O Ravel tem dois concertos para piano: o primeiro em Ré, o segundo em Sol maior (êpa, igual ao que escreverei para as cigarras!), ambos compostos concomitantemente, final dos anos 20, começos dos 30.
A peculiaridade do primeiro é a de ser para mão esquerda, encomendado que fora por Paul Wittgenstein (sim, o irmão do Ludwig filósofo), que perdera seu braço direito na guerra.
(Aqui, duas semelhanças com Prokofiev. Prokofiev também tem um concerto para piano em Sol maior, o quinto. E também tem um só para mão esquerda, o quarto, encomendado pelo mesmo Wittgenstein que, no entanto, nunca o tocou por nunca entendê-lo.)
Voltando ao Ravel, a peculiaridade do segundo é a de ter um dos mais lindos movimentos de toda a literatura pianística do século XX, o Adagio Assai. O concerto é todo ele muito bonito, energético, vivaz, cheio de harmonias e idiomas jazzísticos, algo incomum na música erudita.
Mas é o segundo movimento que me deixa completamente atordoado. Se tiverem um tempinho, assistam a ele no youtube, não dura nem um décimo de uma partida de futebol. Tentei muito postá-lo aqui, contei mesmo com o auxílio de uma colega blogueira, mas sem sucesso.
http://www.youtube.com/watch?v=OsoSvHdcCv0
Quem toca é a Martha Argerich, grande pianista argentina, amiga do nosso Nélson Freire, o que por si só já seria notável, já que o Nélson é daqueles tímidos drummondianos que beiram o patológico. Ela também é bastante fechada, o que talvez explique a amizade entre os dois, bem como sua não tão grande projeção no cenário internacional. No filme em homenagem ao Nélson aparecem os dois em conversa, ensaiando (eles falam!).
Tão logo eu e Ana Beatriz começamos a namorar, em 1993, levei-a para assistir a este concerto no Municipal, fazendo questão de chamar sua atenção para seu insólito início, uma "chicotada".
Depois fizemos amor tantas e tantas tardes tendo como fundo este segundo movimento. Era isto ou era Lir, do Wim Mertens. Mas se alguém aí disser que é música de motel leva um sopapo!
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