Acredito que a Rua Major Ávila tenha a sua importância na Tijuca, mas hoje é, como tantas outras, um tanto quanto anódina. Uma pena. RUA MAJOR ÁVILA é o nome do segundo capítulo do Chão de Ferro, do Pedro Nava, e só isso (eu e meus exageros) já basta para colocá-la no rol dos logradouros mais importantes desta urbe.
Foi nesta rua em que Nava morou em 1918 com seus tios Ennes de Souza. Deixo-o falar:
Desde que chegara ao Rio tinha frequentado semanalmente sua residência acolhedora e hospitaleira. (...) Mas isso era visitar. Agora ia conviver, morar com essa gente fabulosa e só por essa razão e nesse 1918 começo a tratar de fatos a que assisti e de que participei, desde que chegar ao Rio. Os Ennes moravam à Rua Major Ávila, 16, em frente à Igreja de Santo Afonso. Em pleno coração do Engenho Velho. Dum lado dava-se na Praça Saens Peña e do outro na Rua Barão de Mesquita que mergulhava nas imensidades cariocas de São Francisco Xavier a Uruguai, até além, no nascente Grajaú. A moradia dos meus parentes era de porão habitável e fazia parede-meia com a do seu lado esquerdo. Eu adorava o bairro, com a praça provinciana, sempre deserta e seus dois cinemas. O modesto Tijuca e o grandioso América. (...) A casa dos Ennes era pintada dum róseo vivo e só me lembro dela como brasa dentro do dia claro ou recoberta de cinza, dentro da noite azul e violeta da Tijuca.
Suspiro.
Ali o adolescente Nava assistia à passagem, pela calçada da Santo Afonso, do poeta Emílio de Menezes ("já não o Emílio das cervejadas, dos trocadilhos, das quadrinhas").
Saudade.
Da casa não há o menor vestígio, como tampouco a que morou na Aristides Lobo (
aqui). Em frente à Igreja de Santo Afonso (esta continua de pé, durinha, com seus excepcionais pisos de mosaicos registrados
aqui), alguns prédios sem graça. Aliás o modesto Tijuca e o grandioso América transformaram-se em drogaria e em Igreja Universal. Mais do que uma pena, uma tragédia.
Para todos os efeitos, a Rua Major Ávila está literalmente eternizada pelo nosso maior memorialista. Dentro da noite azul e violeta da Tijuca, em pleno coração do Engenho Velho.
E se serve de consolo, ali resiste o restaurante Fernando's, sem self-service, sem comida a quilo, mas com sua feijoada de polvo e arroz de pato. Segundo Camila, o melhor arroz de pato da cidade, incluindo o do Adegão.