Na manhã de segunda-feira Camila e eu conversamos sobre Vinícius de Moraes, suas fases, faces, frases, o epíteto 'poetinha' carinhoso e pejorativo, o fato de eu ter tido nas mãos, num sebo em Fortaleza em janeiro de 1992, a primeira edição de seu primeiro livro e não ter comprado. Nada demais, mas foi, pelo que lembre, a vez primeira em que falamos dele por sobre nossos nescafés com leite.
Pois.
Aí, à noite, no lançamento do Pedro Tostes, conheço Daniel Gil, que publicara, no primeiro semestre deste ano, A Poesia Esparsa de Vinícius de Moraes: Uma Leitura de Inéditos e (Des)conhecidos. Eu já tinha ouvido falar neste lançamento, mas não atentara para o autor.
Claro que foi serendipity. Das grossas.
Ainda mais porque o último poema do livro é um "Soneto ao Caju" e foi sobre caju a primeira serendipity do blog (
aqui).
Outra: pensando nesta postagem, perguntava-me, com alguns fumos, se seria esta a primeira vez que o soneto iria para a rede. Fui checar. Não é a primeira vez, já teve publicação, inclusive num blog que traz por epígrafe a frase de Einstein sobre o 'silêncio dos bons'. Frase que me viera à mente há pouco quando pensei nas manifestações de logo mais na Cinelândia.
Claro que foi serendipity. Para todos os efeitos, consulte-se "A Escova e a Dúvida", um dos prefácios de Tutaméia.
Amo na vida as coisas que têm sumo
E oferecem matéria onde pegar
Amo a noite, amo a música, amo o mar
Amo a mulher, amo o álcool e amo o fumo.
Por isso amo o caju, em que resumo
Esse materialismo elementar
Fruto de cica, fruto de manchar
Sempre mordaz, constantemente a prumo.
Amo vê-lo agarrado ao cajueiro
À beira-mar, a copular com o galho
A castanha brutal como que tesa:
O único fruto – não fruta – brasileiro
Que possui consistência de caralho
E carrega um culhão na natureza.