Imaginem uma jovem chilena de seus vinte e poucos querendo publicar livro de poemas eróticos em 1972. Cem poemas eróticos (sem canção desesperada) a serem publicados pela editora da Universidade Católica de Valparaíso. Embora haja quem goste, quem a encoraje, o reitor bate o martelo "Sobre meu cadáver" e, além de queda, coice, depois de 1972 vem 1973, com ele um dos mais sangrentos golpes militares do Cone Sul.
Sob o gorila Pinochet, o "homem que endireitou o Chile", segundo muitos brasileiros, seus originais são todos... lançados ao mar. Simples assim.
El Zen Surado vem à luz mais de 40 anos depois. Cecilia Vicuña o dedica às estudantes "que marcham vestidas ou nuas pela justiça".
Acho isso atualíssimo aqui para nós.
E erotismo, por supuesto, sempre atual também.
Abaixo tento uma tradução.
POEMA PURITANO
Adoro meu sexo
Entre o teu sexo e o meu
não sei qual escolho.
É que o teu
é tão divertido
e o meu tão belo.
Mas o que deve
ser ressaltado
é como o teu
cabe no meu
sendo ele tão grande
e brilhante.
Os sexos são
eles mesmos
perfumados.
Morrer com a mão no sexo.
Não de mãos dadas
ainda que disso possa cuidar
a outra mão.
POEMA PURITANO
Me encanta mi sexo
Entre tu sexo y el mío
no sé cuál elegir.
Es que el tuyo
es tan divertido
y el mío tan bonito.
Pero lo que hay
que subrayar
es cómo cabe el tuyo
dentro del mío
siendo tan grande
y de color brillante.
Los sexos son
en sí mismos
perfumados.
Morir con la mano en el sexo.
No con la mano en la mano,
aunque de eso puede encargarse
la otra mano.