Wednesday, November 14, 2012

Psicoterapia Indústria & Comércio



Luna sabia que Adélia precisava de terapeutas, não só os fisio. Mas como era difícil acertar com os psi.

Houve uma, indicação, claro, que Luna achou legal. O preço, naturalmente, salgado: 150 reais por 45 minutos. Duas vezes por semana. Mês: 1200 reais. Quase o preço da escola. E, para mais parecido com escola ser: em caso de falta, a sessão é cobrada do mesmo jeito.

Luna reclama, não tem essa grana toda. (Qual o público alvo da psicoterapeuta: magistrados? políticos? globais? jogadores de futebol dos grandes clubes? Então, a psicoterapeuta toda riponga e incensos quer uma clientela bem selecionada. Quem não puder, se foda, vai pro SUS.) Luna regateia, a terapeuta acede: meu preço não baixo, mas deixo então uma sessão de cortesia. Assim, 8 sessões: 600 pau.

Razoável, Luna aceita. Mas Adélia às vezes dorme de tarde. E vêm as febres. E vem o horário de verão, desestabilizador. Adélia falta a muitas sessões. A terapeuta chama Adélia no cantinho: "Olha, ela tá faltando muito, então acho que o melhor vai ser cortar a sessão de cortesia".

Luna não entende a lógica, argumenta. A psicóloga (psi-có-lo-ga) não ouve. Gosta de falar, não é chegada a ouvir. Uma pessoa como todos nós. Chega a dizer: "Ora, mas eu sou uma profissional!"

Engraçado, né? Como ser profissional não pudesse abarcar ser generoso, ser humano. E ninguém está pedindo caridade.

De modo que no momento Adélia está sem psicoterapeuta.

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