Termino 10 e começo 11 lendo Libertação, de Sándor Márai, algo nada auspicioso, é um ano que fecha e outro que se inaugura mal, dado que o livro é insuportável.
Entende-se que um escritor húngaro nascido em 1900 precise acertar contas com o passado político de seu país, em século tão turbulento. Lamenta-se que, para tal, lance mão de uma alegoria tão pesada quanto pueril.
O romance é de um didatismo intolerável. Trechos como:
"Mas um dia é preciso arrumar as coisas. Não se pode viver assim. Os judeus, os burgueses, os nazistas, os bolcheviques, o ódio, todos odeiam todos... não, assim não se pode viver"
"Erzsébet compreendeu e descobriu naquele momento que a guerra não apenas consistia em ações militares, nas casernas e nos campos de batalha, mas também existia na alma das pessoas."
São trechos que parecem extraídos de uma cartilha de catequese para alunos da quarta série de colégio católico. Ou de uma campanha da fraternidade. Fizeram-me esfregar os olhos e voltar para a capa do livro. Este é o Sándor Márai de Rebeldes?
O diálogo entre a protagonista e o professor paralítico, quando deixados a sós no porão, lembraram-me outro romance insuportável: o Canaã, de Graça Aranha, romance de tese, no que tem este de mais típico. E pior.
Nem tudo se perde. A cena final é bem construída, a ideia toda do enredo é ótima, o que faz pensar que as 144 páginas poderiam ser condensadas de modo a dar um bom conto.
O que me alegra é que, graças, só li este romance agora. Fosse a primeira obra de Sándor lida, teria eu certamente parado por aqui mesmo com o escritor, o que me furtaria do contundente As Brasas, e das obras-primas Divórcio em Buda, De Verdade, O Legado de Eszter e Rebeldes.
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