bem recebido, na enorme casa, no grande silêncio. Ele e seu filho me deram uma canja dos poderosos atabaques. O grande, segundo ele, faz-se ouvir em Lençóis. A dez quilômetros
Mussum |