Tuesday, June 21, 2011

Winterreise

Em julho de 1989, empreendi o que então denominei "uma viagem de inverno" para o Caraça. Eu já estivera lá, em 1986, e tornaria a voltar na lua-de-mel, em 1995. Esta viagem de 89 foi, no entanto, a única realizada durante o inverno mineiro.




Em minha mochila já bastante rodada, minhas companhias: Dostoievski e, mais importante, duas fitas cassetes com dois ciclos completos dos lieder do Schubert: o Schwanengesang e, claro, o Winterreise, que quer dizer, precisamente, Viagem / Jornada de inverno.




Não me lembro ao certo quantos dias passei lá, mas foram eles de uma rotina deliciosa. Acordava muito cedo e me embrenhava por trilhas, em busca de macacos. Depois do café, sentava-me de costas para a igrejona gótica e de frente para as serras muito verdes e escuras para ler o Dosta. Depois, tomava a das 11. De noitinha, antes que o lobo guará chegasse, escutava em meu walkman as canções do Schubert. Over and over.




O gênio austríaco, como bom romântico, escreveu suas sinfonias (9 ou 8 e meia, já que uma, a mais famosa, ficou inacabada) e muitíssimo para piano. Ao contrário de seus colegas, não escreveu concertos. Em compensação, 600 canções. Ao ouvi-las,e principalmente na voz desse monstro que é o Dietrich Fischer-Dieskau, pode-se mesmo pensar que a ele bastaram um piano e uma voz e a contundência da língua alemã para encher toda uma sala de concertos.




E toda a vastidão da Serra do Caraça.

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