Monday, January 13, 2020

Morro da Garça, solitário, escaleno, escuro - MG


Já escrevi aqui que de todas as facetas possíveis da obra do Rosa a serem exploradas e amadas, essa história dos lugares me é uma das mais poderosas

Como fiquei feliz ao saber que também para Seu Brasinha (aqui)

Guimarães Rosa amiúde escondia o nome fatual dos lugares valendo-se de diversos expedientes. Mas neste caso, não: o Morro da Garça, do fabuloso conto 'O Recado do Morro' era e é o Morro da Garça, o morro e o local, antigo distrito de Curvelo, hoje municipiozinho ele só. 

O Morro continua lá, solitário, escaleno e escuro, feito uma pirâmide, o morro que transmitiu o recado a Pedro Orósio que ele morreria à traição, assim salvando-o

Conhecer Morro da Garça e lá ter com Dieter, em sua casinha toda ela Minas e Rosa, é das experiências mais lindas

'Morro Alto, morro grande
me conta o teu padecer.
Pra baixo de mim, não olho;
p'ra cima, não posso ver'

"E-ê-ê-ê-ê-ê-eh, morro!..."













Saturday, January 11, 2020

Manga, Minas Gerais



Tenho este livrão Guia dos Bens Tombados de Minas Gerais há muitos anos, herdado do meu padrasto. Em 1987, levei-o em minha primeira viagem ao Alto Jequitinhonha, no fusquinha amarelo do Fred, ele (o livro, não o Fred, que já era amarelado) voltando amarelado da poeira das estradas, quase tanto quanto o fusca quase tanto quanto Milho Verde.

O frontispício apresenta grande mapa de Minas com as cidades onde há bens tombados. São tantas na região central -- as clássicas Ouro Preto, Mariana, São João D'El Rey, Tiradentes -- que há janela especial para que seja possível distingui-las.

E lá no norte, isolada de tudo, sertão dos sertões, Gerais, talvez mais Bahia que Minas, às margens do São Francisco: Manga.

Isso num mapa para quem os ama torna-se um imperativo: era preciso conhecer Manga.

Enfim

Está aqui (ou no ex-distrito Matias Cardoso, como queiram) a mais velha igreja da Mina Geral. 

Pilar e Conceição de Ouro Preto, Sé de Mariana, São Francisco de São João D'El Rey, Santo Antônio de Tiradentes, todas vetustas respeitáveis matronas lindas, pagai, como eu paguei, vosso tributo à Nossa Senhora da Conceição de Manga.











Thursday, January 09, 2020

A Casa dos 11 Galos


Funny thing is: quando dormi nesta mesma casa em junho fui violentamente despertado dos meus sonhos às 4 da manhã pelo canto rouco dos galos. Pensei: Caramba, parece que estão aqui no quintal. Aí, seis meses depois, descubro que, sim, estavam no quintal, quase na cabeceira da minha cama, os onze galos da casa de Dallena e Gegê Osbin, meu pouso em Andrequicé.

É muito galo pra um terreiro e quando rola um arranca-rabo / arranca-crista, Gegê coloca os brigões de castigo.

De manhã, eles veem espiar na janela o que Dallena prepara no fogão.

Me lembrei do bispo de Crônica de uma morte anunciada, cujo prato preferido era sopa de crista de galo. Estive a ponto de sugerir. Quem sabe na próxima, com a ajuda das branquinhas de Gegê, não animo.

Ah, sim, Geraldo é atleticano, torce para o Galo.





Sunday, January 05, 2020

Fazenda Santa Catarina : A gente não vê o virar das horas


Uma viagem pelos sertões / gerais do Norte de Minas em busca de rastros da vida e obra de Guimarães Rosa irá deter-se exata e basicamente nisto: na vida do autor (a célebre boiada de 1952) e na obra (locais citados em Grande Sertão: Veredas e contos).

Lugares como a Fazenda Tolda (aqui) e a Vereda São José são importantes por fazerem parte da boiada e estarem registrados na caderneta. Lugares como o rio de-Janeiro (aqui e aqui) e Guararavacã do Guaicuí ganham proporções míticas por serem mencionados em momentos-chave do romance: no de-Janeiro Riobaldo conhece o menino Reinaldo, Diadorim. Em Guaicuí ele descobre que o ama de amor mesmo.

Bem, a velha Fazenda Santa Catarina preenche os dois requisitos de interesse: fez parte da boiada, pois lá Rosa, Manuelzão, Zito, Bindóia e outros pernoitaram no alpendre, e do romance: aqui morava Otacília, a noiva de Riobaldo que o esperava enquanto ele guerreava contra hermógenes e contra sentimentos esquisitos que o devoravam.

Então é adentrar na Fazenda Santa Catarina e sentir vontade de se ajoelhar.

A fazenda já teve fama de assombrada, confirmada pelo seu atual dono, Wilson Mendes. Sua mulher Terezinha desdenha: "Cheguei por aqui e esparramei com as assombração."

E é ela quem nos mostra a cafeteira que fez e serviu o café para Rosa.

Se isso não é quase assombração