Wednesday, November 05, 2014

São árvores imensas que amo



Meu amigo Maurício morou na rua e diz serem figueiras-da-Índia. Eu sei bem o que é uma figueira (aqui), sei alguma coisa de Índia, de modo que discordo.

São árvores imensas que amo, sempre amei, mesmo bem antes de morar aqui. Inventei mesmo que em sonho pedia a Messiaen que transformasse em música o canto dos sabiás que nelas moram (aqui).

Pergunto à moradora de quintal pelo seu nome (da árvore), eu temporariamente esquecido de que aqui sabemos nomes de atores e atrizes de novela e de jogadores de futebol mas não de árvores ou pássaros.

Ela desconhece o nome, mas aproveita para muito reclamar da grande moça, da sujeira que fazem. Falo da sombra e do frescor, ao que ela dá poucos ouvidos e lembro-me então de que no país São Paulo já houve quem reclamasse veementemente de sabiás que se faziam ouvir às 4:30 da manhã.


Moro no quinto andar, de minha exígua varanda descanso os olhos em suas generosas copas, refúgio e morada e tugúrio de sabiás, bem-te-vis, papagaios, maritacas, rolinhas fogo-apagou e um e outro casal esvoaçante de Chagall. Isso em espaço urbano.

Será esta metáfora da divisão de classes? A senhora ao rés-do-chão limpando a belíssima caganeira que fazem folhas e flores e frutos e pássaros e morcegos. Eu no meu quinto andar deliciando-me com o sumo de um oásis na cidade cinza. Estou a ponto de perder meu domingo, justo agora que eu ia sentar pelado ao computador e escrever no blog no ar condicionado tomando cerveja.

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