Thursday, October 29, 2015

Damien Rice no Vivo Rio



Uma das características de algumas canções desse notável singer-songwriter Damien Rice é certo princípio de aceleração, de acumulação, tal como encontramos, por exemplo, nas peças de Ionesco (pense As Cadeiras ou A Cantora Careca). Do primeiro disco, podemos citar "I remember", enquanto que do segundo os exemplos são mais numerosos (também certa intensificação aqui, do primeiro para o segundo trabalho) : "Elephant", "Rootless Tree", a linda "Gray Room", a angustiada "Me, My Yoke and I".

Bem.

Dito isto, não é difícil imaginar que essas músicas sofreriam grande perda de sua carga de intensidade se tivessem que amoldar-se ao fomato de pocket show, que foi, parece, o escolhido para as apresentações de Damien por aqui. Dito isto e feito isto, dito e feito. Nada contra o formato, acho mesmo que ele pode fazer uma apresentação fantástica só acompanahdo de violão, voz e banquinho, formato já proposto há mais de cinquenta anos por Dylan, que para calibrar o minimalismo, apresentava-se nu. (Uma apresentação de Damien Rice nu no Vivo Rio de sábado passado não passaria da segunda música.) Lo que pasa es que, querendo manter a aceleração das músicas (das que citei, ele só não tocou a "Yoke"), ele recorreu a um arsenal de pedais e playbacks num resultado de todo insatisfatório. Para mim. Não gosto dessa história de playback. Não gosto de ouvir em um show uma guitarra que, hélas!, não está ali! É como ir a uma ópera sem orquestra, com "música de caixa", como diz a minha tia. Andrew Bird também recorre a pedais, mas não assim para que se ouçam instrumentos que não estão no palco.

Acredito que a determinação deste formato foi menos estética que operacional, isto é, econômica. Evitando cair no estereótipo do irlandês stingy, pô, nem que ele contratasse alguns músicos locais. Porque se, afinal, no maior improviso, ele até fez subir ao palco um cara para cantar com ele, imagina uma banda e uns ensaios.

Tirando isso, adorei o show. As músicas eu já as amava, há alguns anos. Muito bom ouvi-las pela voz que as concebeu, numa afinação e numa performance impecáveis.





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