Monday, March 11, 2019

A gente nunca podia apreciar as coisas bonitas

Rio Tupana-AM

Verdade consabida, porém não menos extraordinária esta história de que a viagem continua, forte, após o regresso, quando então formamos dela mínimo entendimento. Não sei se sempre ou quase, desnecessário precisar.

Me vem à cabeça um trecho lindo de "Os Cimos", conto que encerra as assombrosas primeiras histórias do Rosa:

"Que a gente nunca podia apreciar, direito, mesmo, as coisas bonitas ou boas, que aconteciam. Às vezes, porque sobrevinham depressa e inesperadamente, a gente nem estando arrumado. Ou esperadas, e então não tinham gosto de tão boas, eram só um arremedado grosseiro. Ou porque as outras coisas, as ruins, prosseguiam também, de lado e do outro, não deixando limpo lugar. Ou porque faltavam ainda outras coisas, acontecidas em diferentes ocasiões, mas que careciam de formar junto com aquelas, para o completo. Ou porque, mesmo enquanto estavam acontecendo, a gente sabia que elas já estavam caminhando, para se acabar, roídas pelas horas, desmanchadas..."



(E a legenda para a foto retiro-a de um soneto do Afonso Félix  de Sousa:
"Ela ia macambúzia e lenta como um cágado.
A cada flor ou lua ela se dava inteira.")

1 comment:

Unknown said...

Que lindo! E não é mesmo? É assim ao menos com as boas, aquelas em que a gente vive cada experiência.