Monday, May 07, 2018

Memórias do Cárcere ::: Ontem como Hoje



Esta, a primeira edição do Memórias do Cárcere, publicada em 1953 pela José Olympio, em quatro volumes, com capas diferentes do Santa Rosa. Saiu poucos meses depois da morte do Velho Graça. No ano seguinte a obra ganharia prefácio de Nélson Werneck Sodré, que então saudou o escritor alagoano como "homem cuja inteireza foi comprovada pelo sofrimento".

As capas das edições não recebiam qualquer proteção, de modo que hoje são necessários grandes cuidados, pois os volumes que como vão soltando pedacinhos. Comprei em 1992, se não me falha a memória num sebo muito empoeirado ali no Jardim de Alah, pertinho do onde aconteciam os sabadoyles.

Cada volume recebe um título: Viagens; Pavilhão dos Primários; Colônia Correcional; Casa de Correção.

Dir-se-ia nossa Recordações da Casa dos Mortos. À espera de um Janáček que a transforme em ópera. Mário Ferraro, Eli-Eri Moura, fica a sugestão.


Em 1984 virou filme de Nelson Pereira dos Santos. Com Carlos Vereza (epa!, vejam as voltas que o mundão dá) e, claro, Glória Pires, que esta deve ser a única atriz que temos, por isso ela é mulher do Graça, namorada da Elizabeth Bishop e Nise da Silveira.

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Pela manhã, de volta do banheiro, atravessando um corredor, avistamos o comandante em companhia de um homem alto, magro, sério. Enviamos-lhe um cumprimento, e ele nos deteve, nos apresentou:

-- General, estes senhores...
Finda a apresentação, o homem alto pregou-me um olho irritado:
-- Comunista, hem?
Atrapalhei-me e respondi:
-- Não.
-- Não? Comunista confesso.
-- De forma nenhuma. Não confessei nada.
Espiou-me um instante, carrancudo, manifestou-se:
-- Eu queria que o governo me desse permissão para mandar fuzilá-lo.
-- Oh! general! murmurei. Pois não estou preso?





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