Monday, January 15, 2018

Acreditei no amor, este monjolo

O monjolo da infância mais sedenta

Um dos livros que mais li na vida foi escrito, em sua maior parte, de novembro de 1978 a junho de 1979, em Porto Alegre. Nos final dos 80 vieram outros sonetos e o livro enfim se fechou, em 1989, com 79 deles. Era para se chamar Roda do Dia (Monjolo), sendo 'monjolo' um "engenho tosco, movido a água, usado para pilar milho e, primitivamente, para descascar café". É o próprio Carlos Nejar quem explica "E esse ato de moer, pilar, descascar, triturar não seria o que Shakespeare denominou 'a guerra do tempo'?

Pena que depois, sabe-se lá o motivo, o livro veio a se chamar Amar, a mais alta constelação, talvez mais apropriado para sonetos do Paulo Bomfim ou J. G. de Araújo Jorge.

Uma pena. Eu amo monjolos.

MONJOLO


Acreditei no amor, este monjolo
esta sequência pertinaz, isenta
que foi história e coma na cinzenta
trituração. No amor não há consolo

a quem ama. Constringe o espesso joio
para cevar o evento que rebenta
do próprio ocaso e deste amor de rojo.
O monjolo da infância mais sedenta

que a maleita maleva. Tenho sede.
O monjolo do corpo noutro, dentro;
monjolo da paixão e das calendas.

Monjolo, Deus. Monjolo, onde me esqueço.
Fração nenhuma apraz esta moenda.
Fração alguma. Amor na morte aumenta.

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Este o monjolo do restaurante Roda D'Água, em Duas Barras. O bolinho de bacalhau e a truta estavam bons e eu voltaria mesmo não estivessem.

O monjolo do corpo noutro

Monjolo das calendas

Monjolo, onde me esqueço

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