Saturday, March 07, 2020

Minha Xakriabá van Gogh


Em 1992 fiz epifânica viagem ao Ceará, desembarcando em Brasília com oito máscaras de barro, minhas oito cariris. O cólera grassava no país, a viagem foi em meio a chuvas e pontes quebradas, mas a única baixa foi o nariz quebrado de uma delas, hoje tão bem colado que ninguém nota.

Ano passado não tive a mesma sorte. Trouxe de Caruaru uma única peça do Ademilson Eudocio, filho do grande Manuel Eudocio, e ela chegou com pernas e aba do véu quebradas.

E este ano trouxe linda máscara de cerâmica do Nei, da etnia xakriabá (aqui), e esta aporta no Grajaú sem orelha. Bastava colar, então deixei-a ao lado da máscara na poltrona, sem contar que o Dante, dando vazão a antigos impulsos que eu julgava controlados, jogou-a varanda abaixo, junto com todos os potinhos de rapé de Montes Claros.

Que farei com esta máscara sem orelha?

Acredito que o Nei ou sua mulher Ivanir fariam uma nova, moleza, e até seria interessante essa orelha viajando lá dos sertões das Gerais para cá. Acolho, no entanto, ideia da dileta amiga Claudia: esta é minha máscara xakriabá sem orelha esquerda, uai. Algum problema, vai batê? Garanto que ela já tem mais história que muita máscara xakriabá aqui no Grajaú com as duas orelhas.

Ficará na sala, onde ouvimos tanta música boa. Se ela tiver algum problema de audição, só aumentar o volume. Que aqui trabalhamos com inclusão.


estas são as cariris

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