Thursday, May 31, 2018

Um Paulo Werneck na Tijuca?


Este é um pequeno painel mural em mosaico na entrada (externa) de um edifício na Almirante Cochrane, Tijuca. Tem todas as lindas características de Paulo Werneck (aqui e aqui), porém não está assinado (o indefectível PW) e tampouco consta na leva de painéis de Werneck tombados em 2007, tarefa da amiga Iva Copede, que agora labuta comigo para o tombamento dos Nilton Bravo.

Se as suspeitas se confirmarem, será o terceiro mosaico de Paulo Werneck na Zona Norte desta muy leal, somando-se ao do Andaraí (hospital) e Benfica.

De quebra posto foto do Dante, adornado por e adornando obra do Paulo no Leme, onde estivemos hoje para aproveitar sol e sal.


Wednesday, May 30, 2018

Os Negros Pecados de Pedrinho Nava



Sou suspeito para falar e tenho dificuldades em escolher, pero, tivesse que selecionar trechos da vasta memorialística do Nava, com certeza não deixaria de lado as vertiginosas páginas iniciais de "Engenho Velho", terceiro capítulo de Balão Cativo, seu segundo volume de memórias.

É Nava chegando ao Rio, cidade que amou como ninguém.


 "Seguia-se a Escola Doméstica Maria Raithe, sem as escadas da frente que hoje desonram o sobrado outrora tão genuíno e cuja capela se ganhava subindo a vasta varanda lateral que as freiras suprimiram. Minhas tias frequentavam sua missa dominical e eu com elas. Até foi nessa capela, que distraído, em dominga qualquer duma quaresma ou dum advento, comunguei de barriga cheia e sem confissão. Minha tia Bibi aterrada queria correr, gritar, impedir o sacrilégio. Foi obstada por tia Alice que não gostava de escândalo, que ia à missa por automatismo e que logo declarou que aquilo não fazia mal nem tinha importância. Menino dessa idade tem lá pecado? Ai! de mim que já os tinha e negros..."


Pois. Hoje estive no Colégio Maria Raythe, na Haddock Lobo, em busca da capela onde Pedrinho comungou e arrotou de barriga cheia.

Já não há. O colégio ainda existe, mas reconstruído. Não houve reforma ou restauração. A escola antiga foi toda ela posta abaixo (tombada naquele outro sentido mais funesto e mais querido pelos alcaides) em 1984, justo o ano do encantamento de Nava.

Para piorar, as duas mulheres que me atenderam, uma freira e uma diretora, ambas muito gentis, juraram de pés juntos que Nava estava errado, confuso, posto que "sempre houvera as escadas da frente". Perdi um pouco as cores e tentei, gaguejante, "Senhora, trata-se de Pedro Nava, o maior memorialista do Brasil", para ouvir, em réplica "Ah, ele já devia estar confuso". *Sigh

De qualquer modo, consegui com elas ver fotos e vitral da antiga capela. Que permanece intacta, suspensa no ar, neste mundo de aparências.




Monday, May 28, 2018

Harmonium e o Fliscorne




Existem poucas bandas que eu ame tanto quanto o Harmonium (aqui e aqui). É um pouco, sim, aquela história da sua banda, já que, se eu perguntar no ponto de ônibus, quase ninguém deve conhecer. Mas não é só isso, ou não seriam Beatles e The Who das mais amadas também.

Do Harmonium já se escreveu que o Si on Avait besoin d'une Cinquième Saison é a obra-prima (d'accord) e que o primeiro, homônimo, é o tal do disco ainda incipiente, trabalho mais folk e que, para padrões progressivos, apenas de canções. Isso é certo e errado. Já a primeira música, homônima ao quadrado, de vez que se chama... Harmonium, tem aquela mudança de tempo lá pelos 4 minutos para um solo de flugelhorn, que em português atende pelo delicioso nome de fliscorne. Ou seja, não é só a coisinha folk, à la Peter Seeger, mas algo verdadeiramente prog.

Bem, quem ouvir, gostar e quiser mais exemplos de fliscorne no rock, tem a impagável "Uncle Albert / Amiral Halsey", do Paul.


Sunday, May 27, 2018

Que continues, no tempo e fora dele, irreversível



Andava já preocupado que maio chega ao termo e nenhuma lembrança ao "Tarde de Maio", do Drummond, o seu poema mais bonito, junto com o "A Máquina do Mundo", alguns outros e, claro, "Campo de Flores", tão meu.

Sábado passado foi tarde de furacão, tínhamos festinha de 1 ano de amiga da pracinha, mas ficamos em casa (e no play escuro), sem luz, Camila e Dante assistindo a um filme obscuro do Bergman.

Mas ontem foi sábado radioso e fomos para o Parcão, como esses primitivos que carregam por toda parte o maxilar inferior de seus mortos. Depois a Sophia apareceu e Dante vestia o rosa do Rajastão. Tarde de maio.


Eu nada te peço a ti, tarde de maio,
senão que continues, no tempo e fora dele, irreversível









Saturday, May 26, 2018

O Cristo Seráfico de São João Del-Rei


Em janeiro deste ano fiz postagem sobre o Cristo seráfico da Carioca (aqui), terminada com a frase "No Brasil, até onde sei, é o único". 

Divulgada em dois grupos do facebook, a postagem teve o seu ibope, merecido não por ela (a postagem), mas pelos pares de asas. E agora em São João Del-Rei, naquela que é porventura a mais linda igreja da cidade, a de São Francisco de Assis, situada trastevere, além do Rio das Mortes, descubro deslumbrado outro Cristo Seráfico.

É quase de converter qualquer agnóstico.

Quantos pares de asas? São também três. Parece quatro, mas o de cima é sombra do esplendor.

Friday, May 25, 2018

Portinari em Juiz de Fora


Bastaria um desses para encher qualquer juiz-forano de ufanices: terra natal de Pedro Nava; Tupi Football Club (aqui) ; o torresmo do Bigode; a cena atual de cerveja artesanal. Não é pouco, e tem mais: terra natal de Murilo Mendes e dois trabalhos de Portinari em vias públicas.

Dois.

O primeiro é um dos seus típicos painéis azulejares, em azul e branco, Quatro Estações, com trevos de três folhas. Década de 50. Recém-restaurado, hoje é protegido por vidro, o que talvez, sabe-se lá, ajude os transeuntes distraídos a perceber que há ali um Candido.

O segundo, logo ao lado, é o mosaico de cavalinhos, rondó de cavalinhos, que vai do teto ao chão no Edifício Juiz de Fora. Com nuvens fica particularmente interessante. Aqui, esclareça-se, a concepção é de Portinari, a execução é de José Moraes, mosaicista de quem farei postagem em breve.

Mais mosaicos e azulejos na cidade de Nava e Mendes e torresmo do Bigode: aqui, aqui e aqui.









Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
Tua beleza, Esmeralda,
Acabou me enlouquecendo.

< Bandeira > 


José Moraes em edifício residencial no Catete

Sunday, May 20, 2018

Não seja assim tão duro


Usando um pouco da autoajuda que aprendi lendo Richard Bach na oitava série (atual nono ano) em 1982: a gente ensina melhor aquilo que ainda precisa aprender.

Então segue uma tradução muito despretensiosa mesmo, juro, de "Be Not Too Hard", do poeta Christopher Logue. "Be not too hard": eu que quase estourei de stress neste mês de maio.

Poema musicado por Donovan, que Ken Loach usou logo no começo de seu Poor Cow, 1967. No mesmo ano, Joan Baez eternizou sua versão. Reparem: Donovan, Loach, Baez.

Em 1974 foi a vez do Manfred Mann fazer a sua, linda linda, no álbum The Good Earth.


Be not too hard for life is short
And nothing is given to man
Be not too hard when he is sold or bought
For he must manage as best he can
Be not too hard when he blindly dies
Fighting for things he does not own
Be not too hard when he tells lies
Or if his heart is sometimes like a stone
Be not too hard for soon he'll die
Often no wiser than he began
Be not too hard for life is short
And nothing is given to man
And nothing is given to man

 ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

José, deixa disso, a vida é curta
nada é dado ao homem ou à mulher
Não seja tão duro quando ele é vendido e comprado
Ele faz o melhor que pode

Não seja duro quando ele morre às cegas
Lutando pelo que não tinha
Não seja assim tão duro quando ele mente
Ou quando o seu coração vira pedra

Não seja, não seja assim tão tão duro
Daqui a pouco ele morre
(Mais sábio do que ao nascer?)
Não seja tão duro, a vida é curta
e nada, nada é dado aos homens
nada é dado aos homens


Nem toda rua terá nome sem graça (parte VIII)



Depois de resgatar do oblívio as postagens sobre caquinhos (aqui), resgatemos também as das ruas com nomes interessantes, que ano passado passou em branco.

Sim, que nem toda rua será Sr. Dr. Sacanagildo de Freitas Silva.

Duas de Tiradentes, três de São João Del-Rei. Eu queria tanto morar numa Rua do Moinho. Melhor que isso, claro, só Alphonse Daudet.  

Lembrando que também nós cariocas temos uma Rua de Jogo da Bola, no Morro da Conceição. 

Outras postagens com nomes de ruas legais: aqui e aqui.





Saturday, May 19, 2018

Pisos de Caquinhos :: Nova Série



Em 2016 fiz várias, ano passado nenhuma, embora tenha feito menção a eles (os pisos de caquinhos) em postagem sobre o bairro do Ypiranga, em São Paulo. Mas voltemos às justas postagens individuais sobre eles (os pisos de caquinhos), também ameaçados de extinção em face dos novos gostos, novas vontades, que parecem preferir a sem-gracice das lajotas brancas. Ou talvez porque associe-se, corretamente e com muito orgulho, tais pisos a casas suburbanas. Coisa de pobre.

A pequena messe traz Penha, Rio Comprido. De lambuja, um em São João Del-Rei, em casa neocolonial hispânica bem em frente ao Dedo de Moça, onde se come excelente acarajé mineiro.

Outras postagens: aqui, aqui e aqui.





Friday, May 18, 2018

Lúpulo Mantiqueira, 100% Brasileiro


Tinha grande curiosidade de beber uma cerveja feita com lúpulo brasileiro, pois se trata da primeira vez na história em que se fez cerveja por aqui usando-se um lúpulo nativo. O lúpulo, vocês sabem, é trepadeira dos países frios, de que se usa a flor feminina para conferir amargor à cerveja. Sendo também um conservante natural (o que explica a origem das IPAs), o adorável lúpulo faz dispensar os conservantes químicos,que nada agregam de bom à bebida.

Se não me engano, a Baden Baden foi a primeira a produzir com o lúpulo mantiqueira, assim batizado por ter nascido como que por acaso, espontaneamente, em uma fazenda na adorável São Bento do Sapucaí (aqui). Espontâneo ma non troppo: não se trata de passarinho que papou o lúpulo na República Tcheca e fez seu cocozinho por aqui. Não. Rodrigo Veraldi já tentara plantar a trepadeira. Não vingou, ele desistiu, descartou a planta. Passado algum tempo, ela cresceu.

Então, no TremBier, o festival de cerveja de Tiradentes, demos com a Timboo, de Juiz de Fora, com a sua Mantiqueira, uma Brazilian Pale Ale, feita também ela com o lúpulo mantiqueira.

A história é ótima e a iniciativa, assim esperamos, seja verdadeiramente ensejo para uma grande produção futura. Isso não significa dizer que a cerveja em questão fosse uma maravilha. Indecisa entre IPA e sour, muito seca, não teve o amargor esperado. No nariz, tampouco impressionou muito, embora sentíssemos frutas vermelhas. Falta acertar. Coisas de terroir talvez.




Thursday, May 17, 2018

reconhecê-la no gozo



amar será desconhecer
desconhecer o corpo
amado
dele acercar-se cego
criança cega que pensa
seu brinquedo favorito
dele acercar-se mudo
para nele tartamudear as sílabas do teu sexo
do teu sexo que este poema não é poema geral sobre amor essas pretensões
é poema pra você
em que se mistura tu e você porque amar é desconhecer
a língua
para reconhecê-la no gozo

Crônicas Tiradentinas I :: Bichinho


É conhecida por Bichinho, mas o nome de pia é Vitoriano Veloso e, embora quase todos cheguem lá  de Tiradentes, é distrito de Prados. Não gosto de cidades com nome de gente assim, mas no caso de Vitoriano Veloso faça-se ressalva: trata-se de inconfidente mulato, alfaiate, o único inconfidente mulato, pelo menos o único de certa proeminência naquela leva traída por Joaquim Silvério dos Reis.

Vale a visita, claro. Tem igreja velha, com cruzeiro à frente e placa onde se lê a sentença de condenação de Vitoriano. Tem paços, tem muito, muito artesanato e arte, pena que quase sempre com preços tiradentinos. Tem cachaça à vera, tem o tempero da Ângela que, para ser perfeito, precisa só de uma rede pra depois do almoço. Com um gato amarelo pra acariciar. 














Sua mãe a chamava de Tabaroa