Thursday, February 18, 2010

Ora, direis, figueiras

Um dos meus planos para 2010 é inventariar as figueiras de Niterói e daquela outra cidade do outro lado da poça.

Em terras de Araraboia já as encontrei no Gragoatá, perto do forte; em São Francisco, na subida da igreja de São Francisco Xavier (acho que são duas) e no Barreto, numa rua deserta perto das Sendas (acho que são três).

Do outro lado da poça há banyan trees em profusão, mesmo em canteiro (devidamente arrasado por suas raízes, claro) no Grajáu. Há também três gloriosas no Catumbi, perto daquela chaminé doida, por onde sempre passo de ônibus. Mas ali é de tão difícil acesso, talvez só mesmo Papai Noel (a chaminé) saiba como chegar e de lá voltar. Vivo.

Enquanto isso, escrevi este poema para uma de minhas figueiras. Ele é todo em octassílabos, exceção do último verso, um decassílabo heróico. Quis com isso criar certo efeito estético, sabe-se lá se consegui.


POEMA
Quando morto estiver meu corpo,
evitem os inúteis disfarces.
Pedro Nava


Quando morto estiver meu corpo,
deitem-no sob esta figueira,
insepulto, para que o velem
cigarras já cegas de tantos
crepúsculos e madrugadas.

No silêncio das noites frescas
venha a lua, venha a maresia
farejar estas minhas carnes
que já pouco ou nada desejam
pois libertas de seu tormento:

a alma, que lhes impôs ânsias
de impossíveis satisfações.
Como esta, de sorver o mel
que irradia da tua íris.

Assim, raízes se tornem meus
cabelos; e façam-se troncos
meus membros; e corolas brotem
de meu exangue coração.

Feita a total simbiose vou
transpor com Vishnu as lindes do infinito.

6 comments:

Isabel said...

I can't read it - but the words look beautiful!

Maybe in my next life I'll be born in Portugal and understand the language of my name.

Thank you for looking outside my window. Come again.

Nêga said...

Ah, não acredito!
Terça-feira passada perguntei ao Paulo se aquela árvore no Gragoatá era uma amendoeira gigante! rsrsrs
Isso está beeeeem longe do que imaginava ser uma figueira...
Mas... Cadê os figos?

Nathalia said...

Tenho adorado conhecer o Evandro poeta...

Lu said...

Seu poema é lindo...

Josimar said...

Tem um jeito com as palavras, esse moço, não? fenomenal!

Giulianella said...

As palavras circulam por sua alma e mente tal qual a seiva pelos vasos condutores: fluida, nutriente. É assim que as leio também.