Sunday, October 31, 2010

Minha vida inteira

Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.
Drummond
Antes de o Dante nascer
Ana e eu tudo sabíamos de crianças e sua criação.
E assim andávamos pela praia impositivos:
"Lugar de criança é no quarto dela!", "Criança tem que conhecer os seus limites!"

Hoje, ante Dante,
o escritório é repleto de brinquedos, bola gigante, livrinhos
meus livros roçam ombros com Tashas, Tyrones e trenzinhos
minha sala é estacionamento de carrinhos.

E a poesia deste momento
inunda a minha vida inteira.

Wednesday, October 27, 2010

Um Menino Vestido de Sol

Embora já tenha feito duas exposições -- "Por Dentro e Por Fora Menino", na PUC, em 1994, e "Passagen para Goa", na Galeria do Espaço Cultural do Ingá, em 2007 --, sou um fotógrafo amador, e bota amador nisso. Assim, quando me pedem dicas técnicas no metier, só tenho uma para dar: Flash? evite. Sempre. A menos que você tenha que retratar aquele gato preto no quarto escuro (que nem está lá), evite.

Daí esta pequena série. A luz vem de fora e a luz vem de dentro.

Quanta luz.





Sunday, October 24, 2010

Prazer a 59,3%



Termino neste momento minha garrafa de Caol Ila Cask Strength, com 59,3% de graduação alcoolica. É pena, pois este whisky de Islay, comprado no freeshop de Copenhague, vai deixar saudadades.

Se em poema publicado aqui no bloguinho, descrevi whisky como o pôr-do-sol no copo, este aqui foge inteiramente a isso, de vez que sua apresentação é pálida, côr de palha.

Se no primeiro post deste ano degustei um outro cask strenght, o Aberlour Abduna'h, este aqui também foge a isso, de vez que, a despeito de seu altíssimo teor, queima menos.

Mas estão aqui a turfa, a fumaça, o sal de Islay. E um frescor inacreditável.

Cask strenght é denominação dada ao whisky tirado "direto do barril", sem que água alguma tenha sido adicionada a ele. Esta adição de água, neste estágio, não representa um batismo, uma falsificação, muito pelo contrário, tanto que a praxe é adição de água, de modo a trazer sabores e aromaa à tona e a baixar o teor alcoolico para mais ou menos 40%, que é a média do whisky. Em alguns casos, no entanto, com o intuito de oferecer um produto diferente, as destilarias vão a alguns barris jovens (menos de 12 anos) e engarrafam direto. Daí o maior teor alcoolico e, por extensão, a grande variedade de sabores possível, pois um barril nunca será exatamente igual ao outro, ainda mais se estamos a falar de single malts Islay.

Tuesday, October 12, 2010

Um Pisco para Llosa


Antes da Internet, era comum eu ficar ansioso na manhã seguinte a um jogo do Vasco para chegar na banca e descobrir o placar final. Pois foi com alegria semelhante (que, err, os resultados dos jogos nem sempre traziam), que descobri nas manchetes que o Nobel de Literatura fora dado ao Mario Vargas Llosa, peruano de Arequipa. Não que seja necessária a chancela de um prêmio para ratificar nossos gostos, mas um prêmio como este, já ganho por tanta gente boa (ao contrário do desprezível Oscar), é, perdoai o clichê, o reconhecimento de uma obra genial, abundante, consistente.

Eu e meu pai, ledores e reledores de Llosa, quedamo-nos contentíssimos. Para comemorar, fiz aqui em casa um pisco sour (lembrem-se de que o pisco é a bebida típica peruana), que tomamos em homenagem não apenas ao Mario Vargas Llosa, mas também (e principalmente?) à Tia Júlia e ao Varguitas, ao Poeta, ao Escravo, ao Jaguar, ao serrano Cava, ao metódico Rigoberto, ao diabólico Fonchito e à seduzida madrasta, ao Ricardo e à Lily, a menina má, e ao Pedro Camacho.

Personagens mais vivos que muitos dos zumbis com que cruzo diariamente.

PISCO SOUR:

Ingredientes:
200 ml de pisco
200 ml de suco de limão
200 ml de açúcar
Clara de 1 ovo
Bastante gelo

O modo de fazer é que é dificílimo:
Bate tudo no liquidificador.
Beba.

10 do 10 de 2010




De maneira que, quando o detetive me perguntar onde eu me encontrava às 10 horas do dia 10 do 10 de 2010, direi: "Esta é fácil, Sherlock, no show do Rush!".

Uma das dívidas que eu tinha para comigo, sabem? O Rush esteve aqui em 2002 e eu desdenhei. Passei de carro na frente do Maracanã e desdenhei. Depois foi o arrependimento. O show foi tão bom que decidiram transformá-lo em DVD. Pela primeira vez, palavras de Geddy Lee, o público cantou junto a música "YYZ". Detalhe: uma música instrumental. Cantar uma música instrumental! Se Joe Cocker inventou o air guitar, os cariocas inventamos letra onde só havia sons. Não é pra ser ufanista, mas tem que ser. E me incluo na silepse de pura carona: como assim "os cariocas inventamos", se eu não estava lá? Arrependimento que, para ser dos bons, é secreto, calado, recalcado, sumo que se espreme para se armar em coágulo.

Mas, bons meninos que são, o Rush volta ao Rio, oito anos depois. E, tickets for fun à parte, essa nojeira e roubalheira de venda de ingressos, consigo ir em cima da hora, comprando ingressos na surdina, na escuridão da Praça da Bandeira, e vou com o amigo velho Renato, que estivera no show de 2002.

Três horas de show. Espíritos flutuaram alto pelo céu plúmbeo e baixo da Apoteose.

O show abriu com "The Spirit of the Radio", coincidentemente a primeira música do Rush que ouvi na vida. Era segundo semestre de 1981, estava eu na sétima série. Meu irmão e eu juntamos umas sacolas de discos de novela e discoteca e fomos para as lojas de disco do centro tentar trocar. Conseguimos! Na base de 15 por um. Deixamos lá 45 elepês e saímos leves com outros 3, um do mano, o outro escolha em comum e o terceiro escolha minha, o Permanent Waves do Rush. Não que eu já conhecesse banda, conheci ali na hora, na loja, atraído pela capa em P&B em que o vento levanta o vestido de uma bela moça e um rapaz acena ao fundo. Tudo muito "arty", talvez arty demais para um fedelho de 13 anos. Mas foi isso e aquele som "moderno", que me pegou pelo laço e fez do Rush, pelos próximos dois anos, uma de minhas bandas favoritas. (Motivo de rusgas com o André, que, talvez fiel ao fato de não ter escolhido este disco na troca-troca, sempre sacaneou a voz do Geddy Lee, para minha raiva.)

Não sou um grande entendido em Rush. Parei no Moving Pictures. Lembro-me que mesmo em 83, 84, eu já estava chateado com os rumos que o trio canadense tomava. Hoje vejo que eles sempre buscaram ser fiéis a si mesmos, o que talvez explique essa invejável longevidade (MPB 4 que se cuide).

Mas nesta noite do 10 do 10 de 2010 o que valeu é que estavam lá "The Spirit of the Radio", "Freewill", "Tom Sawyer", "Red Barchetta", "Working Man", "La Villa Strangiato", "Closer to the Heart".

E, claro, "YYZ".

Que cantei a plenos pulmões.

Saturday, October 09, 2010

Botequim Colarinho / Botto Bier

Aquela história de sempre: entrar no boteco e gritar: 'Dá um chope!' Mas quando a casa é de qualidade, quando o espaço antena-se com as tendências atuais, quando, enfim, o boteco se chama "Colarinho" e está ali pertinho da área cinéfila de Botafogo (mais precisamente, na nova rua Nelson Mandela), 'dá um chope!' é dizer pouco ou nada, já que a casa tem cinco ou seis chopes diferentes.

Sentiram? Está na moda abrir botequim com ampla carta de cervejas ou ou velhos ampliarem as suas, mas a cerveja draft, a caña, o pão líquido mesmo, é difícil encontrar em variedade. Pois aqui tem. Para além do Inbev de praxe (Brahma), tem o Red da Baden Baden, a Rauch da Bamberg e... o Bottobier, o München Hell do Botto, o meu querido mestre cervejeiro Leonardo Botto. Percebam: ele faz cerveja em casa, e o chope dele está disponível neste novo botequim. Quando o papo é cerveja, é ou não é uma fase muy alvissareira esta que vivemos nesta muy leal cidade?

Helles é um tipo de cerveja pilsen (lager, portanto), com mais malte e, às vezes, menos lúpulo. O chope do Botto é sensacional! Poder tomar uma rauchbier de torneirinha sem estar na Alemanha (Bamberg) é também do outro mundo.

Saturday, October 02, 2010

Bier Über Alles ou As Coisas Boas da Vida

Este texto, senhores, é meramente ilustrativo.
Esta foto, meus caros, é puramente textual.
Este post, prezados, é tão-somente pra sorrir.