A minha capa preferida do rock progressivo italiano é a do meu disco preferido do rock progressivo italiano. Não é marmelada. Sempre me fascinou, me perturbou essa colagem disforme, variegada, a que não falta a cara do Bufão mussolini. A contracapa não é menos perturbadora: aqueles braços cruzados: o empresário que esmaga outro (concorrente? sócio?) por cima do braço macilento onde se injeta heroína.
O disco mais oscuro do Formula 3, o Sognando e Risognando, também tem capa perturbadora: aquela roda abrindo o corpo da ragazza. Tortura.
Mesmo uma banda mais doce, digna mesmo do adjetivo pastoral, a Reale Accademia di Musica (top 5), tem trabalho gráfico que não se limita à marionete: o porco, o açougue, a faca, sangue. Na parte interiror o mesmo porco toca violino.
Por trás dessas três capas, um nome: Vanda Spinello, às vezes Wanda. Pelo volume de trabalho, pela presença marcante em discos seminais do movimento, está para o prog italiano como Roger Dean e Paul Whitehead estão para o inglês. Não pela temática, como ficou provado.
Achou pouco? Spinello é responsável ainda pelas capas dos dois primeiros do Premiata, bem como pelo Darwin! de um certo Banco del Mutuo Soccorso e pelo Melos, do Cervello. Também fez a do Il Grande Gioco, do Albero Motore.
Numa entrevista, Vanda Spinello afirma ter feito umas 250 (!) capas de disco. Uma coleção que certamente vale a pena, ainda que o ideal mesmo fosse visitá-la e encomendar-lhe um retrato do Dante.
A entrevista pode ser vista aqui.