Impossível não recorrer ao belo título do belo romance de Marçal Aquino: Eu receberia as piores notícias do seus lindos lábios, pois foram lábios amados que me comunicaram hoje a morte trágica do grande Francesco Di Giacomo. Pequeno consolo.
Costumo dividir as grandes vozes do rock progressivo italiano em dois grupos: as doces (pense num Aldo, do Le Orme, num Henryk, do Reale Accademia di Musica) e as roufenhas (Stefano, do Museo, Alvaro, do Jumbo, Leonardo, do Locanda Della Fate).
Acima destas, inclassificáveis e inimitáveis: Demetrio Stratos do Area (escrevi aqui), Alan Sorrenti (escrevi aqui) e, claro, Francesco.
Numa época de grande efervescência política e cultural, que sempre se espraiava para a música, muito se discutiu se era possível cantar rock em italiano. Francesco Di Giacomo meio que pôs fim a essa discussão tola, roubando (ou tomando emprestado, rasurando) o que havia de mais típico e sacrossanto da música vocal italiana -- a ópera -- para usar na música progressiva que então se fazia. Atitude pós-moderna radical, intrinsicamente progressiva.
Se o Banco del Mutuo Soccorso foi uma banda progressiva completa, Francesco foi seu vocalista completo: ótimo timbre, grande alcance, sensível interpretação, além de pesquisa e ideias.
Sinto-me honrado de o ter visto e ouvido de perto em show no Rio em 2000.
A triste notícia pode ser lida aqui.
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