Tuesday, November 09, 2021

Mestre Zuza, de Tracunhaém

Sempre quis ter uma peça do GTO, assim como sempre quis ter gravura do Samico. Ao travar contato com mestre Zuza, santeiro de Tracunhaém, encomendei-lhe não um santo, desses que ficam no chão, mas a cabeça de uma Nossa Senhora. Ele acedeu, as negociações foram ligeiras. Animado, encomendei-lhe em seguida peça semelhante a uma roda-viva do GTO, enviando-lhe fotos. Sei que as do mineiro Geraldo Teles Oliveira são em madeira, a dele seria no barro, mas minhas dúvidas culposas não passavam por aí mas na intervenção que eu poderia estar fazendo. Se Mestre Zuza não faz esse tipo de coisa, teria eu o direito de pedir? O anjinho bonzinho do ombro esquerdo dizia que sim, que artista (de todas áreas, quantas peças musicais não foram encomendadas?) gosta e precisa de encomendas, que lhe garantem o sustento. Para além disso, coisa que não ocorreu ao anjinho, uma encomenda dessas poderia abrir-lhe novas possibilidades de trabalho e mesmo destacá-lo no cenário da Zona da Mata, já que de ordinário o artesanato ali está centrado em santos. Minha pretensão.

Bem, Mestre Zuza concordou em fazer a peça. Iniciou, mandou foto, dei sugestões, ele retificou. Depois foram, sua roda-viva e a cabeça de Nossa Senhora para o forno, o fogo e seus mistérios. Aí já não funcionou tanto, ambas as peças não saíram bem como prevíramos.

Isso tudo foi eu no Rio e ele lá, em Tracunhaém. Quando enfim vou lá, almoçamos galinha cabidela na Toca do Caranguejo, com cachaça amadeirada por saideira. Conheci seu ateliê e consegui até que ele tirasse o boné para uma foto. Das duas encomendas, deixei a Nossa Senhora lá, trouxe a roda-viva. E a amizade. Não vejo a hora de voltar para o maracatu de baque solto







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