Friday, May 31, 2019
Sunday, May 19, 2019
Mais Realista que o Rei, Mais Papista que o Papa, Mais Beatles que os Próprios
Cheguei aos 50 sem jamais ter parado para ouvir ELO (Electric Light Orchestra), e não por acaso, pois eu nutria preconceitos contra uma banda cujo nome irritantemente me lembrava ELP e que eu lembrava vagamente de ter um álbum com Olivia Newton John. Não perdoava. Tanto que quando noticiaram num fórum de rock progressivo a trágica morte de um integrante sob um monte de feno (!), apenas me ocorreu, caramba, que triste, mas por que falar disso aqui? Não considerava rock progressivo, nem de longe.
E pouco fiz neste último mês senão ouvir obsessiva e ininterruptamente Out of the Blue (1977).
E continua sem ser rock progressivo. Se é para etiquetar, um art rock da melhor qualidade, tipo Queen, tipo Bowie, tipo... Beatles. Beatles, claro! Não por acaso o John era um entusiasta da banda, que chamou de "filhos dos Beatles", que continuaram de onde os próprios haviam parado. Percebo também influências da obscuríssima (e por mim amada) Family Tree e seu Miss Butters, de 68.
Os pontos fortes: as vocalizações harmônicas, a orquestração, a influência Beatles (67-68), a facilidade absurda para as melodias (baixou Schubert aqui).
"Mr. Blue Sky" tem um pouco disso tudo. Eles soam mais Beatles que os próprios Beatles, mais realistas que o rei, mais papistas que o papa, mais cristãos que os goeses mais cristãos.
Um doido gosta tanto dessa música que fez um vídeo no Youtube com o mesmo take tocado over & over. Então você pode ouvir "Mr. Blue Sky" por uma hora. E ainda achar pouco.
Sunday, May 12, 2019
Comida di Buteco 2019
A canjiquinha do Noo |
Uma faca de dois legumes fechar o preço dos petiscos em 20 mangos: democratiza (se bem que, em alguns casos, pode até ser caro, como num caldinho de abóbora) mas limita os ingredientes: abundam as costelas (bovina e suína), rareiam o camarão e seus companheiros do mar.
Continuamos aqui valorizando a criatividade, sem invencionices ou gurmetizações excessivas. Por óbvio que onde começa o excesso é questão subjetiva. Se vou num boteco e o petisco é uma empadinha de queijo, ela pode estar deliciosa, perfeita, mas... vou dar a nota máxima por causa disso? Por outro lado, chamar aipim frito de "bastões de mandioca branca cozidos e fritos" não ajuda muito.
Mas não é para se levar a sério demais, é só um festival de comida de boteco, em sua vigésima edição. Neste ano nefasto de 2019 são 66 botecos concorrendo. Alguns clássicos, como o Davi na Chapéu Mangueira, saíram. Alguns clássicos, como o Momo, continuam, e há novatos também.
Acho que visitei menos do que nas edições anteriores, mas, para fazer jus aos vinte anos, fiquei cerca disso, tá bom.
Destaques:
Casa do Porto - um brownie de tutu etc
Folia do Boi - palitos (grossos) de lombo suíno empanados etc
Raízes - coração de frango no molho fumegante de cerveja
Adega Pérola |
Baixo Araguaia |
Bar da Portuguesa |
Bar do Gallo |
Irmandade |
Bodega do Sal |
Bom Goumet |
Casa do Porto |
Em Nome do Pai em nome do Filho |
Folia do Boi |
Ge |
Irmandade |
Momo |
Imortais |
Raízes |
Neném de Ramos |
Ruanita |
Santo Remédio |
Serpentina |
Thursday, May 09, 2019
Morrer talvez seja voltar para a poesia :: A Morte de Maria Behú
Qualquer leitor apaixonado do Rosa terá dificuldades em escolher qual a morte mais triste, mais tocante, mais inesquecível, se a de Diadorim, se a de Dito. O público em geral (sim, estou sendo um pouco esnobe, mas só um pouco) ficará com a de Diadorim, mais pela popularidade de Grande Sertão.
Eu não consigo escolher, porque dificulto tudo colocando na lista a de Maria Behú, no final (todas as mortes ocorrem no final) deste monumento que é a novela (romance?) "Buriti", que magistralmente encerra o ciclo do Corpo de Baile.
A de Diadorim nos dói porque a acompanhamos por toda a torrente do Grande Sertão, conduzidos justamente por quem mais a amou, Riobaldo. A do Dito nos dilacera (eu não posso nem lembrar, como o Miguel, seu irmão crescido, diz : "não posso demorar o pensamento nele. Tenho medo de sofrer") porque ele é uma criança, uma criança perfeitinha demais.
Com Maria Behú, "tisna, encorujada, com a feiíce de uma antiguidade", tudo é mais complicado, por não ser cativante, por parecer que só existe para ressaltar o esplendor de sua irmã Glorinha.
Mas não foi por compaixão que ontem chorei a água de dois cocos (re)lendo seu encantamento:
"Meu Deus, e aquilo se dera, atroz, tenramente, na noite, na calada. E era possível! Maria Behú, sem perfil, os olhos fechados, nos lábios nem sofrimento nem sorriso, e a morte a embelezara. Partira, na aurora. (...) Ela se fora antes. Todos, enquanto vivendo, estão se separando, para muitos diferentes lugares. Maria Behú, também princesa.
O Chefe ainda não soubera da morte de Maria Behú; quando disseram a ele, então foi depositar o caneco num degrau, e chorou muito.
Lalinha se lembrava -- uma ideia, que na ocasião não criara sentido. E, agora, era capaz de não chorar por Behú -- tanto a amava, tanto a compreendia, de repente. E aquilo, sem razão nenhuma nem causa, sim: -- Morrer talvez seja voltar para a poesia..."
Wednesday, May 08, 2019
Entre os Pankararu
Minha ida à Terra Indígena Pankararu coincidiu com o Acampamento Terra Livre, em Brasília, de modo que eu já sabia de antemão que não encontraria as lideranças, como a Bia Pankararu com quem vinha conversando.
Seria bom ter encontrado a Bia e outros, mas conheci o grande lindo espaço, verde cercado de serras, e só poderia ser assim, que Tacaratu, município onde se encontram as aldeias, quer dizer "serra de muitas cabeças".
Os Pankararu, como outros, são os indígenas silenciados dos livros que tratam do glorioso Ciclo do Gado: a galera querendo mais e mais espaço para as pastagens e enxotando, quando não escravizando ou francamente dizimando, a população nativa para as terras menos produtivas. Ali, onde hoje estão, foram como que encurralados os Pankararu, os Umaús, Vouvêa e Geiticó. É possível que essa união forçada tenha dado cabo da sua língua nativa. A única etnia indígena pernambucana que manteve o próprio idioma são os Fulni-ô, de Águas Belas, que falam o yatê.
Hoje são os Pankararu que habitam diversas aldeias na T.I, sendo a Brejo dos Padres a mais conhecida e a que visitei. Levou-me um índio, de moto, eu apavorado subindo e descendo na garupa as ladeiras íngremes de terra e barro.
Não conheci as lideranças, não pude assistir a um ritual (geralmente aos domingos), mas conheci Danielle e Maísa, conheci Euclides, velhinho, sozinho em sua casa. Conheci a loiceira Vilma Lisete e seu filho Douglas, vestibulando que quer cursar gastronomia em Salvador. Vi um índio muito sério pitando em seu kampiô. Vi uma Pankararu, muito menos séria, com igual kampiô. Conheci os meninos Jadson e Renan que brincavam de.... praiá! Um dos rituais dos Pankararu.
Voltei na garupa do mesmo paciente e cauteloso motociclista, já sem pavor, abri os braços, acenando para todos, piá.
Voltei a tempo de uma cerveja sob as mesmas árvores cheias pesadas de pardais que eu vira às 5 da manhã (aqui). E eles continuavam ali.
Sunday, May 05, 2019
A Bordo de um Fusca Táxi no Comida di Buteco
Se é pra ser essa parada de raiz, façamos condignamente: o percurso do Comida di Buteco num táxi fusca, num dos dois únicos últimos que restaram na cidade: ambos na Usina, primos, motoristas e fuscas.
Aquela piada de quantos elefantes cabem num fusca? Só presta se não for fusca táxi, porque este retira o banco da frente e bota cordinha pra gente puxar a porta.
Assim fomos eu, Rixa e Karla do Barbahtchê, na São Francisco Xavier, ao Grajaú, espremidos no banco traseiro do fusca do Marcos, que detesta trânsito e prefere não sair dos seus domínios, que é a Usina, aquela ladeirinha próxima ao mítico Bar das Rolas que ele sobe e desce vezes num dia. Marcos é quase um moto-táxi, mas é muito mais que isso: fusca.
Durante o percurso as pessoas tiram fotos: estou quase de volta à Índia, quase em Curitiba com a camisa do Lula Livre (aqui)
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