Saturday, March 28, 2020

Pedro Nava e a Gripe Espanhola

Pedo Nava discorre longamente sobre a gripe espanhola de 1918 no maravilhoso capítulo "Major Ávila" no antológico Chão de Ferro, seu terceiro volume de memórias.

Quando escreve "comecei a sentir o troço", ele quer dizer que foi o momento em que caiu a ficha de que a coisa era mesmo séria, não que ele mesmo, então com quinze anos, tivesse caído doente. Ainda, pois cairia pouco depois.

Comecei a sentir o troço numa segunda-feira de meados de outubro em que, voltando ao colégio, encontrei apenas onze alunos do nosso terceiro ano de quarenta e seis. Trinta e cinco colegas tinham caído gripados de sábado para o primeiro dia da semana subsequente. Chegamos ao colégio às 9 horas. Ao meio-dia, dos sãos, entrados, já uns dez estavam tiritando na Enfermaria e sendo purgados pelo Cruz. À uma hora o Diretor Laet, o Quintino, o médico da casa, o Leandro e o Fortes passaram carrancudos nos corredores e foram se trancar no Salão de Honra. Às duas, assistíamos a uma aula do Thiré, quando entrou o próprio Chefe de Disciplina, disse umas palavras ao nosso professor que logo declarou sua aula suspensa e que, por ordem do Diretor, devíamos subir para os dormitórios, vestir nossos uniformes de saída e irmos o mais depressa possível para nossas casas. O Colégio fechava por tempo indeterminado. Sobretudo que não nos demorássemos na rua. Voltei rapidamente para Major Ávila, 16. Quando eu saíra de manhã, tinha deixado a casa no seu aspecto habitual. Quando chegui, tinham caído com febre alta e calafrios a Eponina, o Ernesto, a Sinhá-Cota e o Gabriel.

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