Saturday, June 11, 2022

Os Cocos do Iguape, Ceará, 30 Anos Depois


No final de 1991, com 23 anos, eu estava tão devastado por uma paixão que, relevem o clichê, pensei fosse ficar doido


Esse caso era já uma recaída de algo que dera errado há dois anos e que então dava errado novamente, só que muito pior. Lembro um dia num mercado, meados de dezembro, minha vista embaçou, tive tonturas e eu sabia que era isso
 
Dezembro se arrastou, as férias chegando sem alegrias

Em janeiro fui para Fortaleza, visitar o amigo Felipe, amigo feito em Chicago em 1986. Não fiquei apenas na capital do Ceará, conheci cocos e coquistas em Iguape e Majorlândia, atravessei o estado para conhece o Cariri, de onde trouxe minhas oito máscaras cariris queridas. Ainda estão aqui na parede, já fizeram tantas mudanças, tanto já viram
 
Essa viagem marcou também porque levei o Grande Sertão, que então lia pela primeira vez. Lembro tanto das leituras intensas na rede da casa do Felipe na Rua do Catavento, em Mucuripe, que depois, de noite, nos sonhos, todos falavam como os personagens do Rosa, eu inclusive
 
Resumindo: fui de um jeito, voltei completamente diferente. Saí do Rio moribundo e desesperançado, achando que amor não era pra mim. Voltei cheio de vida, sonhos e planos. Quando em fevereiro reencontrei a girafa de duas cabeças no trabalho e ela me disse que ia procurar outro emprego, apenas respondi indiferente "É?". Eu não fingia indiferença. Não fazia mesmo diferença para mim. Há dois meses atrás essa notícia me levaria ao jejum por uma semana, agora eu apenas dizia "É?"
 
Então em 1992 começo enfim a estudar Letras na PUC, com os cocos do Iguape e Majorlândia ainda ecoando na minha cabecinha fresca. Essa viagem mudou muito
 
Passados trinta anos, volto ao Iguape para reencontrar as mesmas pessoas e as que mantém o legado do "Maneiro Pau", "A Chuva Choveu", "Andorinha Branca" e tantas outras. Volto munido das históricas gravações que fiz naquela noite de 1992, volto munido das fotos, que amaram como relíquias
 
O coco mais do que vive no Iguape. Em meu retorno, encontro não um, mas dois grupos, maravilhosos, vigorosos, arrebatadores: o Coco de Praia do Iguape do Mestre Chico Casueiro, dirigido pela Klévia e pelo Fal, e o Coco de Praia do Iguape, dirigido pelo Paulo Sérgio. Neste, o irmão, filhos e netos do Raimundo Cabral, que era o embolador e tocador de ganzá na época. Ambos os grupos tributários do Raimundo e, claro, do mestre dos mestres, o Zé Paulino
 
Em 1992 tirei fotos, poucas, e consegui gravar numa fita cassete. Desta vez, tirei muitas fotos e filmei, claro. Mais importante: cantei, pedi cocos, pedi esclarecimentos sobre alguns cujas letra me eram de difícil entendimento, bati palmas. Bati um pouco de cajon e me arrisquei, muito mal, no triângulo. Da próxima vez, fica aqui a promessa, darei meus passinhos
 
Uma experiência inesquecível
 
Uma pena uma postagem sobre música sem música, mas não consegui fazer o upload nem dos vídeos mais curtos 




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