Faz algum tempo que não posto nada sobre rock progressivo, então vamos lá, aproveitando um textinho que escrevi para uma comunidade do orkut.
É um assunto trivial, desses que se conversam em qualquer esquina, outro dia mesmo um taxista puxou papo a respeito. Trata-se da cena progressiva basca dos anos 70.
Possuo uma modestíssima coleção de rock progressivo basco dos anos 70. São 11 CDs, a ver:
ERROBI – Homônimo (1975)
ERROBI – Ametsaren Bidea (1979)
ERROBI – Bizi Bizian (1979)
HAIZEA – Homônimo (1975)
HAIZEA – Hontz Gaua (1976)
ITOIZ – Homônimo (1978)
ITOIZ – Ezekiel (1980)
ITZIAR – Homônimo (1979)
IZUKAITZ – Otsoa Dantzan (1978)
LISKER – Homônimo (1979)
MAGADALENA – Lanean Sartzen (1981)
Embora faltem muitos trabalhos, dá para dizer que minha coleção é razoavelmente representativa. Assim, o que primeiro chama a atenção é o fato de esta cena progressiva concentrar-se na segunda metade dos anos 70, quando o rock progressivo já agonizava mundo afora, atropelado que fora pela disco, pelo punk e por sua própria grandiloquência. O lance aqui é político. Como a odiosa ditadura franquista cai em 78, regiões como Galícia, Catalunha e Euskadi (País Basco), que tanto sofriam, puderam viver liberdades até então inimagináveis.
Assim, na minha opinião, este desejo de expressão nacionalista das bandas progressivas bascas constitui seu ponto forte, mas também o seu calo. Se, por um lado, é louvável que elas cantem em seu idioma (todas o fazem, o Magdalena abre algumas exceções para o castelhano), que lancem mão de músicas tradicionais, bem como de instrumentos locais (como as bandas do flamenco-prog fizeram), por outro lado, parece-me que, no que diz respeito ao rock progressivo, poucas bandas efetivamente lograram um equilíbrio feliz entre a música folk local e o rock progressivo.
Assim, para os fãs de bandas como Trees, Fairport Convention, Pentangle, Springuns e Tudor Lodge, quase todas as bandas bascas merecem uma conferida. Embora eu goste de todas as bandas citadas, minhas sugestões seguem uma outra linha.
TOP 4 DO PROG BASCO:
ERROBI – Ametsaren Bidea (1978)
ITOIZ – Homônimo (1979)
ITOIZ – Ezekiel (1980)
LISKER – Homônimo (1979)
O LISKER é a menos nacionalista das bandas. Embora cantem em euskera, seu som, um hard-prog com muita flauta (e sem teclados!), é, digamos, “cosmopolita”. Ótimo trabalho.
O ITOIZ tem em seus dois primeiros discos duas pedras seminais da cena euskadi. Os vocais são belíssimos e algumas canções, como “Lau Teilatu” e “Hilzori II” lembram-me muito o prog italiano, de bandas como Reali Accademia di Musica. Difícil para mim pensar em elogio maior. “Ezekiel” tem mais elementos jazz, mas o equilíbrio de que falei acima está presente.
Depois de alguns trabalhos quase exclusivamente folk, nacionalistas mesmo (o ao vivo parece ter sido gravado num comício do ETA), o ERROBI acerta em cheio com o “Ametsaren Bidea”: um disco maravilhoso, que transita pelo folk (sempre), sinfônico e jazz. As harmonias vocais do refrão da música que dá nome ao disco é um dos pontos altos: “Hire ametsak / Ez dituk mentsak / Bizi ahal dituk / Ta bizi Behar...”, ou seja, “Não são vãos os teus sonhos...”. Proféticas palavras? A Espanha se recuperaria ligeiro dos anos de chumbo franquistas. Já o País Basco sonha ainda com o dia de sua liberdade. Não serão sonhos vãos. Hire ametsak...
Detalhe: meus CDs do Errobi, do Itoiz, do Lisker não estão misturados aos do BLOQUE, TRIANA, EDUARDO BORT, CRACK e outros... España es una cosa, País Basco es otra muy distinta...